
O Pix segue avançando para além da lógica puramente funcional. Nesta semana, o Banco do Brasil passou a disponibilizar para clientes pessoa física uma nova opção de envio chamada de “Pix de presente”, que permite anexar ilustrações e mensagens personalizadas às transferências feitas pelo sistema de pagamentos instantâneos.
A funcionalidade, lançada na quarta-feira (17), permite que o usuário escolha um tema visual, escreva uma mensagem e compartilhe o Pix como se fosse um cartão digital, enviado por aplicativos de mensagens. A iniciativa surge em um momento em que o Pix já é amplamente utilizado no dia a dia, mas começa a ganhar camadas adicionais de experiência, contexto e comunicação.

Inicialmente, o recurso está disponível sem custo durante o período de Natal. A partir de 2026, o banco prevê a cobrança de uma taxa a partir de R$ 0,99 por envio com arte personalizada, segundo o “EInvestidor“.
Pix como meio de expressão
Embora simples à primeira vista, o movimento revela uma tendência maior no sistema financeiro: transformar meios de pagamento em canais de interação. O Pix, que nasceu com foco em eficiência, velocidade e baixo custo, passa a ser explorado também como ferramenta de comunicação simbólica, especialmente em datas comemorativas, aniversários e transferências entre pessoas físicas.

As artes disponíveis foram desenvolvidas por quatro artistas brasileiros, com estilos que dialogam com diferentes linguagens visuais e referências culturais. Entre eles está Bacaro Borges, xilogravurista pernambucano influenciado pela tradição nordestina; Filipe Grimaldi, conhecido pelo trabalho com lettering popular; Agatha de Faveri, artista visual que mistura pintura e tipografia; e Luiza de Souza, ilustradora e quadrinista potiguar reconhecida por narrativas afetivas e contemporâneas.

O uso de artistas independentes reforça uma tentativa de aproximar o Pix de elementos culturais e emocionais, afastando-o da imagem estritamente bancária. Ainda assim, o recurso segue opcional e não altera a dinâmica central da transferência: o dinheiro continua chegando instantaneamente ao destinatário.
Estratégia ou experimento?
Na prática, o “Pix de presente” funciona como um teste de novos usos para o sistema. Bancos e fintechs vêm buscando formas de diferenciar suas interfaces em um ambiente em que o Pix se tornou padronizado e amplamente interoperável. Como o preço, a velocidade e a liquidação são iguais para todos, a experiência do usuário passa a ser um dos poucos campos de disputa.
Ao mesmo tempo, a iniciativa levanta questionamentos sobre até onde vai a personalização dos meios de pagamento. Para alguns usuários, a funcionalidade pode soar supérflua; para outros, especialmente em contextos informais, pode substituir cartões físicos e mensagens separadas.

O fato é que o Pix continua expandindo suas fronteiras. Depois de virar ferramenta de doações, gorjetas, pagamentos parcelados e até presentes digitais, o sistema confirma uma característica central: ele deixou de ser apenas infraestrutura financeira e passou a ocupar espaço na cultura cotidiana dos brasileiros.
Se essa camada “afetiva” vai se consolidar ou permanecer como nicho sazonal, o tempo e o comportamento dos usuários dirá.