Pix por aproximação
Foto: Reprodução

O Pix deixou de ser apenas um meio de pagamento para se tornar uma ferramenta de leitura econômica. No Relatório de Política Monetária do quarto trimestre, o Banco Central apresentou os primeiros resultados da nova Estatística de Pagamentos por Atividade Econômica (EPAE), um indicador que usa os fluxos do Pix para acompanhar a dinâmica de pagamentos entre os diferentes setores da economia brasileira.

A proposta visa transformar o enorme volume de dados gerado pelo Pix em um retrato contínuo da atividade econômica. Em um primeiro momento, a série se apoia exclusivamente nas transações do sistema de pagamentos instantâneos, mas o BC já sinaliza que, no futuro, pretende incorporar outros instrumentos financeiros.

A escolha do Pix como ponto de partida não é casual. Com adoção praticamente universal e uso crescente por pessoas físicas e jurídicas, o sistema oferece uma granularidade inédita sobre quem paga, quem recebe e em quais setores o dinheiro circula.

Pix como leitura da atividade econômica

Segundo o Banco Central, o uso generalizado do Pix permite observar com precisão o tamanho e a velocidade dos fluxos financeiros entre os setores produtivos. Desde o lançamento do sistema, tanto o valor quanto o número de transações cresceram de forma consistente em todas as atividades econômicas, com destaque para comércio, atividades financeiras e indústria de transformação.

Os números ilustram essa expansão. O volume mensal de pagamentos via Pix saltou de R$ 12 bilhões em novembro de 2020 para R$ 1,7 trilhão em setembro deste ano, em valores correntes. No mesmo intervalo, o número de transações mensais avançou de 15,9 milhões para 5,4 bilhões. A escala do sistema transforma cada pagamento em um ponto de dados relevante para análise macroeconômica.

A nova estatística organiza esses fluxos em 529 relações mensais entre setores, criando uma base detalhada e tempestiva para avaliar a conjuntura brasileira, algo especialmente valioso em um ambiente de rápida mudança econômica.

Os dados também mostram uma mudança gradual no perfil dos pagamentos. No início da série, pessoas físicas respondiam por 55% do valor movimentado via Pix. Em setembro de 2025, essa participação caiu para 44%, refletindo o avanço das empresas no uso do sistema. O crescimento foi mais expressivo nos setores de atividades financeiras, cuja participação subiu de 2,8% para 9%, e no grupo classificado como “outros”, que avançou de 19,2% para 25,4%.

Do lado dos recebedores, o movimento é semelhante. Pessoas físicas, que concentravam quase dois terços dos valores recebidos no início da série, perderam espaço relativo para pessoas jurídicas ao longo do tempo, à medida que o Pix se consolidou como instrumento recorrente também no ambiente empresarial.

Mais do que uma fotografia estática, o BC trata a EPAE como uma nova camada de inteligência econômica. Ao permitir a leitura quase em tempo real dos fluxos de pagamentos, o Pix passa a funcionar como um termômetro da atividade, complementando indicadores tradicionais, que costumam ser divulgados com maior defasagem.

A mensagem do Banco Central é clara: a infraestrutura de pagamentos, além de eficiência operacional, passou a gerar informação estratégica. E, nesse novo arranjo, o Pix deixa de ser apenas um meio de transferência para se firmar como um dos instrumentos centrais de observação da economia brasileira.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.