Embora já exista há anos, a portabilidade de crédito no Brasil continua sendo um processo com alguns obstáculos para o consumidor. Mesmo que permita que pessoas físicas transfiram seus contratos de crédito de uma instituição por diferentes razões, o trâmite ainda não reflete a experiência digital fluida que se espera dos serviços financeiros na era do Pix.

Foto: Let’s Money
No entanto, com uma integração definitiva entre portabilidade de crédito e Open Finance, essa realidade pode estar prestes a mudar, de acordo com a entrevista concedida por Francisco Barguil, CEO da Opus Software, ao podcast da Let’s Money. Hoje, consumidor ainda precisa lidar com processos internos morosos, que envolvem distintas etapas e dependência de entidades centralizadoras.
“Quanto mais longo for o financiamento, o contrato, mais uma pequena diferença na taxa vai fazer um resultado final completamente diferente para o consumidor e para a instituição financeira. Em paralelo, hoje a gente tem portabilidade para crédito imobiliário, temos portabilidade em geral para crédito, mas o processo é moroso e complicado, com uma série de lombadas”
Para ilustrar, ele cita o caso do Banco do Brasil, que conseguiu integrar dados do Open Finance ao seu sistema de portabilidade, o que, como resultado, agilizou o processo para o cliente.
“Ele [o BC] fez um trabalho espetacular de juntar dados do Open Finance com o conceito de portabilidade de crédito. Certamente, internamente, ele revisou processos para diminuir o atrito na hora de adquirir esse crédito que vem de outra instituição. Mas, mesmo assim, ainda é um processo enroscado em muitas situações. Acontece como na época dos mesopotâmios: você tem que fazer ‘clonagens’, conversar com o seu gerente, etc. etc. É isso o que está acontecendo. Primeiro: a portabilidade de crédito existe, ela funciona”
Transformação invisível
Para Barguil, uma nova era para a portabilidade de crédito no Brasil se inaugurou, o que traz naturalmente um avanço notório em relação ao modelo que dependia de estruturas centralizadas e processos analógicos. “É o que existia, era o que tínhamos para o momento”, afirmou Barguil.
Com a possibilidade de realizar a portabilidade por meio da nova infraestrutura digital, abre-se caminho para uma experiência mais benéfica para o consumidor final. De acordo com o entrevistado, o compromisso com essa transformação é genuíno dentro do ecossistema que vem se articulando em torno do Open Finance.
“Nenhum de nós apostou nisso por esporte. Acreditamos que isso funcionaria porque temos a esperança de que realmente melhore, de verdade, a vida do cidadão comum lá na ponta. É aquele negócio que te faz levantar cedo, sabe? Falar: ‘Bom, vou dar mais um passo na direção de um dia em que as pessoas, sem nem saberem o que é o Open Finance, terão um acesso melhorado ao sistema financeiro como um todo, aprenderão a usar o dinheiro de maneira mais responsável”
Isso se trata de criar um sistema onde o consumidor consiga lidar com o dinheiro de maneira mais consciente, mesmo que, na prática, muitos usuários nem saibam exatamente o que é Open Finance. Diante disso, há um potencial transformador dessa infraestrutura ao comparar a evolução tecnológica com momentos históricos.