
O Reino Unido deu um passo decisivo para transformar o open banking em uma infraestrutura comercial de pagamentos recorrentes. A Financial Conduct Authority (FCA), reguladora do mercado financeiro britânico, anunciou a criação de um esquema comercial para Variable Recurring Payments (VRPs), modelo que permitirá pagamentos recorrentes flexíveis diretamente de conta para conta, sem o uso de cartões.
A iniciativa prevê a criação de uma nova entidade, a UK Payment Initiative (UKPI), formada e financiada pelo próprio mercado. Ao todo, 31 empresas, entre bancos tradicionais, bancos digitais, fintechs e provedores de pagamento, se comprometeram a aportar o capital inicial e a governança do projeto. Entre os participantes estão nomes como Barclays, GoCardless, Mastercard, Monzo, Plaid, Revolut, TrueLayer e Wise.
Os VRPs permitem que consumidores autorizem prestadores de serviços de pagamento registrados a iniciar cobranças recorrentes diretamente de suas contas bancárias, com valores e frequências variáveis, desde que respeitados limites previamente acordados. O modelo atende casos de uso como assinaturas, faturamento baseado em consumo, pagamentos de contas de serviços públicos e checkouts com um clique, sem a necessidade de armazenar dados de cartão.
Do open banking ao uso comercial
Até aqui, o open banking no Reino Unido avançou sobretudo em pagamentos pontuais e iniciação de transferências. Agora, o foco passa a ser a recorrência. Segundo a FCA, o esquema comercial de VRPs foi desenhado para funcionar como uma alternativa integrada aos cartões cadastrados e aos débitos diretos, dois instrumentos que ainda concentram grande parte dos pagamentos recorrentes no país.
A criação da UKPI marca uma mudança importante de abordagem. Em vez de depender apenas de diretrizes regulatórias, o mercado passa a operar um modelo comercial coordenado, com regras comuns, incentivos claros e governança compartilhada.
A expectativa é que os primeiros pagamentos reais dentro do novo esquema ocorram já no primeiro trimestre de 2026, de acordo com informações do “Finextra“.
O movimento acontece em um momento de forte crescimento dos pagamentos via open banking no Reino Unido. O número de transações aumentou 53% em relação ao ano anterior, com mais de 16 milhões de usuários utilizando pagamentos diretos de conta para conta. Esse avanço cria a base necessária para que os VRPs ganhem escala comercial.
Menos cartões, mais pagamentos conta a conta
Para o mercado, os VRPs representam um passo estratégico para reduzir a dependência de esquemas tradicionais de cartões. Rob Kerrigan, COO da TrueLayer e integrante do conselho da nova entidade, afirma que o Reino Unido está seguindo o caminho de outros países europeus que já adotaram pagamentos A2A como padrão. Segundo ele, o VRP é o próximo passo natural para consolidar o “pay by bank” como alternativa real aos modelos dominados por Visa e Mastercard.
Na prática, o novo esquema amplia o escopo do open banking ao conectar regulação, tecnologia e incentivos econômicos. Para empresas, significa menor custo de aceitação, menos falhas de pagamento e mais controle sobre recorrências. Para consumidores, mais transparência e flexibilidade sobre valores e periodicidade das cobranças.
Com a estruturação do esquema comercial, o Reino Unido reforça sua posição como um dos mercados mais avançados na transição do open banking de obrigação regulatória para infraestrutura central de pagamentos, abrindo caminho para um novo padrão de recorrência financeira no país.