Klarna
Foto: Reprodução / LinkedIn

A Klarna deu mais um passo para reposicionar o e-commerce em um cenário cada vez mais orientado por inteligência artificial. A fintech anunciou o lançamento do Agentic Product Protocol, um padrão aberto que permite que produtos e preços sejam descobertos diretamente por agentes de IA, sem depender de anúncios pagos, marketplaces fechados ou intermediários tradicionais.

A proposta é simples, mas ambiciosa: criar uma camada de dados padronizada que permita que sistemas de IA “entendam” o que existe no mercado em tempo real. O protocolo oferece acesso estruturado a um feed com mais de 100 milhões de produtos e 400 milhões de preços, distribuídos em 12 mercados, com informações atualizadas de disponibilidade e valor.

Na prática, a Klarna está antecipando uma mudança estrutural no comércio digital. Em vez de consumidores navegarem por sites ou aplicativos, agentes de IA passam a buscar, comparar e recomendar produtos de forma autônoma, desde que consigam acessar dados confiáveis, padronizados e atualizados.

Klarna prepara varejo

O novo protocolo foi desenhado para ser interoperável. Comerciantes podem integrar seus catálogos por meio de ferramentas já amplamente utilizadas no mercado, como Google Merchant Center, Shopify, Catálogo do Facebook ou feeds em CSV e JSON. Ao adotar o padrão, os produtos passam a ser “legíveis” por qualquer agente ou plataforma de IA compatível.

Isso muda a lógica da visibilidade no e-commerce. Em vez de disputar atenção por meio de anúncios ou ranqueamento em marketplaces, os lojistas passam a competir pela qualidade e atualização dos dados que alimentam os agentes. A descoberta deixa de ser mediada por cliques e passa a acontecer dentro de conversas conduzidas por inteligência artificial.

Segundo David Sykes, diretor comercial da Klarna, o desafio central do comércio com IA não está no pagamento, mas na descoberta. “Antes que os agentes possam comprar, eles precisam saber o que existe. O protocolo define uma linguagem comum para a troca de dados de produtos entre sistemas de IA, comerciantes e plataformas”, afirmou, de acordo com o “Finextra“.

Uma nova camada para o comércio digital

O movimento da Klarna dialoga com a ascensão do chamado agentic commerce, no qual agentes de IA assumem tarefas como pesquisa de preços, comparação de ofertas e recomendação de produtos com base em preferências e contexto do usuário. Sem uma base padronizada de dados, esses agentes ficam limitados a informações fragmentadas ou desatualizadas.

Ao propor um padrão aberto, a fintech também sinaliza uma tentativa de reduzir a dependência do varejo em relação a ecossistemas fechados e modelos baseados em mídia paga. A descoberta passa a ser guiada por relevância, disponibilidade e preço real e não apenas por quem investe mais em anúncios.

Para os comerciantes, a iniciativa representa uma mudança estratégica: estar preparado para um cenário em que a decisão de compra pode ser mediada por um agente, e não diretamente pelo consumidor final. Para a Klarna, reforça sua ambição de ocupar um papel central na infraestrutura do comércio digital, indo além do checkout e do financiamento.

À medida que agentes de IA ganham espaço em buscadores, assistentes pessoais e plataformas de conversação, o protocolo da Klarna aponta para um futuro em que o varejo precisará ser, antes de tudo, compreensível por máquinas, ou corre o risco de simplesmente não ser encontrado.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.