O mercado de fintechs de crédito digital no Brasil segue mostrando resiliência e capacidade de adaptação, mesmo diante do cenário econômico mais desafiador dos últimos anos. De acordo com a “Pesquisa Fintechs de Crédito Digital 2025”, realizada pela PwC Brasil em parceria com a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), o volume de crédito concedido pelas 44 fintechs pesquisadas alcançou R$ 35,5 bilhões em 2024 — um crescimento expressivo de 68% em relação a 2023.

O avanço no crédito é acompanhado por um salto na base de clientes, que agora soma mais de 67,5 milhões de pessoas físicas e mais de 55 mil empresas atendidas. O destaque fica para o segmento de pessoas jurídicas, com aumento de 67% na carteira, impulsionado principalmente pela inclusão de micro e pequenas empresas, que já representam 71,7% dos clientes PJ.

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Para Marcelo Buosi, diretor de operações da QI Tech, o crescimento não é só quantitativo. “O aumento da frequência das operações sinaliza que os clientes estão confiando mais e utilizando de forma recorrente os produtos das fintechs”, afirma.

Garantias e inovação como pilares para a expansão

Diante do atual contexto de juros elevados e maior seletividade no crédito, as fintechs vêm apostando fortemente na ampliação do uso de garantias para equilibrar risco e retorno. A pesquisa aponta que 77% das fintechs já aceitam algum tipo de garantia em suas operações, frente a 70% no ano anterior, uma clara evolução que confere mais solidez às carteiras e contribui para taxas mais competitivas e inadimplência controlada.

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As garantias mais comuns são crédito consignado e recebíveis, cada um com 46% de participação, seguidos por aplicações financeiras (29%) e bens imóveis. Essas modalidades facilitam a concessão de crédito e a expansão do setor, especialmente em operações com menor risco.

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Paralelamente, 52% das fintechs afirmaram investir no desenvolvimento de novos produtos, um salto em relação aos 35% registrados na última edição da pesquisa. “A diversificação de produtos aumenta o life time value do cliente, mantendo o engajamento e ampliando o valor agregado”, destaca Ann Williams, diretora-presidente da ABCD e COO da Creditas.

IA, Pix e Open Finance no centro da transformação

Outro ponto alto da pesquisa é o avanço na adoção de inteligência artificial. Atualmente, 67% das fintechs já desenvolvem ou estudam soluções baseadas em IA – mais que o dobro em relação ao ano anterior. O foco imediato está na automação de processos internos e back office, com benefícios claros em eficiência e redução de custos.

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Além disso, o Pix consolidou-se como ferramenta essencial, utilizado por 71% das fintechs para otimizar pagamentos instantâneos e acelerar processos financeiros internos, melhorando a experiência do cliente e a liquidez do negócio.

O Open Finance avança rapidamente no setor: 44% das fintechs já estão integradas ao ecossistema, usando o compartilhamento de dados para oferecer crédito mais personalizado e competitivo. Esse movimento fortalece o relacionamento com clientes e amplia as possibilidades de inovação, embora ainda enfrente desafios como a baixa conscientização do consumidor e falta de padronização.

Ainda que o uso de IA generativa no atendimento ao cliente seja visto com cautela, a expectativa é que o setor avance nessa frente à medida que a regulamentação evolua. “A IA já não é mais aposta para o futuro; é uma realidade nos bastidores das operações”, avalia Willer Marcondes, sócio para Serviços Financeiros na Strategy&.

Financiamento com capital próprio e sustentabilidade

A pesquisa também revela que 46% das fintechs usam capital próprio como principal fonte de financiamento, refletindo tanto o cenário restrito de liquidez no mercado quanto a maturidade do setor. Segundo Daniel Gomes, CEO da Nexoos, “muitas fintechs já geram lucro consistente, o que permite reinvestir no crescimento”.

No entanto, esse modelo tem limites e o setor se prepara para ampliar suas fontes de financiamento, com expectativa de maior participação do mercado de capitais e outras formas de captação nos próximos anos.

O futuro do crédito digital no Brasil

O conjunto dos dados e tendências aponta para um cenário de consolidação e amadurecimento das fintechs de crédito no Brasil. Mesmo em um contexto macroeconômico adverso, o setor cresce, inova e aprimora sua gestão de risco, mostrando que a digitalização financeira está cada vez mais integrada ao cotidiano de milhões de brasileiros e empresas.

A sustentabilidade desse crescimento passa pelo equilíbrio entre inovação tecnológica, diversificação de produtos, controle de inadimplência e ampliação do financiamento. A aposta em IA, a consolidação do Pix e a adaptação às regulamentações do Open Finance serão fundamentais para que as fintechs mantenham sua trajetória de expansão e ganhem espaço na concorrência com bancos tradicionais.

Com uma base sólida e visão estratégica, as fintechs de crédito digital se posicionam como protagonistas na transformação do sistema financeiro brasileiro — trazendo mais eficiência, competitividade e inclusão.

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