
O Pix transformou o Brasil em um laboratório global de pagamentos e com vantagem de tempo relevante. A avaliação é de Brett King, futurista australiano e um dos principais pensadores da transformação digital no sistema financeiro, que afirma que o país está cerca de dez anos à frente dos Estados Unidos quando o assunto é infraestrutura de pagamentos.
A declaração foi feita durante passagem por Brasília, onde King participou do Encontro Anual de Gestores da Caixa. Mais do que um elogio pontual ao Pix, a análise aponta para um deslocamento estrutural do eixo de inovação em pagamentos, historicamente concentrado em mercados desenvolvidos.
Pix antecipou o modelo de pagamentos do futuro
Segundo King, enquanto o Brasil já opera pagamentos instantâneos em larga escala, com liquidação imediata, integração ao cotidiano e evolução contínua de casos de uso, os Estados Unidos ainda dependem de sistemas fragmentados, intermediários e fortemente ancorados em cartões. “O Pix antecipou um modelo que o resto do mundo ainda está tentando construir”, avaliou, de acordo com o “Metrópoles”.
A leitura ganha peso quando o futurista afirma que grandes players globais, como Visa e Mastercard, já trabalham com a perspectiva de um “futuro sem plástico”, inspirado em estruturas semelhantes ao Pix. Na prática, isso significa reconhecer que o modelo de cartões, embora ainda dominante, começa a enfrentar limites operacionais, de custo e de experiência diante de sistemas baseados em conta, APIs e liquidação em tempo real.
Para King, o diferencial brasileiro não está apenas na tecnologia, mas na combinação entre regulação, infraestrutura pública e adoção massiva. Enquanto outros países ainda discutem governança ou disputam protagonismo entre bancos e big techs, o Pix se consolidou como uma camada comum, sobre a qual empresas, fintechs e consumidores inovam.
O futurista ficou conhecido por antecipar, ainda em 2010, a ascensão dos bancos digitais e das fintechs no livro Bank 2.0. Nos últimos anos, seu foco migrou para os impactos da inteligência artificial sobre a economia e a sociedade, tema do livro The Rise of Technosocialism. Na conversa, ele também alertou para o risco de concentração de renda e poder em torno da IA, além da possibilidade de uma bolha no mercado de tecnologia.
Mesmo assim, King vê paralelos entre a atual corrida por IA e o que aconteceu com os pagamentos digitais. “Há exageros e bolhas, mas também há uma transformação irreversível em curso”, afirmou. No caso dos pagamentos, o Brasil já atravessou essa curva.
A mensagem implícita é clara: enquanto países centrais ainda ajustam suas engrenagens, o Brasil opera, testa e escala. O Pix deixou de ser apenas uma inovação local e passou a funcionar como referência global, algo raro em infraestrutura financeira. O desafio agora é sustentar essa liderança à medida que novas camadas, como pagamentos recorrentes, crédito e identidade digital, passam a se integrar ao sistema.