Foto: Reprodução / LinkedIn
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A decisão da Visa de iniciar a liquidação de transações em stablecoins nos Estados Unidos marca um movimento que vai além de um simples avanço tecnológico. Ao permitir que emissores e adquirentes americanos liquidem operações em USDC, a maior rede de cartões do mundo dá mais um passo na transformação da infraestrutura financeira global, uma mudança silenciosa, mas profunda, no coração dos pagamentos.

A iniciativa, que começou com Cross River Bank e Lead Bank e deve ganhar escala até 2026, reforça uma estratégia que a Visa vem construindo há anos: tornar a liquidação financeira mais rápida, programável e resiliente, sem abrir mão dos padrões regulatórios e operacionais exigidos pelo sistema bancário tradicional.

Mais do que velocidade, o movimento responde a um problema estrutural da indústria. Processos de liquidação ainda dependem fortemente de janelas bancárias, sistemas legados e fluxos que não operam de forma contínua. Ao incorporar stablecoins como o USDC, a Visa passa a oferecer liquidação quase instantânea, disponibilidade sete dias por semana e maior previsibilidade de caixa para instituições financeiras, inclusive em fins de semana e feriados.

Aposta da Visa

A aposta da Visa não é isolada. O volume mensal de liquidações em stablecoins da companhia já ultrapassa US$ 3,5 bilhões em base anualizada, apoiado por projetos-piloto ativos na Europa, Ásia-Pacífico e na região que inclui Oriente Médio e África. O que muda agora é o amadurecimento do modelo no mercado americano, tradicionalmente mais cauteloso em relação a ativos digitais.

Para bancos parceiros, o ganho vai além da eficiência operacional. A liquidação em stablecoins permite uma integração mais direta com estratégias de tesouraria, reduz dependência de intermediários e abre espaço para novos modelos de gestão de liquidez. É um sinal claro de que stablecoins estão deixando de ser apenas um instrumento de criptoeconomia para assumir um papel funcional na engrenagem financeira global.

O que está em jogo para o mercado

Ao tratar stablecoins como infraestrutura de liquidação e não como produto especulativo, a Visa reforça uma leitura que começa a ganhar consenso entre grandes players: o futuro dos pagamentos será multimoeda, multichain e cada vez mais integrado a sistemas tradicionais.

A empresa já indicou que pretende expandir o suporte para outras stablecoins e blockchains, além de conectar essa camada de liquidação à sua rede global de pagamentos, incluindo o Visa Direct. Na prática, isso aproxima o mundo dos cartões, dos pagamentos internacionais e dos ativos digitais em uma mesma arquitetura.

Para o mercado, o recado é claro. A discussão sobre stablecoins deixou de ser “se” elas terão espaço no sistema financeiro tradicional. A questão agora é como e em que velocidade grandes instituições vão incorporá-las às suas operações centrais.

A movimentação da Visa mostra que essa transição já começou, e que o futuro da liquidação financeira pode estar menos nos sistemas do século passado e mais em infraestruturas programáveis, globais e sempre ativas.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.