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IA antecipa disfunções de mercado com 60 dias de folga

Ferramenta do BIS usa rede neural e sinais de arbitragem para prever estresse e explicar “o porquê” por trás do alerta

Foto: Reprodução
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Pesquisadores do Banco de Compensações Internacionais desenvolveram um modelo de IA capaz de prever disfunções de mercado com até 60 dias úteis de antecedência. A proposta combina aprendizado profundo sobre mais de cem indicadores diários com uma camada de explicabilidade que aponta, dia a dia, quais variáveis estão puxando o risco e conecta esses gatilhos ao noticiário relevante.

No coração do método está a paridade de arbitragem triangular entre euro, iene e dólar. Em mercados líquidos e sem fricção, diferenças entre cotações diretas e cruzadas tendem a desaparecer em segundos. Quando essas lacunas se abrem e persistem, o modelo interpreta como sinal de disfunção de mercado: liquidez rareando, custo de funding subindo ou operadores reduzindo risco. A rede neural recorrente aprende o comportamento típico desses “spreads” e estima a probabilidade de estresse à frente.

Como a IA prevê (e explica)

A ferramenta trabalha em duas etapas. Primeiro, uma RNN treina em cem+ séries de alta frequência para projetar a evolução média das lacunas de arbitragem. Depois, um módulo de explicabilidade ranqueia quais indicadores pesaram mais no sinal daquele dia por exemplo, volatilidade implícita, bases de futuros, swaps de basis, fluxos de dealers, spreads de crédito. A partir dessa lista, um modelo de linguagem busca contexto em notícias e relatórios recentes, produzindo uma narrativa objetiva do que pode estar por trás do alerta.

Em testes fora da amostra entre 2021 e 2024, o sistema identificou com antecedência episódios que depois se ligaram a eventos reais, incluindo as tensões bancárias de março de 2023. Mais que “acertar a crise”, o valor está no tempo de reação: semanas de pista para supervisores, tesourarias e gestores ajustarem colchões de liquidez, hedge e limites de risco, com uma trilha de evidências sobre o que observar.

A mensagem é pragmática: combinar um sinal precoce com explicabilidade operacional ajuda a priorizar vigilância e preparar respostas. Para o setor privado, abre espaço para playbooks de contingência condicionais, se o modelo acende para bases cambiais e spreads de crédito, por exemplo, pode disparar travas de funding, realocação de ativos e comunicação com clientes. A IA não elimina choques, mas oferece visibilidade antes que eles batam no preço.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.