Ricardo Toledo, da Akropoli, Carlos Formigari e Elinton Bobrik, da Rock Encantech | Foto: Divulgação
Ricardo Toledo, da Akropoli, Carlos Formigari e Elinton Bobrik, da Rock Encantech | Foto: Divulgação

Uma fintech de Open Finance está no centro de um movimento que pode redesenhar a relação entre varejo, crédito e pagamentos no Brasil. A aquisição da Akropoli pela Rock Encantech, empresa de inteligência de varejo sediada em São Paulo, sinaliza que os dados financeiros, antes quase exclusivos de bancos e fintechs, começam a ganhar protagonismo direto no ponto de venda.

O valor da transação não foi divulgado, mas o impacto estratégico é evidente. A Akropoli é uma fintech regulamentada pelo Banco Central e especializada em infraestrutura e inteligência de Open Finance. Já a Rock Encantech opera um dos maiores ecossistemas de dados comportamentais do país, monitorando cerca de 130 milhões de consumidores e processando mais de 1,3 bilhão de transações por ano no varejo.

A combinação cria algo novo no mercado brasileiro: uma camada unificada que cruza comportamento de compra, localização, recorrência e dados financeiros autorizados pelo consumidor. Para o varejo, isso abre espaço para decisões mais sofisticadas sobre crédito, meios de pagamento, prevenção a fraudes e ofertas personalizadas baseadas na capacidade financeira real do cliente, não apenas no histórico de consumo.

Open Finance deixa de ser tema bancário

Durante anos, o Open Finance foi tratado como uma agenda quase exclusiva de bancos, fintechs e reguladores. Esse cenário começa a mudar à medida que o modelo atinge escala. O Brasil já soma 84 milhões de clientes ativos em Open Finance, criando massa crítica para aplicações fora do sistema financeiro tradicional.

A Akropoli cresce cerca de 86% ao mês em acesso a dados financeiros, ritmo quase dez vezes superior à média do mercado. Atualmente, a fintech processa mais de 12 milhões de transações mensais, oferecendo infraestrutura para que empresas utilizem dados financeiros de forma segura, consentida e integrada a seus fluxos operacionais.

Segundo Paulo Valadares, cofundador da Akropoli, o avanço do Open Finance permite uma leitura mais completa do consumidor. A lógica deixa de ser apenas “o que ele compra” e passa a incorporar “como ele paga” e “qual sua real condição financeira naquele momento”. Essa mudança é decisiva para destravar novos modelos de crédito no varejo, iniciação de pagamentos via Pix e ofertas mais eficientes.

Varejo entra no território financeiro

Para a Rock Encantech, a aquisição representa um passo além do CRM e da mídia de varejo. A empresa passa a operar também na fronteira entre dados, pagamentos e crédito, ajudando varejistas a estruturar serviços tradicionalmente oferecidos por instituições financeiras.

Carlos Formigari, CEO da Rock, afirma que a integração permite conectar informações financeiras aos dados de consumo e território, criando novas formas de apoiar o varejo na oferta de serviços financeiros. Na prática, isso inclui desde métodos de pagamento integrados a super apps até conciliação avançada e modelos de prevenção a fraudes baseados em dados combinados.

As primeiras entregas conjuntas estão previstas para o primeiro semestre de 2026, com projetos-piloto já em andamento.

Um novo campo de batalha

O maior desafio não é técnico, mas cultural e regulatório. Lidar com dados financeiros exige consentimento claro, governança rigorosa e propostas de valor transparentes para o consumidor. Além disso, o varejo passa a competir em um ambiente onde bancos têm décadas de experiência.

Ainda assim, o movimento é difícil de ignorar. Assim como o Pix rapidamente se consolidou no varejo brasileiro, o Open Finance começa a seguir o mesmo caminho. A entrada de uma fintech especializada nesse território pode acelerar uma transformação silenciosa: o varejo como novo hub de dados financeiros, crédito e pagamentos, segundo a “Exame”.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.