
A Databricks, uma das empresas mais bem posicionadas na interseção entre dados e inteligência artificial, entrou em um novo ciclo de expansão global, e o Brasil aparece como um dos mercados prioritários dessa estratégia. Embalada por uma rodada Série L de US$ 4 bilhões, que elevou sua avaliação para US$ 134 bilhões, a companhia reforça sua presença no país com crescimento acelerado, nova liderança local e investimentos em estrutura e talentos.
Desde que chegou ao Brasil, em 2020, a Databricks cresceu mais de 150% nos últimos dois anos. O ritmo chamou atenção da matriz e se traduziu, em 2025, na inauguração de um novo escritório na Faria Lima, três vezes maior que o anterior. A operação local deve fechar o ano com cerca de 200 funcionários e já trabalha com a expectativa de expandir o time entre 15% e 20% em 2026.
O comando dessa fase está nas mãos de Ricardo Buffon, que assumiu o posto de country manager em agosto. Com passagens por Oracle e Google, o executivo traz uma leitura clara do momento: a corrida da IA corporativa deixou de ser experimental e passou a exigir escala, governança e dados bem organizados. É exatamente nesse ponto que a Databricks quer se consolidar, segundo o “Startups“.
Estratégia da Databricks
A estratégia no Brasil passa por aprofundar a atuação em verticais específicas, como varejo, serviços financeiros, manufatura, telecomunicações, setor público e empresas nativas digitais. Na base de clientes já aparecem nomes como Bradesco, B3, Nubank, PicPay, iFood, Casas Bahia e Arezzo, empresas que lidam com grandes volumes de dados e buscam transformar essa complexidade em vantagem competitiva.
No varejo, por exemplo, a Databricks tem sido usada tanto para logística quanto para aplicações avançadas de IA voltadas à experiência do consumidor. Um dos casos envolve o uso de visão computacional e dados de estoque para permitir que vendedores encontrem produtos similares a partir de uma simples foto, considerando localização e prazo de entrega em tempo real.
Outro pilar da expansão é o fortalecimento do ecossistema de parceiros. A Databricks já trabalha com mais de 300 empresas de consultoria e integração no Brasil e na região. Esse movimento ganhou um sinal mais forte em 2025, quando a Databricks Ventures realizou seu primeiro investimento na América Latina, aportando na Indicium, integradora catarinense especializada em dados e analytics.
Globalmente, a empresa vive um momento de consolidação. A receita anualizada ultrapassou US$ 4,8 bilhões, com crescimento de 55% em um ano, e mais de US$ 1 bilhão já vem diretamente de produtos de IA. A companhia também acelerou apostas estratégicas, como o Lakebase, banco de dados voltado a agentes de IA, e firmou acordos relevantes com OpenAI e Anthropic para oferta de modelos dentro de sua plataforma.
Apesar do porte e da valorização, a Databricks não demonstra pressa em abrir capital. A leitura da liderança é que o mercado ainda favorece empresas privadas com caixa robusto, especialmente em um cenário de investimentos pesados em infraestrutura, modelos e talentos.
A empresa vê o Brasil não apenas como mercado consumidor de tecnologia, mas como um polo estratégico na transição das empresas para uma economia orientada por dados e inteligência artificial. Mais do que hype, a Databricks aposta que a próxima fase da IA será decidida dentro das organizações, e quer estar no centro dessa transformação.