Foto: Imagem criada por IA
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O embate entre Nubank e Febraban voltou a escalar nesta semana, depois que a federação divulgou uma série de questionamentos contundentes a declarações do CEO do banco digital. A Febraban afirma que os dados apresentados pelo Nubank sobre inclusão financeira e tributos são enviesados, e cobra clareza pública sobre juros, inadimplência e estrutura de crédito da fintech.

Em comunicado oficial, a Febraban apontou uma lista de perguntas para o fundador do Nubank: qual a taxa média de juros ao longo dos anos; como evoluiu a inadimplência; quantos clientes aumentaram dívida após obter o cartão; qual o peso da carteira de crédito da fintech em relação ao sistema financeiro; por que o crédito imobiliário, de veículos e agronegócio são praticamente inexistentes. A crítica: abrir conta ou dar cartão não basta para justificar o rótulo de “inclusão financeira”.

A federação questiona também o perfil do portfólio de crédito do Nubank, dominado por linhas consideradas “caras” (cartão de crédito e crédito pessoal não consignado), além de valores altos de juros e elevado índice de inadimplência, segundo dados que a entidade afirma constatar.

Nubank recua

Em resposta, o Nubank evitou prolongar o conflito. A fintech declarou que não pretende “ficar respondendo a ataques” e que seguirá focada em oferecer serviços aos seus mais de 110 milhões de clientes. A instituição reforça que os dados divulgados previamente refletem sua trajetória de crescimento, bancarização e pagamento de tributos.

No entanto, o silêncio sobre muitos dos pontos levantados por Febraban, juros médios, inadimplência consolidada, composição detalhada da carteira de crédito, deixa o terreno aberto para especulações. A ausência de dados públicos ampliados favorece tanto narrativas de impacto social quanto de alerta sobre riscos de dívida.

O que está em jogo

A disputa não é apenas de retórica, toca no cerne da regulação, da tributação e da competitividade no sistema bancário. Se as fintechs de fato operam com impostos, spreads e inadimplência mais altos, a vantagem de “inovação + inclusão” pode esconder um modelo de risco elevado e pouca proteção ao consumidor.

Por outro lado, se forem injustamente atacadas, bancos tradicionais podem usar o lobby para restringir a concorrência e barrar o avanço da bancarização digital.

Para o setor financeiro e reguladores, o desafio é exigir transparência sem sufocar a inovação; para o consumidor, é entender que “conta digital” não é sinônimo automático de “crédito barato”, e que inclusão financeira precisa vir com educação e segurança.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.