Foto: Abner Garcia / Let's Money
Foto: Abner Garcia / Let's Money

O correspondente bancário voltou ao centro do mapa. Num Brasil em que agências fecham e a bancarização cresce pelo Pix, quem domina distribuição, produto e atendimento sob medida está ganhando espaço e dinheiro. Gabriel Ramalho, CEO do Workshop Corban 360 e operador há 15 anos, resume sem rodeios o tamanho da oportunidade e a lógica do jogo: você presta serviço para bancos e fintechs, vende crédito e outros produtos, e é pago por comissão. É empreendedorismo puro, com responsabilidade regulatória, tecnologia a favor e uma camada que nenhuma IA substitui: confiança.

Mesmo com a inteligência artificial, o correspondente bancário nunca vai acabar. Em produtos financeiros, as pessoas precisam falar com um ser humano, tirar dúvida por vídeo, ter segurança na decisão.” — Gabriel Ramalho

Correspondente bancário: o que é e por que cresce

Por definição, o correspondente bancário (o “Corban”) é a empresa que intermedeia serviços financeiros de bancos e fintechs, crédito consignado (INSS, servidor, privado), pessoal com diferentes modalidades de pagamento, antecipação de FGTS, cartão consignado, consórcio, abertura de conta e mais. É diferente de “franquia” porque não exige a mesma estrutura nem taxa de entrada pesada. Você começa enxuto e escala conforme aprende a captar, vender e gerir carteira.

Uma das vantagens é poder começar com estrutura menor, sem grande investimento, e crescer de forma gradativa.” — Gabriel Ramalho

É também um mercado que ajudou a tapar buracos criados pela redução de agências. Onde o gerente prioriza o cliente de alta renda e metas múltiplas, o Corban encaixa quem precisa de atendimento prático e paciente — muitas vezes fora do horário bancário, pelo WhatsApp, com passo a passo no Meu INSS e assinatura guiada.

“Em vários lugares, o gerente do banco indica o cliente para o correspondente. Desbloquear benefício do INSS? O correspondente faz junto, sem pressa.” — Gabriel Ramalho

A expansão começou com força em 2004, quando o consignado do INSS ganhou escala e a remuneração passou a vir da comissão sobre a operação (e não do seguro agregado). Hoje, o Corban típico é “multibancos”: simula em vários parceiros e encontra a melhor taxa, prazo e política para cada perfil — uma vantagem competitiva real para quem atua como consultor, não como “tirador de pedido”.

Multibancos significa escolher o melhor banco para o cliente e para a operação. Não aprovou em um? Vamos ao próximo. A lógica é de consultoria.” — Gabriel Ramalho

Também é um negócio onde o humano segue determinante. Idosos, beneficiários do INSS e públicos menos bancarizados valorizam a validação humana no crédito — do “é golpe?” ao “qual é a melhor linha para limpar meu nome?”.

“Tem gente endividada no cheque especial que poderia trocar por consignado e pagar muito menos. O correspondente educa e acompanha.” — Gabriel Ramalho

Como começar: certificações, CNPJ e promotoras

Primeiro passo não é “abrir a loja”: é capacitação. Entender produtos, comissionamento, políticas, canais e o que dá ROI em cada praça acelera anos de tentativa e erro. A parte formal inclui certificação (Febraban, ANEPS/Nepomuceno), LGPD e PLD/AML, além de CNPJ com CNAEs corretos (prestação de serviços, não “emprestar por conta própria”). Um contador que conhece o setor evita escolher códigos errados e problemas fiscais.

Prova, CNPJ certo e parceiro certo. Corban não empresta: presta serviço. O dinheiro sai do banco direto para o cliente.” — Gabriel Ramalho

No início, quase ninguém tem volume para contratos diretos com bancos. A ponte são as promotoras — empresas que concentram relacionamentos com várias instituições e liberam logins de simulação e digitação. Com produção consistente, dá para migrar para o direto (melhores condições e atendimento dedicado).

“As promotoras são o atalho para acessar múltiplos bancos. Produziu, ganhou escala, negocia direto com a instituição.” — Gabriel Ramalho

Na prática, o fluxo é assim: o cliente chega, você simula em múltiplos bancos (cada qual com seu portal/API), apresenta as opções e recomenda a melhor combinação de taxa, prazo, carência, seguro (quando permitido) e jornada. O banco aprova, libera o valor direto ao cliente e você recebe a comissão. A relação não acaba no D+1: muitos produtos pedem renovação, portabilidade ou refin — e isso gera recorrência.

“Tem operação que renova a cada 60 dias. O correspondente vira consultor da família, não um vendedor de uma vez só.” — Gabriel Ramalho

E quanto se ganha? Depende do produto, público, prazo e ticket. Há comissões entre 3% e 35% por contrato, mas rentabilidade exige olhar CAC, ticket médio, taxa de aprovação e mix de produtos. FGTS, por exemplo, tem ticket baixo; consignado de servidor, ticket alto. Some a isso a política de cada banco e as campanhas que mudam ao longo do ano.

“Não é porcentagem pela porcentagem. A conta fecha com ticket, aprovação e CAC. Às vezes você ganha no volume; em outras, no valor por contrato.” — Gabriel Ramalho

Tecnologia, pessoas e o próximo passo

Tecnologia está em tudo: captação (tráfego pago, influenciadores, discadores, URA reversa, APIs oficiais de WhatsApp), gestão de vendas (CRM para produção, comissões, funis, SLA) e financeiro (comissão a receber, repasses, despesas). Para público INSS, rádio, carro de som e panfleto ainda convertem; para servidores, mídia paga com segmentação tende a performar melhor. O segredo é casar canal e persona e medir obsessivamente.

“Tem aluno que vende só internet, e outro que escala com rádio no interior. Produto e público ditam estratégia — dados fazem o ajuste fino.” — Gabriel Ramalho

Gente, porém, é o diferencial silencioso. O caminho típico: começar sozinho/duo, provar canais, depois montar time e criar squads por produto. Mantra de Ramalho: empresa multiproduto; equipe monoproduto. Especialistas por linha performam mais e erram menos. Na contratação, ele prefere formar do zero (menos vício, mais cultura) e remunerar com fixo + variável por metas.

Empresa multiproduto, equipe monoproduto. Especialista vende melhor. E treinar em casa vale mais do que tentar ‘importar’ vício.” — Gabriel Ramalho

Há três arquiteturas que funcionam: loja-balcão (regional, muito físico), central de vendas (nacional, WhatsApp+voz) e home office (estrutura leve, menos gestão). Dá para viver bem com qualquer uma, desde que a operação se profissionalize. Quem parar no tempo tende a encolher ou sair do jogo.

“As empresas que não se profissionalizarem vão sumir ou virar home office. Tecnologia é para escalar, não para substituir o humano.” — Gabriel Ramalho

E o “passo além”? Produtos próprios. À medida que um Corban prova distribuição (ex.: R$ 5–10 milhões/mês em produção), passa a fazer sentido bancarizar a operação por meio de um parceiro de core bancário e um veículo de funding (ex.: securitizadora, fundo). O objetivo é deixar de ganhar só comissão e capturar ágio/juros da carteira, com governança, capital e tecnologia.

“Uma tendência forte é o Corban virar fintech. Não é para começar por aí. Primeiro distribuição, depois produto proprietário com estrutura e parceiros sérios.” — Gabriel Ramalho

A narrativa de “IA vai matar o Corban” não fecha. Ela muda o como (mais automação, melhor roteamento, score, KYC mais ágil), mas reforça o porquê do humano: confiança, educação e adaptação. Beneficiários do INSS e públicos vulneráveis precisam de alguém que explique, compare e defenda o melhor para o cliente — inclusive para trocar dívida cara por barata e sair do vermelho.

Corban é negócio de impacto social. A gente ajuda a limpar nome, a pagar menos juros, a planejar. Isso não é script, é relação.” — Gabriel Ramalho

E os riscos? São exatamente os de qualquer empresa de vendas: desatualização, dependência de um canal só, gestão fraca e contabilidade/jurídico negligenciados. A vacina é conhecida: estudo contínuo, diversificação de aquisição, dados na veia, playbooks claros, compliance desde o dia 1 e caixa para variações de conversão.

“A barreira de entrada é baixa — por isso capacitação é o que separa quem escala de quem quebra.” — Gabriel Ramalho

No fim do dia, o mercado está mais competitivo — e maior. O Pix trouxe milhões para dentro do sistema; isso cria histórico que habilita crédito. Bancos seguem fechando lojas, mas ampliam parceiras com quem entrega resultado no varejo real. O Corban que junta método, multibancos, tecnologia, time e ética tende a surfar as próximas ondas: consignado privado ganhando tração, novos convênios, integrações mais fluídas, e, para os maiores, full stack de crédito com produto próprio.

“O mercado é de milhões e de mérito. Quem estuda, testa e profissionaliza o jogo cresce. Quem não, some.” — Gabriel Ramalho

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.