
Bom dia!
Nos EUA, o JPMorgan resolveu que não vai mais bancar sozinho a manutenção das estradas por onde os dados circulam. Começou a cobrar fintechs pelo acesso a dados bancários e isso pode virar tendência. No Brasil, ainda estamos rodando em pistas públicas e gratuitas. Mas por quanto tempo?
Na Let’s Money de hoje:
💰 Open Finance Premium: o JPMorgan começou a cobrar por APIs. No Brasil, será que vem pedágio por aí?
🧑🎓 Geração Z quer crédito: a NG.CASH levanta R$ 150 milhões para oferecer pós-pago, IA e consórcios
🌍 UPI vs. Pix: Índia processa 18 bilhões de transações por mês e lidera a corrida global por pagamentos instantâneos
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PAYMENTS
O pedágio chegou. E o trânsito de dados pode mudar para sempre.
O JPMorgan jogou a real: vai começar a cobrar fintechs pelo acesso aos dados dos seus próprios clientes. Segundo a Bloomberg, o banco já enviou planilhas de preços para as principais empresas do ecossistema, a conta pode ultrapassar os US$ 100 milhões por ano.

Foto: Reprodução / LinkedIn
A justificativa? “Infraestrutura segura custa caro.” Mas a movimentação reacendeu uma discussão que também ronda o Brasil: até onde vai a gratuidade no Open Finance?
🚧 A era do dado gratuito acabou (pelo menos nos EUA)
Durante anos, fintechs cresceram baseadas em dados bancários acessados por scraping ou APIs abertas. Mas o modelo americano, que já era limitado, agora entra oficialmente no modo pay to play. E o recado é claro: quer dados? Paga.
Os bancos, por sua vez, dizem que mantêm a segurança, a conformidade regulatória e as redes físicas que dão estabilidade ao sistema, e que não faz sentido continuar oferecendo tudo isso de graça para empresas que constroem serviços bilionários em cima.
Na outra ponta, as fintechs alertam: cobrar por acesso autorizado pelo cliente pode ser um retrocesso de anos em inovação e competição. E lembram que muitos custos dos bancos são autoinfligidos com agências caras, sistemas legados e pouca eficiência tecnológica.
🛣️ Estradas gratuitas, mas nem todas iguais
No Brasil, o Open Finance segue um modelo regulado e gratuito: todas as instituições participantes devem oferecer APIs abertas e padronizadas, sem cobrar por isso. Mas isso impede a criação de “pistas expressas”?
As estradas públicas (APIs regulatórias) são obrigatórias, gratuitas e funcionam bem para o básico;
Mas e se quisermos faixas rápidas? Com latência menor, integração por webhook, estabilidade elevada, dados enriquecidos, ou até insights preditivos?
Essas pistas exigem investimentos e, talvez, precisem de pedágio para existir. É disso que falamos quando discutimos APIs premium: uma camada opcional, fora do escopo obrigatório, que pode abrir novas oportunidades de valor para fintechs, bancos, iniciadores e até o varejo.
📍 Vamos precisar de pedágio?
A infraestrutura do Open Finance é cara, especialmente para quem a sustenta. Cobrar por diferenciais pode ser um caminho legítimo para viabilizar o ecossistema no longo prazo?
📍 O que pode nascer das pistas expressas?
Atualização em tempo real, maior profundidade nos dados, contexto transacional, comportamento de consumo... As APIs premium podem viabilizar inovações que hoje nem cabem no modelo regulado.
📍 Quem vai controlar a estrada e os agentes que trafegam por ela?
Num cenário onde agentes de IA farão transações, pagarão contas e tomarão crédito em nome do usuário, o controle sobre a camada de acesso aos dados será central. Tanto nos EUA quanto no Brasil.

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PAYMENTS
Os adolescentes cresceram e agora querem crédito

Foto: Divulgação / NG.CASH
A NG.CASH, que nasceu como um app de mesada e Pix para menores de idade, acaba de captar R$ 150 milhões para financiar uma nova fase: crédito para jovens adultos. Fundada em 2021, a fintech viu seus primeiros usuários atingirem a maioridade e, com isso, a demanda mudou: eles agora querem cartão pós-pago, consórcios, seguros e autonomia financeira. A fintech começou com foco em educação financeira e conta digital pré-paga, com recursos simples e controle dos pais. Mas, com o envelhecimento da base, adicionou novos produtos:
Consórcios para smartphones e motos
Assistente financeiro com IA
Cartões personalizáveis com skins de influenciadores
E, agora, crédito e seguros
A aposta é que essa transição natural de jornada da mesada à fatura permita fidelizar uma geração ainda pouco atendida pelos bancões. Com mais de 7 milhões de usuários, a NG.CASH quer se consolidar como a marca bancária da geração Z. A linguagem visual do app, as funcionalidades gamificadas e a parceria com influencers como MC Xamuel e a equipe de e-sports “Los Grandes” fazem parte dessa estratégia. No modelo da fintech, o cliente pode zerar a mensalidade cumprindo “missões”, baixando apps parceiros ou indicando amigos. O foco está na recorrência e na retenção por afinidade, não só pelos produtos financeiros.
Agora, a empresa promete usar inteligência artificial para ofertar crédito personalizado, numa tentativa de escalar sem perder o controle da inadimplência. A nova rodada foi liderada pela NEA, que já investiu em Robinhood, Coursera e Duolingo. Também entraram nomes como Monashees, a16z e Quantum Light (fundo do fundador da Revolut). No total, a NG.CASH já captou mais de R$ 300 milhões desde 2021. Mas o próximo desafio é outro: mostrar viabilidade financeira em um cenário menos paciente com promessas. A fintech cobra R$ 5 mensais pela conta digital, mas depende da escala (e do crédito) para gerar margem de verdade.
A dúvida que fica: o caminho para monetizar jovens sem renda está realmente no crédito? Ou a aposta vai sair cara demais?

NÚMERO
Iniciação de pagamento de olho no bilhão

Iniciação de pagamento no Brasil caminha para o bilhão/mês | Foto: Banco Central
Após o recorde em 2024, a iniciação de pagamento no Brasil mira uma nova marca: R$ 1 bilhão transacionado mensalmente. Em junho, passou perto e tirou o “uuuuuh” da torcida. A modalidade movimentou R$ 974,5 milhões, de acordo com o Banco Central.

PAYMENTS
Índia lidera corrida dos pagamentos instantâneos
A Índia acaba de bater um novo recorde com sua infraestrutura de pagamentos instantâneos: mais de 18 bilhões de transações processadas por mês pela UPI (Unified Payments Interface), sistema lançado em 2016 que já ultrapassa cartões da Visa em volume de operações. Aos poucos, o país vai consolidando uma posição de liderança global e com um paralelo direto ao que acontece no Brasil com o Pix. De um lado, a UPI. Do outro, o Pix. Dois países emergentes, dois sistemas públicos de pagamento instantâneo, e dois modelos que hoje são referência no mundo. Ambos são símbolos de como infraestrutura pública de pagamentos pode transformar economias, inclusão financeira e competição no sistema bancário.
A UPI permite transações interbancárias em tempo real via celular, já representa a principal forma de pagamento digital da Índia e reduziu drasticamente o uso de dinheiro e cartões.
O Pix, no Brasil, chegou a 5 bilhões de transações mensais, e também começa a impactar setores como maquininhas, boletos e, em breve, o crédito.
Na Índia, a UPI já rivaliza com Visa e Mastercard — o que levanta a pergunta: esse cenário pode se repetir aqui? Com o avanço do Pix Parcelado, pagamentos por aproximação e integração com iniciadores de pagamento, o Brasil se aproxima de uma realidade em que o Pix pode ir além das transferências e ganhar mercado em compras, assinaturas e crédito. Se os cartões ainda têm fôlego, é por causa da confiança construída ao longo de décadas, mas os dados mostram: o domínio já não é tão absoluto. UPI e Pix não são apenas soluções locais. Eles representam uma infraestrutura crítica para o futuro dos sistemas financeiros digitais e, cada vez mais, são tratados como ativos estratégicos por seus países de origem.
A Índia já começou a internacionalizar sua tecnologia de pagamentos com acordos em países como Singapura e Emirados Árabes.
O Brasil discute Pix Internacional, e o Banco Central já posiciona o sistema como parte da agenda de competitividade e inovação.
Num cenário de IA, superapps e novas moedas digitais, quem controla a camada de pagamentos tem mais que tecnologia: tem influência econômica global.

Entrevista
TIAGO DE AGUIAR (CMO DA TECBAN)

Nos vemos na próxima edição!
Agora todas terças e sextas.
Abraços,
Equipe Let’s Money
