Alerta

Caixas de Bitcoin: inclusão ou armadilha financeira?

Instalados em comunidades negras, latinas e de baixa renda, os caixas de bitcoin levantam alerta sobre riscos e abusos no uso da tecnologia

Caixas de bitcoin
Foto: Reprodução / Facebook

A proliferação dos caixas de bitcoin em bairros negros, latinos e de baixa renda nos Estados Unidos levanta uma questão incômoda: estamos diante de um avanço de inclusão financeira ou de uma nova forma de exclusão digital disfarçada de inovação?

Mais de 80% dos caixas eletrônicos de bitcoin do mundo estão em solo americano. E, como apontou um artigo de opinião no Financial Times, a distribuição dessas máquinas não é aleatória: elas se concentram em comunidades historicamente vulneráveis, o mesmo padrão seguido por serviços como cheque especial e crédito consignado.

A face oculta dos caixas de bitcoin

A justificativa oficial das operadoras é que não há segmentação racial ou socioeconômica. Mas a realidade no território revela outro enredo. As máquinas, em sua maioria, funcionam de forma unidirecional — permitem apenas a compra de bitcoin com dinheiro vivo, sem a possibilidade de conversão reversa. Isso significa que o usuário fica preso a um ativo volátil, sem liquidez imediata e sem garantias mínimas de proteção.

Além disso, os dados são alarmantes: o FBI reportou quase 11 mil reclamações envolvendo caixas de bitcoin em 2024, alta de 99% em relação ao ano anterior. As perdas com fraudes ligadas a criptomoedas chegaram a US$ 9,3 bilhões no mesmo período — um salto de 66%. Golpes de investimento, extorsão e sextorsão lideram as denúncias.

Mesmo com o crescimento desses números, as recentes legislações sobre criptoativos ainda ignoram a necessidade de proteção ao consumidor nesse canal específico.

Caixas de bitcoin como alvo de regulação

Enquanto isso, autoridades começam a reagir. A Comissão Federal de Comércio dos EUA já classifica os caixas como “portais de golpe”, e países como a Nova Zelândia estudam proibir totalmente as máquinas.

A promessa de descentralização e liberdade financeira esbarra, mais uma vez, na velha lógica da precarização concentrada. O que era para ser uma porta de entrada para o futuro pode estar virando uma armadilha — e justamente para quem menos pode pagar por ela.

A distribuição desigual da tecnologia não é acidente — é reflexo. E, como toda infraestrutura, ela revela quem tem poder e quem só paga a conta.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.