No episódio "Inovação em Fintechs da América Latina" do Let's Money Podcast, Gabriel Pereira recebeu Walter Pereira, criador da W Fintechs, para uma análise aprofundada sobre o cenário de inovação e regulação no continente.

Foto: Let’s Money

Com base em sua experiência acompanhando o setor no Brasil e em outros países da região, Walter trouxe insights sobre o que torna a América Latina um verdadeiro laboratório para o futuro das finanças.

Da O2 Comércio à W Fintechs: a trajetória de Walter

Walter iniciou sua jornada no setor financeiro em 2020, durante a pandemia, com a O2 Comércio, uma plataforma criada para conectar pequenos comerciantes a consumidores em um período de portas fechadas.

“Nosso slogan era: continue vendendo mesmo de portas fechadas. Mas foi também quando percebi o quanto era caro e difícil para pequenos negócios se bancarizarem.”

A partir daí, se aproximou do ecossistema fintech: passou pela ABFintechs, onde sugeriu um repositório de dados do setor; criou sua própria newsletter, que hoje é referência no acompanhamento do mercado; e se tornou diretor adjunto da FDATA para América Latina, ganhando uma visão global de Open Finance.

“O futuro da inovação não seria mais escrito em Wall Street ou Londres, mas em São Paulo, Cidade do México, Mumbai e Cidade do Cabo — regiões que inovam por necessidade, não por luxo.”

Para Walter, a inovação latino-americana tem um motor diferente: a sobrevivência. “Quando olhamos para países emergentes, a inovação é uma questão de necessidade vital. Aqui no Brasil, se você não tem Pix, você não consegue receber um pagamento. Já nos EUA, onde o bem-estar é maior, a inovação é mais incremental.”

Esse ambiente cria soluções que dificilmente nasceriam em mercados desenvolvidos. E é nesse contexto que a América Latina se torna observada como referência internacional.

Regulação: entrave ou alavanca?

O México foi pioneiro com a Lei Fintech em 2018, mas, segundo Walter, o excesso de abrangência acabou travando o avanço: “O México começou o Open Banking antes do Brasil, mas ainda está na Fase 1. Faltou padronização técnica e sobrou interferência política.”

O Brasil, por outro lado, seguiu outro caminho com a Lei de Instituições de Pagamento (2013), que deu autonomia ao Banco Central. “O BC brasileiro é técnico e institucional. Mudança de governo não afeta sua agenda, e isso explica a velocidade do Pix, do Open Finance e agora do Drex.”

Na Colômbia, a aposta foi o Bre-B, sistema inspirado no Pix. “Eles fizeram um copy-paste do modelo brasileiro, mas adaptaram a parte técnica, usando tradutores ISO 20022 para reduzir custos. Em uma semana já tinham 6 milhões de usuários.”

Cases que explicam a revolução

  • Pix (Brasil): “O Pix foi ao mesmo tempo destruidor criativo e coordenador. Ele digitalizou 30% das transações, bancarizou 70 milhões de pessoas e virou referência mundial. Hoje são mais de 170 milhões de brasileiros que já usaram o Pix pelo menos uma vez.”

  • Oxxo (México): “O Oxxo virou um super app físico-digital. Pessoas sem conta bancária levam dinheiro vivo e transformam em saldo digital via carteira Spin. E agora estão prestes a lançar o Spin Crédito, oferecendo crédito a recém-bancarizados.”

  • Bre-B (Colômbia): “É o Pix colombiano. Adoção massiva já na primeira semana mostra que a Colômbia pode ser a próxima fronteira da inovação.”

Esses modelos mostram como a região cria soluções híbridas e adaptadas às suas próprias realidades.

O futuro: stablecoins e a convergência DeFi/TradeFi

Walter destacou ainda o papel crescente das stablecoins em economias instáveis como a Argentina. “Stablecoin é borderless. Ela não vê país. Isso abre espaço para pagamentos internacionais mais rápidos e baratos, sem depender de Swift.”

Segundo ele, novas empresas já estão surgindo para criar câmaras de compensação para stablecoins, trazendo mais segurança e liquidez ao mercado. “Estamos vendo na prática a convergência entre finanças tradicionais e descentralizadas.”

O recado de Walter é claro: a América Latina não apenas consome tendências globais, mas cria inovações que inspiram o mundo. “O Pix não nasceu em Wall Street, nasceu aqui. E o próximo passo também vai nascer em países emergentes, onde inovar é questão de sobrevivência.”

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