O mercado de pequenas e médias empresas (PMEs) no Brasil representa, sem dúvida, um pilar importante da economia. De acordo com o Sebrae, elas movimentam, juntamente com os MEIs, cerca de R$ 420 bilhões por ano, o que representa 30% do PIB no país. No entanto, a gestão financeira dessas empresas ainda enfrenta desafios.

Em entrevista exclusiva ao podcast da Let’s Money, João Tosin, CEO e co-fundador da Celero, uma relevante plataforma de Business Financial Management (BFM), expõe quais seriam essas dificuldades como a tecnologia pode ser um divisor de águas.

Foto: Let’s Money

Segundo o entrevistado, atender o mercado de PMEs está na complexidade do ambiente de negócios brasileiro. Ao contrário do que ocorre em mercados mais maduros internacionalmente, onde o segmento de Pessoa Jurídica (PJ) já é mais estruturado, no Brasil, dado a diversidade de modelos de negócios , a digitalização e a simplificação da gestão financeira segue um processo mais complexo.

“Não existe um benchmark que qualquer instituição consiga fazer com uma instituição gringa, porque a complexidade do ambiente de negócios brasileiro é enorme. Então, por exemplo, nós temos 1.370 tipos de empresas distintos no Brasil. Isso só de canais primários. Se a gente for pegar os canais secundários, naturalmente é maior. Então, temos o fator da complexidade. Aí, temos um fator que é o comportamento: o PJ tem sua empresa, mas não consegue produtos bancários para sua empresa. O que ele faz? Acaba usando a PF. Então, o PJ está monetizando o mercado de alguma forma, mas será que essa é a melhor forma?”

-João Tosin, CEO e co-fundador da Celero

Outra questão digna de nota é que, no Brasil, ainda existe a dificuldade de acessar produtos bancários adequados para suas empresas. Como resultado, muitos empreendedores acabam recorrendo à pessoa física (PF) para obter crédito. A falta de opções de crédito direcionadas ao CNPJ pode fazer com que o empresário utilize produtos como o cheque especial, muitas vezes com taxas exorbitantes (8% a 12%). Além de arriscada essa prática pode comprometer a capacidade de manter uma “margem saudável no negócio”, e prejudicar o fluxo de caixa.

Independentemente da urgência, a realidade permanece inalterada:  o pagamento da folha de funcionários chega todos os meses. Diante disso, o uso do crédito pessoal para fins empresariais não só amplifica a pressão financeira, como também pode impeder que o pequeno negócio se desenvolva de maneira sólida e sustentável. A falta de uma calibragem adequada desses produtos bancários, que deveria possibilitar uma gestão mais eficaz das finanças empresariais, acaba ampliando as dificuldades do empreendedor, avalia Tosin.

“Tem muitos estudos que indicam que a utilização desses produtos PF na PJ não são calibrados para que você consiga manter uma margem, por exemplo. Então, às vezes, no desespero, o pequeno empreendedor vai lá e pega só o cheque especial para pagar a folha, que é o custo primordial de uma empresa [...] Então, às vezes, no desespero, o pequeno empreendedor vai lá e pega só o cheque especial para pagar a folha, que é o custo primordial de uma empresa”

-João Tosin, CEO e co-fundador da Celero

Desconhecimento financeiro

Outro ponto de destaque é a falta de conhecimento sobre gestão financeira. De acordo com dados apontados por Tosin, cerca de 85% das pequenas e médias empresas não sabem o que significa fluxo de caixa, o que põe luz à uma lacuna crítica na administração dessas companhias – muitas vezes operam sem a devida compreensão dos conceitos financeiros e se estagnam. 

E não só isso. Muitas dessas empresas não utilizam ferramentas de gestão adequadas. Na realidade, ainda há pequenas empresas que não adotam soluções tecnológicas como softwares de gestão financeira e, as soluções que optam não necessariamente integradas necessidades financeiras de forma ampla e eficiente.

“Só para você ter uma ideia, 85% das pequenas e médias empresas não sabem o que significa fluxo de caixa. [...] Hoje a gente não atende mais nenhuma pequena empresa diretamente. A gente só atende instituições financeiras e parceiros, porque descobrimos que apenas cerca de 6% das empresas brasileiras utilizam algum tipo de software de gestão de fluxo de caixa. Tem um número um pouco maior de empresas que usam, às vezes, um ERP ou um PDV, mas só para a função de PDV”

-João Tosin, CEO e co-fundador da Celero

Esse desconhecimento e a subutilização de ferramentas adequadas resultam em uma gestão aquém do que poderia.Como pontuou Tosin, se perguntado sobre o faturamento ou o ponto de equilíbrio de sua empresa, o empresário brasileiro médio provavelmente não saberia responder. “A maioria não sabe, nem sabe o que significa isso”, afirmou.

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