Bom dia!

O inverno passou, mas isso não significa que o verão chegou. Os investimentos em fintechs voltaram a subir no segundo trimestre de 2025, segundo a CB Insights. Só que o dinheiro está mais criterioso: vai para quem já passou da fase 1. Rodadas maiores, modelos sustentáveis, B2B como prioridade. O jogo mudou. E as apostas também.

Na Let’s Money de hoje:

  • 🎮 Fintechs na fase 2: investimento voltou, mas só pros fortes. Mega-rodadas e foco em modelos sólidos marcam o novo ciclo.

  • 📱 Superapp cripto da Coinbase: IA, redes sociais, miniapps e UX repaginada. A exchange quer ser o WeChat da Web3.

  • ⚖️ Visa e Mastercard na mira: investigações na Turquia e ação coletiva no Reino Unido apertam o cerco contra as bandeiras.

  • Fintechs em campo: Airwallex fecha com o Arsenal e aposta no futebol global para escalar seus pagamentos internacionais.

A Let’s Money é a newsletter que te conta tudo o que é mais interessante da indústria financeira, de forma organizada e de graça 😁

PAYMENTS

O dinheiro voltou. Mas só pros fortes.

O mercado de fintechs respira, mas ainda por aparelho. O relatório do CB Insights sobre o 2º trimestre de 2025 mostra que o financiamento global superou a marca de US$ 10 bilhões pelo segundo trimestre seguido. Uma boa notícia, certo? Mais ou menos.

Quem está levando os cheques são players parrudos, com produto rodando, receita crescendo e músculo pra brigar. MVPs sem tração e promessas vazias ficaram pra próxima. A era do PowerPoint passou. A Plaid, por exemplo, levou US$ 575 milhões. A Addepar, US$ 230 milhões. Não é rodada, é ultramaratona.

O reinado americano (e a ressaca brasileira)

Os Estados Unidos captaram 60% de todo o investimento global em fintechs no trimestre. Isso inclui 65% das mega-rodadas (aquelas acima de US$ 100 milhões) e 71% do dinheiro total dessas rodadas. É domínio. E é também um recado.

O investidor quer estabilidade, mercado maduro, escala. E, hoje, enxerga isso em Nova York, não em São Paulo. O Brasil, que já foi queridinho dos VCs globais, perdeu protagonismo. A festa continua, mas agora é na casa de outro. E com outro repertório.

O novo playbook: fintech B2B, infraestrutura e gestão de patrimônio

Se você ainda acha que fintech é só app bonitinho pra fazer Pix colorido, chegou a hora de rever. A nova onda é outra. São ferramentas que ninguém vê, mas que movem bilhões.

As fintechs B2B captaram 60% dos maiores investimentos em pagamentos e 50% das maiores rodadas bancárias. É gente como Ramp, Dojo, Mercury e Finom, construindo sistemas, não interfaces.

Ao mesmo tempo, a gestão de patrimônio digital vive uma renascença: US$ 1,9 bilhão captado no trimestre, maior valor em 3 anos. A IA virou motor para personalização, eficiência e escala no setor. Stash, Addepar, Altruist e Groww saíram às compras, inclusive de startups de IA. Se a fintech do passado vendia acesso, a do futuro vende inteligência.

🧩 As peças se encaixam: menos deals, mais dinheiro

O número total de negociações caiu 7% no trimestre, mas o tamanho médio subiu para US$ 5 milhões. A explicação? O investidor está concentrando apostas. Prefere jogar pesado em quem já provou valor a pulverizar em estágios iniciais.

Na prática: estamos em um ciclo de consolidação e maturação. Os tempos de blitz de inovação com decks vistosos e promessas disruptivas ficaram pra trás. Agora, só recebe quem já entrega.

O trimestre também foi agitado nas saídas: 205 fusões e aquisições, além do aguardado IPO da Circle (avaliada em US$ 6,9 bilhões). Outro destaque: a compra da corretora cripto Deribit pela Coinbase por US$ 2,9 bilhões. A Stripe também foi às compras e levou a Privy, especializada em infraestrutura de carteiras digitais.

Ou seja: ativos digitais ainda são um dos pilares de liquidez no ecossistema. Mesmo com toda a volatilidade, continuam sendo uma via real de monetização.

O mercado está mais seletivo, mais técnico e menos disposto a bancar sonhos. Mas pra quem tem tração, produto e um pitch calcado em dados — não em devaneios — o dinheiro está lá. E voltou a circular. A diferença? O jogo virou de "quem convence" pra "quem entrega".

O que você precisa saber do Mundo 🌍

PAYMENTS

Coinbase lança superapp e promete resolver a dor mais chata da Web3

A criptoeconomia sempre vendeu liberdade, descentralização e inovação. Mas nunca vendeu facilidade. Navegar entre carteiras, bridges, protocolos, tokens e assinaturas digitais exigia um nível quase profissional de conhecimento e muita paciência. Agora, a Coinbase quer mudar isso. Anunciado como o “novo dia 1” da empresa, o App Base é mais que uma carteira cripto: é um superapp com negociação, pagamentos, rede social tokenizada, chat e miniapps onchain, tudo em uma experiência mobile-first e intuitiva. Um WeChat, mas cripto. Um Alipay, mas onchain. E talvez, pela primeira vez, algo que o usuário comum consiga usar sem abrir 15 abas do YouTube.

Da carteira ao ecossistema: o novo movimento da Coinbase

O App Base nasce a partir da Coinbase Wallet, que agora muda de nome e de ambição. Ele é construído sobre a blockchain Base, a L2 da Coinbase na Ethereum, e chega com quatro pilares de experiência:

  • Rede social integrada (via Farcaster), onde criadores são donos do conteúdo e podem ganhar com ele;

  • Negociação e pagamentos, incluindo função de pagamento por aproximação com USDC;

  • Miniapps integrados à própria blockchain para jogos, mercados de previsão, agricultura de tokens e mais;

  • Chat criptografado com IA para facilitar interações e transações.

Além disso, o “Entrar com a Base” vira uma nova identidade digital unificada, como um login social para toda a web3. O maior problema da cripto sempre foi a usabilidade. O App Base tenta resolver isso integrando tudo num só lugar. A promessa: usar o universo cripto com a mesma fluidez de um aplicativo bancário moderno.

Pagamentos com USDC por NFC? Tem. Feed de postagens com monetização embutida? Também. Trocar tokens sem precisar conectar carteira em site esquisito? Aqui. Tudo com uma camada de IA para guiar o usuário, inclusive durante transações.

É um experimento ambicioso, mas com timing certeiro: o setor vive uma corrida silenciosa para dominar a experiência do usuário onchain. E a Coinbase quer largar na frente.

A corrida dos superapps cripto começou

Enquanto a Coinbase apresenta o App Base como seu “novo dia 1”, a Binance já dá pistas de que algo parecido vem aí. Outras plataformas como X, Grab e até o Telegram também estão montando seus próprios superapps com cripto no centro. A tese é clara: quem controlar a interface, controla a adoção. No mundo Web2, o app do banco virou a porta de entrada para tudo. No Web3, esse lugar ainda está vago. Mas não por muito tempo.

A proposta do App Base vai muito além do mundo cripto. Ela mostra como experiência do usuário virou o campo de batalha central, seja na blockchain, no Pix ou no Open Finance.

Empresas que vendem tecnologia financeira (ou constroem em cima dela) precisam se perguntar: estamos oferecendo uma infraestrutura poderosa... ou só mais uma camada de complexidade?

Na Web3, a Coinbase percebeu que o usuário precisa de um app, não de um tutorial. E no mercado tradicional, essa lição vale igual.

NÚMERO

Pix trilionário no semestre

O Pix movimentou R$ 15,8 trilhões apenas no primeiro semestre de 2025. O volume representa um aumento de 35,2% em relação aos R$ 11,7 trilhões registrados em igual intervalo do ano passado. Os dados são do Banco Central.

PAYMENTS

Visa e Mastercard na berlinda

As gigantes dos cartões estão enfrentando um cerco global: reguladores, tribunais e empresas estão questionando práticas que, por muito tempo, pareciam inquestionáveis. Na Turquia, uma investigação antitruste acusa Visa e Mastercard de bloquear concorrentes locais que tentam oferecer pagamentos internacionais sem as taxas das bandeiras. No Reino Unido, as duas enfrentam mais uma ação coletiva bilionária, agora por taxas cobradas em cartões de consumo. São casos distintos. Mas o recado é um só: o modelo das bandeiras está sendo colocado à prova. E a próxima parada pode ser o Brasil.

Na Turquia, o problema é bloqueio de alternativas

A investigação aberta pela autoridade antitruste turca mira um ponto delicado: a infraestrutura física (como maquininhas e POS) usada por bancos locais pode estar sendo restringida para impedir acordos diretos entre empresas de pagamento e comerciantes no exterior. O truque seria o seguinte:

  • Instituições turcas querem oferecer pagamentos internacionais sem passar pelas bandeiras;

  • Para isso, fazem acordos bilaterais com parceiros lá fora;

  • Mas os bancos locais pressionados pelas regras de Visa e Mastercard estariam impedindo essas integrações, sob ameaça de sanções das bandeiras.

Se for comprovado, o caso pode abrir precedente para revisões de mercado em outras jurisdições, especialmente aquelas com alta dependência de infraestrutura tradicional de cartões.

No Reino Unido, o problema é o de sempre: taxas

Enquanto isso, do outro lado da Europa, Visa e Mastercard enfrentam um novo processo coletivo sobre as famigeradas MIFs, aquelas taxas embutidas em cada transação com cartão. O alvo agora são as transações de cartões de consumo, além dos cartões corporativos, já questionados em ações anteriores. As alegações:

  • As MIFs seriam ilegais e anticompetitivas;

  • Empresas que aceitaram cartões desde 2019 teriam direito a reembolso;

  • O valor pode ultrapassar bilhões de libras.

Visa e Mastercard, como sempre, afirmam que as taxas são essenciais para “financiar inovação, reduzir fraudes e ampliar vendas”. Mas o CAT (Tribunal de Apelação da Concorrência) já decidiu que as MIFs distorcem a concorrência. A pressão segue aumentando.

E no Brasil? O modelo também está sob pressão

Pode até parecer uma disputa “lá fora”. Mas ela dialoga diretamente com discussões que já fervem no Brasil:

  • O Banco Central já colocou sob escrutínio a estrutura de taxas do mercado de cartões, inclusive no crédito rotativo;

  • A agenda de competição do regulador tem incentivado alternativas de pagamento, como Pix, carteiras digitais e arranjos fechados;

  • Iniciativas como Open Finance e Drex buscam reduzir a dependência das redes tradicionais.

A verdade é que o mercado de cartões sempre foi blindado por uma estrutura difícil de furar, com taxas pouco transparentes, poucas opções de barganha para comerciantes e controle centralizado. Mas isso pode estar mudando. O modelo Visa-Mastercard não está ameaçado de extinção. Mas está sendo forçado a se reinventar, seja pela pressão legal, seja pela competição tecnológica.

Em paralelo, o avanço de pagamentos em tempo real (como Pix), carteiras digitais e até superapps com backends próprios (como o App Base da Coinbase) começa a esvaziar a dominância das bandeiras tradicionais.

E aqui no Brasil, a pergunta não é se o efeito chega, mas quando e como. Talvez ainda não tenhamos uma Turquia ou um Reino Unido nos tribunais. Mas temos um Banco Central com lupa nas taxas, um mercado que testa novas formas de cobrança digital... e um ecossistema de pagamentos pronto pra mudanças mais profundas.

PAYMENTS

Fintechs invadem o campo: o novo jogo é no estádio, no app e na carteira

A Airwallex é a nova parceira oficial do Arsenal e não estamos falando só de placas no estádio. A fintech australiana vai muito além do branding: entra nos bastidores do clube com infraestrutura de pagamentos globais, carteira multimoeda e liquidação instantânea. É fintech no estádio, no app e na pré-temporada asiática do time. Tudo junto, como manda o playbook de quem quer colar sua marca a performance, comunidade e alcance internacional.

Para um clube como o Arsenal, com torcedores espalhados em mais de 180 países, vender produtos e experiências nunca foi um problema de demanda. O desafio sempre foi operacional: como aceitar pagamentos locais, com métodos nativos, sem perder dinheiro com conversão ou taxa de repasse? É aí que entra a Airwallex:

  • Pagamentos aceitos com métodos locais, do Japão ao Reino Unido;

  • Depósito direto numa carteira multimoeda, sem conversões forçadas;

  • Liquidação no mesmo dia, com 95% de sucesso global;

  • Operações financeiras unificadas, com visibilidade total para o time administrativo.

O resultado: menos fricção para os torcedores, mais controle para o clube. Um passe de letra no quesito UX e um golaço no de ROI.

A parceria com o Arsenal não é um movimento isolado. É parte de uma estratégia maior, que já colocou a Airwallex ao lado da equipe de F1 da McLaren. E não é só ela:

  • A Bitpanda estampou o AC Milan;

  • O Nubank entrou no ciclismo profissional;

  • A Revolut já negocia com a equipe Audi na Fórmula 1.

O que essas marcas querem? Estar no centro da cultura global. E poucos palcos entregam tanto engajamento e narrativa quanto o esporte, principalmente o futebol europeu, com suas audiências transnacionais e apaixonadas.

Fintechs querem mais do que tráfego. 

Ao colar sua imagem a clubes, pilotos ou atletas, essas empresas não estão só buscando alcance publicitário. Elas estão tentando entrar para o imaginário do público como marcas confiáveis, cool, que entregam performance, assim como os times e ídolos que patrocinam. No caso da Airwallex, o recado é claro:

“Seja ajudando o clube a economizar tempo e dinheiro em suas operações financeiras diárias ou criando uma experiência de pagamentos mais tranquila para os torcedores, acreditamos que essa colaboração criará valor real para o futebol, para os negócios e para as pessoas.”, afirmou Jack Zhang, CEO da Airwallex.

Traduzindo: estamos jogando o mesmo jogo. Só que do lado invisível do campo, onde o dinheiro passa, mas ninguém vê.

Entrevista

DEVANIR TEIXEIRA (SAP & AI SR. TECHNOLOGY SPECIALIST DA LENOVO)

Nos vemos na próxima edição!

Agora todas terças e sextas.

Abraços,

Equipe Let’s Money

Keep Reading

No posts found