Foto: Reprodução
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A OpenAI está negociando um aporte de cerca de US$ 10 bilhões com a Amazon, em um movimento que escancara o principal dilema da inteligência artificial generativa hoje: crescer rápido custa caro. O interesse não está apenas no tamanho do cheque, mas no que ele simboliza: a criadora do ChatGPT precisa de capital em escala industrial para sustentar seu ritmo de expansão, mesmo que isso signifique se aproximar de concorrentes diretos da Microsoft, sua maior acionista.

A negociação ocorre após a OpenAI concluir sua transição para um modelo for profit, passo essencial para destravar novas fontes de financiamento. Com isso, a empresa ganhou flexibilidade para atrair investidores estratégicos fora do círculo tradicional, ainda que isso complique sua relação com a Microsoft, que detém cerca de 27% da companhia e opera sua principal infraestrutura de nuvem via Azure.

O problema central: o cash burn da IA

Apesar do sucesso comercial do ChatGPT, a equação financeira da OpenAI segue longe de fechar. Projeções citadas por analistas indicam que a empresa não deve atingir lucratividade antes de 2030, mesmo em cenários extremamente otimistas de adoção global. Estimativas mais agressivas apontam que seriam necessários mais de US$ 200 bilhões adicionais em capacidade computacional para sustentar o crescimento projetado da plataforma.

Na prática, quanto mais usuários a OpenAI conquista, maior fica a conta com data centers, chips, energia e infraestrutura de nuvem. A IA generativa escala em receita, mas também escala, e muito, em custo. Esse é o pano de fundo que explica a abertura da OpenAI para negociar com a Amazon, segundo o “Startups”.

Por que a Amazon entra nesse jogo

Para a Amazon, o possível aporte não é um resgate financeiro, mas uma jogada estratégica de infraestrutura. A OpenAI já assinou recentemente um contrato de US$ 38 bilhões em sete anos para consumo de serviços da AWS, acordo que ajuda a transformar a demanda quase ilimitada da empresa por computação em receita previsível para a nuvem da Amazon.

Além disso, a negociação fortalece a adoção dos chips Trainium, desenvolvidos pela própria Amazon para treinamento e inferência de modelos de IA. Ao amarrar capital, chips e contratos de longo prazo, a AWS usa o apetite da OpenAI como alavanca para ganhar relevância frente a Microsoft e Google na corrida da IA.

O efeito colateral: alianças mais fluidas

O possível aporte da Amazon evidencia um novo momento do setor: as alianças em IA estão ficando menos exclusivas e mais pragmáticas. A OpenAI já não pode depender apenas da Microsoft para financiar sua expansão, enquanto big techs disputam protagonismo não só em modelos, mas na camada mais crítica da cadeia, a infraestrutura.

No fim, a negociação expõe uma verdade incômoda do setor: a IA generativa já provou valor tecnológico e de mercado, mas ainda não provou sustentabilidade financeira. Até lá, quem controla a nuvem, os chips e o capital dita o ritmo do jogo.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.