O Pix, que se consolidou como o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros, não apenas substituiu transações em dinheiro e em cartões, mas também gerou efeitos indiretos no sistema financeiro. Um estudo divulgado nesta semana, feito em conjunto por pesquisadores do Banco Central e da Florida State University, mostra que o crescimento do Pix impulsionou a aceitação do cartão de débito entre comerciantes e ampliou a movimentação em depósitos e empréstimos, reforçando o papel da inovação como motor de inclusão.

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Segundo a pesquisa, ao contrário da visão inicial de que o Pix “canibalizaria” instrumentos tradicionais, o sistema acabou abrindo espaço para que eles ganhassem tração. Comerciantes que antes resistiam a aceitar o cartão de débito passaram a vê-lo como complemento ao Pix, especialmente em regiões e setores onde os consumidores buscavam múltiplas opções de pagamento.
De acordo com o levantamento, a cada 1% de crescimento no número de usuários do Pix nos últimos anos, a quantidade de empresas que aceitam cartão de débito aumentou em média 1,2%. Para chegar nessa conclusão, o levantamento comparou cidades brasileiras que tiveram um pico no uso do Pix após enchentes com municípios que não tiveram esse crescimento extraordinário.
Expansão do crédito
Outro efeito observado foi a expansão do crédito. O uso massivo do Pix aumentou a frequência de movimentações financeiras, permitindo que instituições avaliassem melhor o perfil dos clientes e ofertassem produtos de empréstimo e financiamento com base em dados mais consistentes. Da mesma forma, os depósitos em contas digitais cresceram, consolidando uma base ativa de clientes que antes estavam à margem do sistema.
Esse movimento está diretamente ligado à ascensão dos bancos digitais. Com contas gratuitas, abertura simplificada e integração total ao Pix, essas instituições criaram um ambiente em que milhões de brasileiros passaram a acessar serviços bancários pela primeira vez. O resultado é uma combinação de inovação tecnológica e ampliação do mercado, na qual o Pix se mostra mais como catalisador do que como substituto.
A análise aponta ainda que a experiência brasileira é distinta de outros países que também adotaram pagamentos instantâneos. Aqui, a adoção foi rápida e massiva, mas longe de reduzir a diversidade de meios de pagamento, acabou fortalecendo a rede de opções e acelerando a digitalização financeira.
O estudo reforça a ideia de que o Pix vai além de uma inovação pontual: trata-se de um vetor de transformação estrutural, capaz de gerar efeitos em cadeia que reposicionam até os meios mais tradicionais dentro de um ecossistema cada vez mais dinâmico e competitivo.
As informações são da Folha de S. Paulo.