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O Open Finance continua avançando no Brasil e uma das inovações mais aguardadas finalmente começa a se concretizar no cotidiano de quem faz pagamentos com Pix. Trata-se da Jornada Sem Redirecionamento (JSR) — uma solução que promete simplificar (e muito) a forma como lidamos com as transações digitais.
Na prática? É menos atrito, menos cliques e um caminho bem mais direto para pagar usando carteiras digitais. A novidade foi tema de conversa no podcast SOS Bacen, da Let’s Media, com Matheus Rauber, Senior Advisor do Banco Central, que tem acompanhado de perto o nascimento e amadurecimento desse novo modelo.
“A gente percebeu que a exigência de redirecionamento em cada transação se tornava um gargalo. Não só criava frustração, mas também limitava a conversão. Parecia que tinha um teto que a gente não conseguia romper”, explicou Rauber.
Hoje, boa parte dos pagamentos via Open Finance exige que o usuário saia do app em que está — como um e-commerce ou app de delivery — e seja levado até o aplicativo do banco para autorizar o pagamento. Depois, ele precisa voltar manualmente para o ambiente original. Esse “vai e volta” atrapalha e a JSR foi criada justamente para eliminar esse desvio.
O que muda na prática?
O funcionamento da nova jornada começa com uma única etapa: a vinculação da conta à carteira digital. Nesse momento inicial, o usuário escolhe qual conta quer conectar, entra com seus dados de acesso, define um limite de uso e aprova o vínculo.
“É semelhante ao que já acontece quando você adiciona um cartão de crédito na carteira digital. Só que agora você poderá adicionar uma conta Pix para fazer pagamentos por aproximação”, detalha Rauber.
A partir daí, os pagamentos passam a ser feitos com um simples toque. Basta aproximar o celular e autorizar com a biometria ou PIN do dispositivo. Não há mais necessidade de ser redirecionado a cada transação.
Segundo Rauber, o modelo foi desenhado para manter os mesmos padrões de proteção das transações Pix. As contas ficam vinculadas ao dispositivo, e é impossível usá-las sem passar por um processo de autenticação.
“Mesmo que alguém roube ou perca o celular, não dá para movimentar o dinheiro da conta vinculada sem desbloquear o aparelho e autenticar a operação. A biometria ou o código de acesso continuam sendo obrigatórios”, reforçou.
Por precaução, as transações via JSR começam com um limite de R$ 500 por pagamento. “É uma trava inicial para garantir estabilidade e segurança. Mas, com a evolução do uso, a ideia é flexibilizar e acompanhar os limites já praticados pelos bancos”, afirmou.
A adesão ao modelo depende de uma série de requisitos. Apenas instituições habilitadas como ITP (Iniciadora de Transação de Pagamento) podem oferecer essa experiência, o que inclui estar alinhado com os padrões técnicos do Pix e do Open Finance.
“Não é plug and play. Para ofertar a jornada sem redirecionamento, a instituição precisa ser regulada pelo Banco Central como ITP e atender todo um fluxo de certificação técnica”, esclareceu Matheus.
Assista ao episódio completo:
Pix por aproximação já é realidade
Desde o fim de fevereiro, o recurso já está disponível para quem tem carteira digital compatível e conta em uma das instituições participantes. A adoção é gradual, mas os dados iniciais são animadores.
“Houve uma aceleração nas iniciações de pagamentos entre fevereiro e março. Também vimos uma melhora significativa na conversão dos pagamentos iniciados via redirecionamento. Isso mostra que estamos no caminho certo”, contou Rauber.
Um dos próximos passos previstos pelo Banco Central é a criação de uma “jornada combo”, que permita combinar, no mesmo fluxo, o compartilhamento de dados com a iniciação de pagamentos.
“A ideia é que o usuário consiga, por exemplo, autorizar o acesso ao saldo da conta no mesmo momento em que faz o vínculo da conta na carteira digital. Já dá para fazer isso tecnicamente hoje, mas queremos deixar esse processo mais intuitivo”, explicou.
Além disso, está prevista a ampliação do modelo para transações entre empresas (PJ para PJ) — algo que ainda não está habilitado, mas está no radar como uma evolução natural da infraestrutura.
Pix Automático e portabilidade de crédito entram no radar
O roadmap do Open Finance em 2025 também reserva novidades importantes. Em junho, será lançado o Pix Automático, uma forma de pagamento recorrente via Pix. Já em dezembro, está previsto o lançamento da portabilidade de crédito pessoal sem garantia.
“Será um processo assíncrono. O cliente autoriza o compartilhamento de dados da instituição onde já tem crédito e outras instituições poderão enviar propostas com base nesse histórico. A ideia é facilitar a vida do consumidor e estimular a concorrência”, conclui Rauber.
A Jornada Sem Redirecionamento pode parecer uma mudança técnica, mas na prática é um avanço direto na experiência do usuário. Uma experiência mais fluida, segura — e cada vez mais conectada ao que o Open Finance tem de melhor.