Apesar de avanços importantes em infraestrutura e adesão, o Open Finance ainda é percebido como uma iniciativa técnica, distante do cotidiano da maioria dos brasileiros. A Lina OpenX, uma das startups selecionadas para o Lift Lab 2025, quer mudar esse quadro usando o Open Finance não apenas como motor de integração bancária, mas como ponto de partida para educação financeira.

Foto: Divulgação / Lina OpenX

Batizado de OpenData Tutor, o projeto da Lina propõe desenvolver uma interface conversacional, alimentada por dados do Open Finance e dados públicos, com apoio de IA, que ajude o usuário a entender conceitos financeiros de forma contextualizada e personalizada.

"A ideia não é apenas recomendar uma decisão ou apontar um caminho, mas ensinar no meio do processo. Mostrar para o usuário quais são os conceitos por trás de cada escolha e ajudar ele a aprender com a própria realidade", afirma Ana Carolina Silva, CPO da Lina.

O projeto foi um dos nove selecionados para a edição 2025 do Lift Lab, o programa de aceleração de soluções financeiras conduzido pela Fenasbac em parceria com o Banco Central. Com duração de cerca de três meses, a iniciativa inclui mentorias técnicas, acesso a infraestrutura de parceiros como AWS, IBM e Microsoft, e encontros quinzenais com entregas parciais até o Lift Day, previsto para abril de 2026.

"O Lift é uma espécie de sandbox, um ambiente de experimentação em que podemos testar ideias, arquiteturas e soluções com apoio de especialistas e acesso a recursos reais. No nosso caso, isso vai nos permitir validar a proposta do OpenData Tutor com usuários reais e ajustar a experiência antes de escalar", explica Murilo, CMO e cofundador da Lina.

Open Finance ainda não chegou na ponta

Para os executivos da Lina, o maior desafio do Open Finance hoje não é mais de infraestrutura ou regulação, mas de comunicação. "Apesar do número crescente de opt-ins, é evidente que a proposta de valor do Open Finance ainda não chegou nas pessoas. Não basta estar habilitado: é preciso perceber o valor disso no dia a dia", afirma Murilo.

Ele cita como exemplo o uso do Google Pay, em que muitos consumidores realizam pagamentos por aproximação sem saber que estão usando uma solução baseada em Open Finance. "Isso é o ideal: quando a tecnologia está tão integrada que ninguém precisa entender como funciona. Mas, até lá, precisamos de ferramentas que traduzam esses conceitos para as pessoas comuns."

Educação financeira que parte do real

O diferencial da proposta da Lina está em transformar o Open Finance em uma ferramenta de aprendizado. "Queremos usar os dados que a pessoa já tem e construir, a partir disso, um processo de aprendizagem. Explicar, por exemplo, por que determinado cartão tem um custo maior, ou como funcionam diferentes tipos de crédito", afirma Ana.

Ela reforça que o objetivo é que o usuário não apenas tome uma decisão melhor, mas entenda o motivo daquela escolha. "Educação financeira de verdade é isso: dar autonomia com entendimento, e não apenas com sugestões."

Testes com usuários reais estão previstos

A equipe da Lina planeja lançar uma versão de testes do OpenData Tutor durante a fase de execução no Lift Lab. A expectativa é que esses testes ajudem a calibrar a interface, os fluxos de interação e os módulos de explicação da plataforma.

"Tornar o Open Finance acessível também passa por habituar as pessoas a esse novo tipo de tecnologia. Como em qualquer inovação, existe um período de compreensão e de confiança, mas seguindo boas práticas, é possível entregar segurança e valor ao mesmo tempo", diz Ana.

O Open Finance tem potencial para ser mais do que uma infraestrutura invisível. A Lina quer torná-lo uma ferramenta de aprendizado financeiro real, ancorada na experiência de cada pessoa. O desafio é transformar dado em linguagem, e linguagem em autonomia.

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