Desde que obteve a licença de Iniciador de Transações de Pagamento (ITP) no fim de 2024, o Google se tornou o player mais ativo do Open Finance brasileiro, o que ajudou a elevar o volume de pagamentos iniciados pelo sistema para cerca de R$ 4,2 bi apenas no primeiro semestre de 2025, contra R$ 3,2 bi em todo o ano anterior. Essa avaliação foi feita por, Albert Morales, em entrevista exclusiva ao podcast da Let’s Money.

Foto: Let’s Money

E a tendência é que a big tech voe mais alto ainda no país nos próximos anos, segundo pontuou o Morales, que é o Lead Group Product Manager responsável por Google Pay e Google Wallet na América Latina. Ele explicou que essa arrancada ocorre em um cenário de recordes para o PIX – só de janeiro a junho, o sistema já havia movimentado quase 16 trilhões de reais, segundo dados disponíveis no site do Banco Central (BC). 

Ao se aprofundar nesse ecossistema, o Google optou pelo um passo ousado de aderir ao PIX por aproximação (funciona, por ora, exclusivamente na carteira Google Pay em aparelhos Android com NFC), funcionalidade que dispensa a abertura do app bancário. A modalidade estreou em fevereiro deste ano.

“Meu objetivo sempre foi tornar o sistema financeiro muito mais eficiente e conveniente para o usuário final”

- Albert Morales, Lead Group Product Manager (Google)

Global, mas com sotaque brasileiro?

O que teria afetado a mudança da estratégia da empresa foi o Google ter percebido a diversidade dos meios de pagamento locais. A Mountain View criou times de produto fora da Califórnia, nos Estados Unidos, e São Paulo virou uma das bases decisivas para adaptar e, em alguns casos, liderar o roadmap mundial.

“Não adianta importar um modelo europeu e aplicar no Brasil. Aqui temos boleto, parcelado, comportamentos específicos. A plataforma é global, mas precisa ter flavor local”

- Albert Morales, Lead Group Product Manager (Google)

E há cases de sucesso em diferentes países que, de acordo com o executivo, o inspiraram. A Índia, por exemplo, onde o Google Pay virou sinônimo de pagamento digital, foi um desses. Para Morales, o Brasil tem potencial semelhante graças à combinação de PIX, e sobretudo à alta penetração de smartphones.

“O sucesso na Índia é inegável. Lá, ‘pagar com GPay’ virou norma. Quando acertarmos a mão no parcelamento aqui, vamos devolver o aprendizado para eles”

- Albert Morales, Lead Group Product Manager (Google)

Em sentidos práticos, o Google oferece duas camadas: o Pay, motor de pagamentos, e a Wallet, que agrega cartões, bilhetes de transporte, ingressos e documentos. Nos Estados Unidos, a habilitação já pode ser armazenada no aplicativo; em Londres, é suficiente que encoste o celular na catraca do metrô. Aqui no Brasil, a próxima onda deve incluir bilhetes de ônibus e cartões fidelidade integrados.

A novidade mais aguardada em terras brasileiras, no entanto, é o parcelamento nativo via carteira, um recurso que permitirá dividir compras mesmo em débito ou PIX. É esperado que o piloto interno comece já “nas próximas semanas” e esteja disponível ao público geral ainda no segundo semestre deste ano.

“O padrão é muito alto. O processo é desenhado para garantir que as pessoas se encaixem tecnicamente e culturalmente [...] dá autonomia para criar soluções globais, mas com responsabilidade local”

- Albert Morales, Lead Group Product Manager (Google)

Essa cultura explicaria a velocidade do rollout brasileiro. Em apenas quatro meses, o Google fechou acordos com bancos como Santander, que liberou o PIX por aproximação para seus correntistas em abril, segundo aponta levantamento feito pelo banco Santander. A expansão é facilitada por regras do BC, que simplificaram a iniciação de pagamentos via PIX em carteiras digitais.

Mercado em disputa

Embora Apple Pay e Samsung Pay ainda aguardam autorização como ITP, a concorrência entre big techs se acirra. Globalmente, o Google Pay já processa mais de 1,3 trilhão de dólares por ano e detém 18% do mercado de carteiras digitais, segundo a consultoria Coinlaw CoinLaw. No Brasil, a exclusividade temporária no PIX por aproximação pode turbinar essa fatia, sobretudo entre os 130 milhões de usuários Android. Nesse sentido, Morales aposta que o diferencial virá da integração suave de serviços.

“Quando o usuário percebe que pode comprar um café, embarcar no ônibus e guardar o ingresso do show no mesmo lugar, a adoção cresce naturalmente”

- Albert Morales, Lead Group Product Manager (Google)

Depois do parcelamento, o time brasileiro quer levar à Wallet documentos oficiais, começando por carteiras de motorista digitais em parceria com governos estaduais. Esse é um movimento que seguirá a tendência mundial de ID móvel, que a Apple já ensaia em alguns estados dos EUA.

“Há dez anos, ninguém imaginava que pagaríamos impostos ou faríamos o censo pelo celular. Daqui a dez, talvez nem precisemos mais desbloquear o aparelho para pagar”

- Albert Morales, Lead Group Product Manager (Google)

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