
Formado em Economia, com passagens por gigantes como Goldman Sachs e Blackstone, Luiz Ramalho sempre teve o espírito empreendedor. Um dos primeiros investidores em Bitcoin e Ethereum, também construiu a Fingerprint, que se tornou uma das maiores coleções de NFTs de arte no mundo. Essa vivência internacional em criptoativos e tecnologia moldou sua visão inovadora ao fundar a Magie, fintech brasileira que integra Pix e Open Finance diretamente no WhatsApp.
“Os números do Pix são muito impressionantes. Quando fiz o comparativo com outros sistemas de pagamento, vi que era algo fora da curva. A nossa decisão foi intencional: vamos começar pelo Pix, porque já está funcionando. A ideia da Magie é ser um agente que cuida do dinheiro do usuário, expandindo depois para dar mais visibilidade, conselho e, eventualmente, oferecer produtos financeiros”.
Pix no WhatsApp: a disrupção que virou realidade
A aposta inicial foi ousada: permitir pagamentos Pix diretamente no WhatsApp. A escolha não foi à toa. No Brasil, grande parte das cobranças e transferências começa em conversas pelo aplicativo, e a inteligência artificial da Magie consegue identificar chaves Pix e executar transações em segundos.
“O que vimos desde o início foi que a experiência precisava ser útil e encantadora ao mesmo tempo. O ‘fator uau’ de poder mandar um Pix por mensagem de voz ou texto, aliado à praticidade, gerou retenção. Não era só um truque tecnológico, era algo que resolvia a vida de quem faz muitos pagamentos”, diz o fundador durante participação no Let’s Money Podcast.
O resultado fala por si: a Magie já movimentou mais de R$ 1 bilhão em transações e responde por cerca de 3% do volume de Pix via Open Finance.
O poder do Open Finance
A integração ao Open Finance foi determinante para o crescimento. Inicialmente, os usuários precisavam “abastecer” uma conta Magie para transacionar. Hoje, é possível conectar bancos diretamente e usar os recursos sem fricção.
“Com o Open Finance, conseguimos transformar a experiência: o usuário conecta seu banco, define limites e faz Pix sem precisar de várias etapas. É mais seguro, inclusive, porque dá para deletar os aplicativos bancários do celular e limitar os valores. Essa percepção de segurança reforçou a confiança no modelo, tanto que até grandes bancos replicaram o nosso fluxo”, ressalta Ramalho.
MegaSplit e Magie+: inovações que atraem usuários
Além de pagamentos, a Magie tem ampliado funcionalidades. Um exemplo é o MegaSplit, criado em um hackathon interno, que permite dividir contas de grupos – como viagens ou churrascos – diretamente no WhatsApp. A solução não exige que todos os participantes sejam clientes Magie, funcionando como porta de entrada para novos usuários.
Outro destaque é o Magie+, programa de recompensas que transforma o Pix em uma alternativa competitiva frente aos cartões de crédito, oferecendo cashback e benefícios em lojistas parceiros.
“O cartão ainda atrai usuários por crédito e recompensas. Por isso, criamos um programa que estimula o uso do Pix com benefícios reais, ao mesmo tempo em que ‘treinamos’ nossos clientes para as próximas etapas da Magie, em que produtos financeiros terão cada vez mais protagonismo”, afirma.
De olho no público PJ
A fintech também iniciou sua atuação para pessoas jurídicas, especialmente MEIs e empresas com um único sócio. A ideia é capturar toda a vida financeira desse perfil, que muitas vezes mistura PF e PJ em suas transações.
“O segmento PJ é natural para nós, porque muitos clientes já pediam. Mas escolhemos começar por empresas mais simples, com um único sócio, para não perder foco. A experiência de produto precisa ser impecável, e só depois avaliamos se vale expandir para estruturas mais complexas”, diz Ramalho.
Inteligência artificial no centro da estratégia
A Magie nasceu no WhatsApp, mas rapidamente entendeu o desafio de depender de um único canal. Hoje, também oferece um aplicativo próprio, garantindo redundância e mais espaço para experiências avançadas de IA.
“O que estamos construindo é um agente financeiro com inteligência artificial. Ele começa pelo Pix, mas já dá lembretes, organiza pagamentos e vai evoluir para aconselhamento e marketplace de produtos. A grande questão é lidar com a natureza não determinística da IA: 99% das vezes ela funciona perfeitamente, mas o 1% de erro precisa ser bem administrado. Preferimos priorizar a fluidez da experiência em vez de travar a tecnologia, como fazem alguns bancos”, aponta.
A queda dos custos dos modelos de linguagem também foi essencial para validar a aposta. “Quando começamos, muita gente dizia que era inviável manter um LLM na mão de cada cliente por causa do custo. Em dois anos, os preços despencaram quase 99%. Quem ficou parado perdeu tempo, enquanto nós já tínhamos experiência rodando em escala”, complementa.
O futuro
Para o futuro, a visão de Luiz Ramalho é clara: a Magie será um agente financeiro inteligente e multicanal, integrando pagamentos, gestão financeira, crédito e até criptoativos.
“Sempre acreditei que escolher o mercado certo é decisivo. O Brasil é um dos poucos lugares onde dá para construir uma fintech gigante. A vantagem injusta da Magie é combinar Pix, Open Finance e IA em um modelo que grandes bancos não conseguem replicar com agilidade. Acreditamos que, assim como aconteceu em outros mercados, essa convergência vai abrir espaço para novos players dominarem a próxima onda de inovação financeira”, conclui Ramalho.