
Cinco anos após sua criação, o Pix consolidou-se como o principal meio de pagamento no Brasil. Lançado em novembro de 2020 pelo Banco Central, o sistema ultrapassou a marca de 63 bilhões de transações anuais e movimentou R$ 26,4 trilhões no período, ocupando hoje mais de 50% de todas as operações financeiras do país.
Com 901 milhões de chaves ativas e 178 milhões de usuários cadastrados, o equivalente a 83,4% da população, o Pix também conquistou atenção fora do Brasil. O prêmio Nobel de Economia Paul Krugman chegou a afirmar que o país pode ter “inventado o futuro do dinheiro”, enquanto figuras políticas como Donald Trump criticaram a inovação por impactar a competitividade de empresas americanas no setor de pagamentos.
Impacto no sistema financeiro
Desde seu lançamento, o Pix transformou profundamente a dinâmica do setor financeiro. De um lado, o uso de dinheiro em espécie entrou em declínio; de outro, meios tradicionais como cartões, DOC e TED perderam protagonismo. Apenas entre 2020 e 2024, o número de transações via Pix cresceu quase 3.600%.
Enquanto os cartões ainda crescem em volume, o crédito somou R$ 2,6 trilhões e o débito, R$ 976 bilhões em 2024, seu avanço é proporcionalmente inferior ao do Pix. Em resposta, bandeiras como Visa e Mastercard vêm tentando se adaptar, seja por meio de benefícios exclusivos, seja integrando-se ao ecossistema do Pix.
O Banco Central, por sua vez, insiste que o Pix não ameaça os cartões, mas sim o dinheiro físico. Ainda assim, a concorrência tende a se acirrar com o avanço de novas modalidades, como o Pix Automático, que já substitui cobranças recorrentes, e o Pix Parcelado, que permite compras fracionadas a custos menores.
TEDs, boletos e as resistências no B2B
Apesar do avanço nas transações entre empresas, o Pix ainda enfrenta desafios no segmento B2B. Em 2024, as TEDs movimentaram R$ 43,1 trilhões, quase o dobro do Pix, concentrando as operações de maior valor. Ainda assim, a quantidade de transações via TED caiu: foram 821 milhões no ano passado, contra mais de 1 bilhão em 2019.
O boleto também permanece relevante, sobretudo pela integração com ERPs e maior previsibilidade. De acordo com dados da Qive, entre janeiro de 2023 e setembro de 2025, o boleto movimentou R$ 2,47 trilhões, sendo dominante em setores como Saúde (79,4%), Infraestrutura (69%) e Varejo (67,8%).
Entre os métodos praticamente extintos está o DOC, ao lado da TEC. Ambos foram oficialmente descontinuados no primeiro trimestre de 2024, após anos de desuso. O número de saques também caiu drasticamente: de R$ 3,31 trilhões em 2029 para R$ 2,1 trilhões em 2024.
Desafios futuros
O avanço do Pix agora depende do lançamento de novas funcionalidades. O Pix em Garantia, que permitirá o uso de recebíveis como colateral em financiamentos, ainda não foi lançado. Já o Pix Parcelado carece de padronização entre as instituições.
Além disso, a próxima fronteira tecnológica está na interoperabilidade internacional. A expectativa é que, entre 2026 e 2028, hubs regionais de pagamentos comecem a se integrar, permitindo transações instantâneas entre diferentes países.
Apesar da regulamentação mais rígida, especialmente para empresas que antes operavam à margem da regulação, especialistas defendem que o sandbox regulatório continue ativo como forma de promover inovação com segurança.
Cinco anos após sua estreia, o Pix não só moldou o comportamento financeiro dos brasileiros, como também inspirou debates globais sobre o futuro dos pagamentos. E, ao que tudo indica, sua revolução ainda está longe de acabar.