Foto: Reprodução
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No começo tudo parece uma dança coreografada. Você pega um conjunto de dados estáticos, limpa, trata, escolhe a análise certa e os gráficos sorriem para você. É como olhar para uma criança dormindo: calma, previsível, até angelical. Mas basta apertar o botão, ligar o fluxo, e o mundo muda de ideia sem te avisar. O dado que ontem obedecia hoje tropeça, a sazonalidade aparece de repente, um campo muda de formato e, de uma hora para outra, o que era ordem vira bagunça.

É aqui que a inteligência artificial entra, essa aliada poderosa que encanta e assusta ao mesmo tempo. Ela ajuda, sim, mas também inventa. Alucina, responde com convicção algo que não existe, muda de tom na segunda pergunta. Eu já vi modelo brilhar ao meio-dia e improvisar jazz no caixa da empresa cinco minutos depois. É divertido, até tocar no seu KPI. Por isso, eu sempre digo: a inteligência pode ser artificial, mas o critério tem que ser nosso.

Governança, então, não é burocracia. É freio de mão. É o cinto de segurança que ninguém mostra na foto da viagem, mas que decide se você volta para casa. É criar guardiões invisíveis que checam se o resultado faz sentido, que param o fluxo quando o número sai da lógica, que lembram que atrás de cada dado existe consequência real. E, acredite, quando um payer_id resolve acordar com outra máscara, esses guardiões fazem a diferença entre escrever uma crônica e apagar um incêndio.

E não é só intuição. A McKinsey analisou mais de 50 implementações de IA “agentic” e concluiu: o valor vem do fluxo — e padronizar/reaproveitar componentes em uma plataforma reduz de 30% a 50% do trabalho não essencial*. Isso só funciona com avaliações explícitas (métricas de sucesso, detecção de alucinação) e observabilidade em cada etapa — exatamente o papel dos nossos “freios” de governança.

Estamos vivendo uma transição bonita e desafiadora. Já não falamos de IA como copiloto tímido; falamos de fluxos inteiros orquestrados por agentes. É fascinante, mas exige disciplina. Quem não codifica seus critérios acaba deixando que o acaso dite as regras. E acaso em escala não é aventura, é acidente.

Eu continuo otimista. O mercado já entendeu para onde vamos e as soluções existem. Cabe a nós desenhar essa estrada com guard-rails firmes, para que a velocidade da inovação não vire descontrole. No fim do dia, não trabalhamos só com dados — trabalhamos com consequências. E, se posso deixar um lembrete simples: ligue a IA, mas não esqueça de ligar também os freios.

Ligia Lopes

CEO da Teros

Lígia Lopes é mestre em Economia pela USP, com experiência em consultoria econômica e banco de investimento. Especialista em inteligência de dados aplicada à análise econômica e estratégica, construiu sua trajetória unindo tecnologia e inovação. Na Teros, estruturou as áreas de Inteligência e Pricing, liderando o desenvolvimento de soluções para otimização de preços. Desde 2021, esteve à frente da implantação de Open Finance, ampliando a oferta de serviços e consolidando a empresa no mercado. Como COO, reestruturou produto, operações e RH, preparando a Teros para escalabilidade. Em 2025, assumiu como CEO, impulsionando a expansão e o crescimento sustentável da companhia.

Lígia Lopes é mestre em Economia pela USP, com experiência em consultoria econômica e banco de investimento. Especialista em inteligência de dados aplicada à análise econômica e estratégica, construiu sua trajetória unindo tecnologia e inovação. Na Teros, estruturou as áreas de Inteligência e Pricing, liderando o desenvolvimento de soluções para otimização de preços. Desde 2021, esteve à frente da implantação de Open Finance, ampliando a oferta de serviços e consolidando a empresa no mercado. Como COO, reestruturou produto, operações e RH, preparando a Teros para escalabilidade. Em 2025, assumiu como CEO, impulsionando a expansão e o crescimento sustentável da companhia.