
O Brasil tem condições de se tornar referência global em tokenização. A avaliação é de Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central e hoje chefe global de políticas públicas do Nubank, que participou do painel “The unstoppable future of finance” no DAC 2025, em São Paulo. Para ele, o país reúne arcabouço regulatório, infraestrutura de pagamentos e ecossistema de fintechs capazes de repetir, na tokenização de ativos, o protagonismo alcançado com o Pix e o Open Finance.
Campos Neto afirmou que o mercado de tokenização dobrou em um ano, com destaque para os chamados ativos do mundo real (RWA), que passaram de US$ 13 bilhões para US$ 30 bilhões. Na visão do executivo, a próxima fase do setor financeiro passa por levar instrumentos tradicionais — depósitos, crédito e serviços bancários — para registros em blockchain, com ganhos de rastreabilidade, liquidação mais rápida e custos previsíveis. Ele acrescentou que mudanças recentes nas regras americanas para ativos digitais tendem a reduzir incertezas e a atrair investidores institucionais, melhorando a percepção de segurança.
Tokenização como nova camada de infraestrutura
Para o ex-BC, a tokenização consolida o blockchain como fundação do sistema financeiro, e o DREX nasce com a proposta de mitigar a desintermediação bancária ao oferecer trilhos digitais para liquidação e programação de fluxos financeiros. O diagnóstico inclui um alerta competitivo: parte relevante das indústrias de pagamento tende a se comoditizar, pressionando margens e deslocando valor para quem controla distribuição, dados e infraestrutura regulada, segundo o “Revista Fator Brasil”.
O debate contou com a presença de Roberto Dagnoni, chairman do Mercado Bitcoin e CEO da 2TM, que resgatou a trajetória do mercado brasileiro na construção de padrões de mercado e governança. A leitura comum é que o país combina escala, adoção digital e diálogo regulatório para acelerar casos de uso: desde crédito privado tokenizado e recebíveis até lastros mais líquidos, com integração a plataformas de varejo e investimento.
Para os participantes, o desafio adiante é transformar o avanço conceitual em produção em escala, com interoperabilidade entre blockchains, custódia institucional, trilhas de auditoria e educação do investidor. Se entregar segurança e eficiência, o Brasil pode exportar modelo — como fez com o Pix — e consolidar-se como vitrine global da tokenização.