
No episódio especial do Let’s Money Podcast, Gabriel Pereira recebeu dois nomes fundamentais da transformação digital das finanças no Brasil: Ana Carla Abrão, presidente da Associação Open Finance Brasil, e Marcelo Martins, cofundador da Iniciador. Eles compartilharam como o Pix, cinco anos após seu lançamento, se consolidou como mais que um meio de pagamento: virou substantivo, ferramenta de inclusão e base para a nova fase do Open Finance.
O crescimento do Pix foi explosivo. São 175 milhões de usuários, mais de 50% de todas as transações de pagamento do país, R$ 85 trilhões movimentados em cinco anos, mais de 200 bilhões de transações. Foi responsável por bancarizar 40 milhões de brasileiros e incluir 71 milhões de pessoas que estavam fora do sistema financeiro.
“Essa foi a projeção que eu fiz, que talvez eu tenha errado bastante para baixo. Espero errar outras para cima, pra ficar na média”, brinca Ana Carla. “Até o Banco Central ficou surpreso. O Pix se popularizou de um jeito que virou um bem da sociedade brasileira.”

“No primeiro momento foi o QR Code estático. Depois veio o dinâmico, o MED, o Pix Automático. O mercado também criou em cima: Pix Crédito, Pix em lote, início de pagamentos com biometria. Tudo isso está em produção hoje”, destaca Marcelo.
Como o Pix nasceu: decisão estratégica do Banco Central
A ideia não era nova. Pagamentos instantâneos já vinham sendo discutidos globalmente, mas nenhuma solução se impunha no Brasil. O mercado tentava se autorregular, com diversos QR Codes concorrentes. O Banco Central decidiu intervir.
“Ou era dessa forma, ou talvez a gente estivesse discutindo isso até hoje. O BC bateu no peito e disse: vamos fazer”, conta Ana Carla. “Era uma política pública.”
“O Pix veio sobre a estrutura da RSFN, a mesma base do TED. Mas é um novo produto, não depende do legado. O BC usou o que havia de melhor em 2020 e fez do zero”, explica Marcelo.
Resistência e ceticismo
A abordagem prescritiva do Banco Central incomodou muitas instituições. Do design da experiência à obrigatoriedade da marca, houve críticas e desconfiança sobre a capacidade de execução.

“Tinha muito ceticismo. O BC não teria recursos, ia dar problema, ia falhar. E a crítica de que estava lançando um produto, não regulando. O Pix superou todas essas expectativas”, lembra Ana Carla.
Open Finance: a camada que adiciona valor sobre o Pix
Atualmente, o Open Finance atua como “plugin” sobre o Pix. Ele não liquida, mas agrega dados, automação e segurança.
“O Open Finance é a base do novo mercado financeiro. De um lado estão os dados, do outro os pagamentos. No meio, inteligência artificial e interfaces conversacionais”, diz Marcelo.
“Cada produto novo tem que nascer com visão Open Finance First. Já temos saldo, iniciação, recorrente, transferências inteligentes. Agora vem Pix on File, Pix parcelado, Pix offline…”, complementa.
Impacto social e econômico
“O impacto principal é de cidadania. O Pix permitiu que as pessoas transacionassem, fossem incluídas, se sentissem cidadãs financeiras”, diz Ana Carla.
“O canal virou mais importante que a conta. Quem domina a interface, domina a relação financeira. Estamos vendo essa mudança agora”, diz Marcelo.

O futuro: portabilidade, automatização e personalização
Próximos passos incluem Pix parcelado, portabilidade de crédito e salário, integração com carteiras, biometria e Open Finance para PJ. O roadmap do Pix está cada vez mais colado ao do Open Finance.
“Vamos chegar num ponto em que a pessoa vai pensar: ‘lembra quando eu tinha 4 apps de banco?’. Vai ter uma wallet, uma interface. Vai ser tão natural quanto não ir mais à agência”, diz Ana.
Como se envolver
- A Associação Open Finance Brasil está revigorando seus canais e promove workshops e parcerias;
- Iniciador oferece infraestrutura e educação para instituições adotarem Open Finance;
- Associações como FEBRABAN, ABFintechs, ABEX, INIT têm grupos técnicos abertos para discussão.
“A caixa de ferramentas está pronta. Quem não estiver no Open Finance está perdendo mercado e cliente”, conclui Ana Carla.
“Temos segurança, automação, dados e liquidação. Agora é sobre como cada empresa vai usar isso na jornada do usuário”, finaliza Marcelo.