No episódio "Inteligência Artificial na Prática" do Let's Money Podcast, apresentado por Gabriel Pereira, o convidado foi Mateus Casanova, Head de Inovação e Inteligência Artificial da Unicred. Em uma conversa franca, Casanova mostrou como a cooperativa vem estruturando sua estratégia de IA generativa, equilibrando eficiência, governança e inovação, sem perder o foco no público da saúde que é a essência da instituição.

Foto: Let’s Money

“Meu objetivo inicial era ser engenheiro agrônomo, mas um computador mudou meu caminho. Acabei escolhendo Ciência da Computação e segui carreira em tecnologia. Foi no segmento financeiro que encontrei um campo fértil para aplicar tecnologia com impacto direto no dia a dia das pessoas.”

Mateus Casanova, head de Tecnologia, Inovação e Inteligência Artificial na Unicred

Na Unicred, passou por projetos como Pix, Open Finance e, mais recentemente, Drex e Inteligência Artificial. “Entrei para conduzir o Pix. Depois vieram Open Finance, Drex, inovação e agora também IA. Foi uma evolução natural.”

O sistema Unicred e o foco em saúde

A Unicred é um sistema cooperativo de crédito com cerca de 360 mil cooperados — médicos, dentistas, enfermeiros, clínicas e hospitais. “Nosso mote é a área da saúde. Temos linhas de crédito específicas para médicos que estão montando consultório, até para hospitais que querem expandir sua estrutura.”

A recente mudança de três para dois níveis organizacionais trouxe mais competitividade. “Eu costumo brincar que agora passamos a jogar outro campeonato, mais próximo dos grandes bancos. A competitividade é maior, os riscos também, mas as possibilidades se ampliaram muito.”

A meta é ousada: chegar a 1,5 milhão de cooperados até 2030, mantendo a proximidade típica do cooperativismo. “Nosso diferencial é olhar no olho do cooperado, entender sua necessidade e oferecer soluções contextualizadas.”

Como a inovação ganhou espaço

Segundo Casanova, a área de inovação na Unicred nasceu junto com a onda regulatória do Pix e amadureceu com Open Finance e Drex. “No começo, era muito ligada a demandas regulatórias. Mas evoluímos. Hoje pensamos em três horizontes: eficiência operacional, expansão da base e novos serviços para o público da saúde.”

Foto: Let’s Money

O desafio foi cultural: “No início, alguns times viam a inovação como mais trabalho. Tivemos que evangelizar, mostrar que estávamos ali para somar, não para competir.” Programas como Protagonize (para coleta de ideias dos colaboradores) e os Embaixadores de Inovação (representantes nas cooperativas) ajudaram a criar conexão. “Com os embaixadores, conseguimos captar dores reais das cooperativas e cocriar soluções.”

Inteligência Artificial na prática

A Unicred já usava IA em modelos preditivos de crédito e prevenção a fraudes. Mas o grande salto veio com a IA generativa. “A virada aconteceu quando vimos colaboradores usando ChatGPT e Copilot de forma informal. Percebemos que precisávamos organizar, criar governança e dar autonomia com segurança.”

Em 2024, a cooperativa definiu três pilares estratégicos para IA: eficiência operacional, oferta de produtos e serviços e personalização do atendimento. “O risco não é usar IA, o risco é usar sem governança.”

Entre as iniciativas, destaque para:

  • Hackathon: “Foram 70 profissionais, geramos 15 ideias de IA generativa, três já estão em piloto.”

  • Desenvolvimento de software: “Estamos usando IA para apoiar desde a escrita de histórias até testes unitários e modernização de sistemas legados. Isso ajuda a combater a escassez de profissionais.”

  • Agentes virtuais: “Temos o Edu, voltado ao público externo, e a Duda, para colaboradores. Agora evoluímos a Duda para IA generativa.”

  • Base de conhecimento: “Chegamos a 85% de eficiência no suporte. Mas tivemos que adaptar a base para consumo da IA, com mais texto e menos gráficos.”

Casanova reforça que o uso responsável é indispensável. “De 20 minutos para zero não dá para pular. O colaborador precisa revisar o que a IA gerou. No fim, a responsabilidade pelo conteúdo é sempre humana.”

O papel do DREX e da tokenização

Além da IA, a Unicred é protagonista no consórcio SFCOP, que reúne cooperativas como Sicredi, Sicoob, Ailos e Cresol para desenvolver casos de uso do Drex. “O Banco Central tem papel fundamental. No Drex, incentivou a cooperação entre bancos, cooperativas e até fintechs.”

Na Fase 2, o consórcio testou a compra e venda de imóveis tokenizados. “Um processo que hoje leva de 35 a 50 dias conseguimos reduzir para 3 a 5 dias. A expectativa é chegar a 24 horas.” O ganho vem dos smart contracts e do conceito de Delivery versus Payment (DVP).

Para Casanova, a infraestrutura do Drex é muito mais que uma moeda digital. “Ele vai viabilizar a economia tokenizada, com ativos digitais transitando de forma segura. A partir daí vamos criar novos produtos e serviços.”

Casanova resume a lição: “O grande erro é querer bala de prata. O certo é começar pequeno, estruturar governança e escalar com segurança. Se fizer o contrário, vai sair caro e arriscado.”

A Unicred mostra, assim, que inteligência artificial e inovação não são conceitos distantes, mas práticas do dia a dia — quando aplicadas com disciplina, foco e visão de longo prazo.

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