
O mercado de fintechs B2C no Brasil pode estar prestes a ganhar fôlego com a adoção de inteligência artificial. A partir de experiências globais, startups e bancos digitais olham para a IA como ferramenta para destravar o que parecia saturado transformando contas e cartões em um ecossistema financeiro mais amplo, com crédito, investimentos e serviços personalizados.
A primeira onda de fintechs brasileiras, iniciada na década de 2010, democratizou o acesso bancário: milhões de pessoas entraram no sistema financeiro via apps, contas digitais e transações, rompendo o monopólio de grandes bancos.
Atualmente, com mercado B2C consolidado, o desafio é escalar para produtos mais sofisticados: crédito, financiamento imobiliário, investimentos, empréstimos, etc. A IA surge como motor possível dessa transição, segundo o “Startups“.
Com algoritmos de aprendizagem de máquina, análise de dados e automação, fintechs podem oferecer soluções personalizadas, como avaliar risco com base em múltiplas variáveis, traçar perfis de consumo, adaptar produtos ao perfil de cada usuário, e acelerar decisões de crédito ou investimento. Isso vai além de um app eficiente: define quem pode acessar quais serviços, com que custos e sob qual perfil de risco.
“O que a IA pode realmente destravar é um conhecimento mais profundo sobre a situação de cada pessoa. O problema com o sistema bancário tradicional é que eles colocam todas as pessoas em uma única caixa. Com IA você consegue olhar para uma série de dimensões e perceber que muito mais pessoas são confiáveis e deveriam ter acesso a crédito ou outros produtos mais complexos, por exemplo”, argumentou Conrad Wilkinson Schwartz, Chief AI Officer da fintech mexicana Baubap., durante conversa com a imprensa no AWS re:Invent 2025.
O que a IA traz de novo e o que precisa de cuidado
Entre os potenciais avanços, a IA pode reduzir barreiras históricas: tornar crédito acessível para quem tem pouco histórico bancário; permitir microcrédito, empréstimos de menor valor e produtos financeiros modulares; oferecer atendimento automatizado 24/7; e até facilitar inclusão de populações fora dos grandes centros. Na prática, um impacto social relevante: acesso real a crédito e serviços financeiros a quem antes estava fora do sistema.
Mas a transição exige cuidado. A adoção de IA em fintechs não depende apenas da tecnologia, mas de governança, maturidade operacional, política de privacidade e robustez regulatória. Estudos recentes apontam que riscos como vieses, decisões automatizadas injustas, falhas em avaliação de risco e modelos enviesados são desafios concretos.
Ou seja, a promessa de expansão existe, mas a entrega exige disciplina para evitar substituição de exclusão burocrática por exclusão algorítmica.
Por que 2026 pode ser o ano da reviravolta
Para especialistas ouvidos no evento re:Invent 2025, a tecnologia já tem maturidade: agentes de IA, modelos de risco alternativos, automação de atendimento, e capacidade de processar dados complexos em tempo real. Isso reduz custos operacionais e aumenta chance de lucro mesmo com margens menores, essencial para alcançar massa crítica e tornar o modelo viável.
Além disso, a crescente digitalização da população brasileira, com smartphone, internet, open banking, cria terreno fértil para fintechs que tragam IA para o dia a dia: desde crédito pessoal, microinvestimentos, até soluções de orçamento e seguros.
Se a combinação de tecnologia, escala e regulação favorável funcionar, o setor pode enfrentar uma nova onda B2C, desta vez com perfil mais maduro, diversificado e inclusivo.
Desafios internos e externos
O uso de IA no setor financeiro não é simples. Segundo relatório recente, os principais entraves são: incerteza regulatória, risco de vieses e falhas nos modelos, falta de governança robusta e vulnerabilidades à fraude e segurança de dados. Para fintechs menores, o investimento e a estrutura necessárias podem ser barreiras intransponíveis.
Além disso, adaptar modelos globais de IA a realidades locais, com diversidade social, de renda, linguística e económica, exige cuidado. Diferentes perfis de renda, informalidade, histórico de crédito limitado e desigualdades estruturais no Brasil exigem soluções customizadas, não cópias de modelos dos EUA ou Europa.