Com mais de 6 milhões de consentimentos únicos em menos de um ano, a Klavi, uma das pioneiras do Brasil na coleta e inteligência de dados provenientes do open finance para integração de dados cadastrais, vem ganhando protagonismo no ecossistema.
A empresa, fundada em 2020, saltou de uma solução tradicional de coleta de extratos bancários para se tornar uma Iniciadora de Transação de Pagamento (ITP) e referência em inteligência de dados financeiros, segundo comentou Bruno Chan, CEO e cofundador da fintech, em entrevista exclusiva ao podcast da Let’s money.
Foto: Let’s Money
“Então a gente fez uma aquisição e conseguiu virar a chave no meio do ano passado para virar uma etapa e estar dentro do ecossistema do Open [...] a gente estava focado em outro business. Era uma coisa totalmente diferente e hoje a gente enxerga que nos últimos 12 meses a gente coletou 6 milhões de consentimentos únicos. Acertamos de vez aqui o modelo de negócio da Klavi”
Diante disso, o crescimento da Klavi seria reflexo direto da capacidade da empresa em transformar dados bancários em decisões para concessão de crédito, gestão de risco e até estratégias de mercado. O “carro-chefe” da startup é, hoje, score de crédito, modelo de renda e variáveis de risco. “A gente tem mais de 800 indicadores que os nossos clientes podem usar”, disse.
Evolução: Open Finance via APIs
A trajetória da Klavi começou ainda nos tempos em que a coleta de extratos bancários era feita com senha de visualização, prática que enfrentava grande resistência dos usuários, conforme comentou o CEO. Apesar de permitir mais liberdade de customização da jornada do usuário, o modelo antigo tinha baixa adesão.
“Sempre ouvimos do mercado: nunca compartilhe sua senha bancária [...] A conversão era de 10 a 15%. Hoje, com o Open Finance, a gente tem conversão de 50% a 60%”
A virada de chave teria acontecido em abril de 2023, quando a Klavi finalizou a aquisição de uma empresa com licença de ITP – recebeu aprovação do Banco Central (BC) para assumir o controle da Inipay.
“Foi um processo de seis meses. O Banco Central sempre foi muito pró-inovação e pró-fintech. Conseguimos entrar oficialmente no Open Finance, com acesso às APIs e diretrizes de experiência definidas”
No novo modelo, o usuário autoriza que seus dados sejam compartilhados de forma segura entre instituições. Para Chan, mais do que eficiência, isso é inclusão.
“Estimamos que mais de 1,5 milhão de pessoas conseguiram acesso a crédito por causa da Klavi [...] Se não existisse a figura do agregador de dados, muitas dessas pessoas não teriam conseguido crédito, ou conseguiriam com custo muito mais alto. O feirante, o cara da pipoca... sempre tiveram muita dificuldade em comprovar renda. Mas com o Open, conseguimos entender quem é aquela pessoa e ajudá-la a obter um produto financeiro melhor”
Dados que viram estratégia de negócios
Além de bancos e fintechs, empresas do varejo também têm recorrido aos dados da Klavi para entender melhor seus clientes. Bruno Chan citou, por exemplo, a 99 como um dos principais clientes da empresa, além da Renner, que utiliza informações de consumo para estudar o market share no setor de moda – dados permitem saber onde a pessoa realiza compras, com qual frequência e qual o perfil de renda, fornecendo insumos valiosos para estratégias de negócio.
Essas informações possibilitam a produção de estudos que ganham destaque no mercado, como o que ficou conhecido como “taxa das blusinhas”. Uma pesquisa analisou os impactos da nova tributação sobre compras internacionais abaixo de US$ 50. Chan explicou que, literalmente no mês em que a taxa entrou em vigor, metade das pessoas deixou de comprar, o que teria resultado na perda de metade do faturamento dessas empresas.
Outro levantamento feio pela Klavi teve como foco o mercado de apostas esportivas, tema que tem gerado preocupações. Os dados da empresa indicaram que entre 30% e 40% das pessoas de sua base fazem apostas, mas apenas 5% são premiadas. Ainda mais alarmante, observou Chan, é a correlação entre empréstimos tomados e apostas feitas: é comum que o valor do empréstimo seja creditado na conta e, no mesmo dia, transferido para uma casa de apostas.
“A movimentação financeira das pessoas está na conta bancária. É através disso que a gente consegue entender comportamentos e criar inteligência”
Na busca de antecipar riscos, a Klavi desenvolveu alertas que identificam movimentações financeiras atípicas, como indícios de perda de emprego, endividamento rápido ou comportamento compulsivo relacionado a jogos de aposta.