Foto: Divulgação
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A discussão sobre inteligência artificial no comércio digital está mudando de patamar. Depois de anos focada em recomendações, buscas e automação de atendimento, a próxima fronteira passa a ser quem paga, como paga e sob quais limites quando um agente de IA executa uma tarefa em nome do usuário. É nesse contexto que a OnePay anunciou sua entrada no Agent Payments Protocol (AP2), iniciativa do Google voltada a padronizar pagamentos realizados por agentes autônomos.

O movimento pode parecer técnico, mas aponta para uma transformação estrutural: se agentes de IA vão pesquisar, comparar, reservar, contratar e comprar sozinhos, o sistema financeiro precisa oferecer uma infraestrutura que preserve segurança, consentimento e rastreabilidade, algo que os modelos tradicionais de checkout não foram desenhados para suportar.

A proposta do AP2 é justamente criar um protocolo comum para que agentes de IA realizem pagamentos de forma controlada, transparente e alinhada à intenção humana. A OnePay entra nesse ecossistema como provedora de credenciais, ajudando a definir como métodos de pagamento são armazenados, selecionados e utilizados por esses agentes.

OnePay atuará em pontos críticos

A principal mudança trazida pelo modelo agêntico não está na tecnologia de pagamento em si, mas na lógica de autorização. Diferentemente de um humano clicando em “pagar”, um agente de IA pode executar múltiplas transações em sequência, em diferentes contextos, com base em regras pré-estabelecidas.

Dentro do AP2, a OnePay passa a atuar em pontos críticos dessa arquitetura. Um deles é a autorização explícita do usuário, com suporte a restrições como limites de gastos, regras por tipo de comerciante e controles de reutilização de credenciais. Em vez de uma autorização genérica, o pagamento passa a obedecer parâmetros claros e auditáveis.

Outro eixo central é a reutilização segura de credenciais. A ideia é permitir que agentes acessem cartões, contas bancárias ou carteiras digitais sem expor dados sensíveis, mantendo o controle nas mãos do usuário e reduzindo o risco de fraude ou uso indevido.

Há também um componente econômico relevante. A OnePay pretende oferecer aos agentes opções de financiamento padronizadas, como parcelamento ou pagamento em múltiplas vezes, com informações claras sobre custos. Isso transforma o agente não apenas em executor de pagamentos, mas em um intermediário capaz de escolher a melhor forma de financiamento conforme o contexto.

O suporte a carteiras com múltiplos instrumentos fecha o ciclo. O agente pode decidir, de forma segura, se uma compra deve ser feita no crédito, no débito, via conta bancária ou carteira digital, minimizando atrito e maximizando eficiência.

Segundo Moe Matar, CTO da OnePay, o desafio central é garantir que o comércio conduzido por agentes continue ancorado na intenção humana. Em outras palavras, a IA executa, mas quem manda ainda é o usuário.

No pano de fundo, a adesão da OnePay ao AP2 reforça um movimento maior do mercado: a corrida para definir os padrões de pagamento da era da IA agêntica. Assim como protocolos de internet moldaram o e-commerce tradicional, quem definir os trilhos dos pagamentos entre agentes tende a ocupar uma posição estratégica no futuro do comércio digital.

Mais do que um anúncio, o acordo sinaliza que a indústria começa a tratar pagamentos com IA não como um detalhe operacional, mas como infraestrutura crítica. E, nesse novo cenário, segurança, governança e clareza de regras passam a ser tão importantes quanto velocidade e conveniência.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.