
“Isso resolve o problema de comunicação global, de financeiro e vai fazer transferências rápidas e seguras. Isso vai fazer com que você digitalize a economia de fato, só que isso propõe uma nova ordem econômica. Será que o mundo quer isso?”
A frase de Bernardo Srur, Presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABcripto), sintetiza a tese central em mais um episódio do Let’s Money Podcast: a criptoeconomia é uma resposta inevitável às limitações dos sistemas financeiros atuais. Em um bate-papo com Gabriel Pereira, o executivo detalha a trajetória da associação, os avanços em regulação e os produtos que estão moldando a adoção das criptos e das stablecoins no Brasil.
Bernardo, que preside a ABcripto desde 2021, tem uma trajetória incomum: começou como designer, migrou para TI, trabalhou com compliance e governança em grandes instituições como KPMG, Einstein e CETIP (onde participou da fusão com a B3), até entrar no Mercado Bitcoin em 2018. Nesse percurso, foi um dos fundadores da associação, criada num momento de baixa do mercado cripto, com foco em organização, representação institucional e educação.
Ecossistema da ABcripto
Com quase 60 associados, a ABcripto representa hoje o ecossistema completo: corretoras nacionais e internacionais (como Foxbit, OKEx), tokenizadoras (Liqi, GCB), fornecedores de solução (Fileblocks) e prestadores de serviço como consultorias e escritórios de advocacia.
“A associação existe para diminuir atritos entre setor privado, público e sociedade. Sem produtos e serviços, ela perde razão de existir”, afirma.
Entre os pilares da entidade estão:
- Formação de políticas públicas e privadas;
- Geração de dados e estudos sobre o setor;
- Educação e cultura, com capacitação de reguladores, servidores e conselhos administrativos.
A ABcripto atua como ponte técnica com reguladores. Criou o programa de autorregulação de PLD, expandido depois para tokenização e selo de certificação de empresas. Com a CVM, firmou um convênio para acelerar processos de licenciamento de tokenização, reduzindo o prazo de 1-2 anos para cerca de 45 dias.
Outro destaque é o CriptoJude, plataforma em construção com o CNJ para receber ordens judiciais de forma segura e digital, similar ao SISBAJUD do mercado tradicional. Também lançou o Hub-ABCripto, comunidade digital para profissionais do setor, e prepara a certificação CAV para especialistas em compliance.
Regulação fiscal: timing, riscos e distorções
A maior preocupação atual da ABcripto é com a MP 1303, que propõe tributação de criptoativos antes da regulamentação definitiva pelo Banco Central. O projeto inclui fim da isenção para vendas até R$ 35 mil, retenção de imposto na fonte e aplicação de CSLL sobre empresas cripto. Para Bernardo, isso pode criar desequilíbrios graves.

“A bolsa não faz retenção na fonte para ações. Como exigir isso de um mercado global e descentralizado?” Ele alerta para o risco de êxodo de investidores para plataformas estrangeiras, além da arbitragem regulatória com produtos como ETFs de cripto, que têm outro tratamento fiscal.
Stablecoins: o motor silencioso da adoção
Na visão da ABcripto, as stablecoins se tornaram o elo mais prático entre economia digital e real. Facilitam transferências internacionais, representam ativos (como dólar e ouro) de forma acessível e estão sendo adotadas por instituições para gestão de tesouraria.
“A gente vai ver stablecoin pública, privada, de banco, de ecossistema. Vai virar moeda do dia a dia”, projeta Bernardo. “Talvez o termo stablecoin até desapareça. Vai ser apenas dinheiro.”
O Brasil se posiciona como um dos mercados mais avançados na construção da criptoeconomia. E a ABcripto, sob a liderança de Bernardo Srur, segue como voz técnica e propositiva nessa transição que está longe de ser apenas especulativa: ela já molda a infraestrutura do futuro financeiro.