Foto: Abner Garcia / Let's Money
Foto: Abner Garcia / Let's Money

No Let’s Money Podcast, Jose Esteban compartilhou a história e os bastidores da entrada da Ebury Bank no Brasil, uma fintech britânica com receita anual superior a 300 milhões de libras. Sua missão: se tornar a ponte eficiente de pagamentos internacionais para pequenas e médias empresas (PMEs), unindo câmbio, hedge, financiamento e, agora, visão de futuro com stablecoins integrado à infraestrutura de câmbio.

“A missão da Ebury é ser a maior e melhor empresa de serviços de pagamentos para PMEs com foco cross‑border”.

De engenheiro civil ao câmbio global

Formado engenheria civil, Esteban migrou cedo para o mercado financeiro. Passou por bancos de investimento como Banco Fibra, ING e Deutsche Bank, com experiência em mercados estruturados e operações de câmbio em São Paulo, Houston, Nova York e Londres, além de um MBA pela Universidade de Chicago. Como ele mesmo destaca: “o câmbio sempre esteve presente na minha vida; a cada aquisição ou transação internacional, você lida com troca de moedas.”

Em julho de 2020, após a aquisição de metade da Ebury pelo Banco Santander, Esteban assumiu como CFO Global da empresa. Sua missão era clara: estruturar o back office, consolidar controles regulatórios, contábeis, de risco, e tornar a Ebury apta a uma eventual abertura de capital ou venda estratégica. Quando a Ebury direcionou sua estratégia para o Brasil, em 2021, ele entendeu que seria um terreno fértil.

“O Brasil é um país enorme, com volume diário de câmbio altíssimo, e toda operação cross‑border aqui envolve câmbio, diferente de mercados onde há moeda comum. O mercado brasileiro de PMEs é sofisticado e pronto para entender nossa proposta.”

Por que o Brasil e como a Ebury entrou

A escolha do Brasil não foi aleatória. Esteban explica que o país figura entre as maiores economias globais, com destaque para exportações/importações: “qualquer operação internacional no Brasil envolve câmbio”. Além disso, a presença de executivos brasileiros na liderança global da Ebury e a aquisição parcial pelo Santander ajudaram a reforçar o alinhamento estratégico.

A entrada se deu inicialmente por correspondência bancária, em parceria com o banco de câmbio local BEX Corretora de Câmbio. O modelo funcionou, adquiriram o BEX em 2022, e com aprovação do regulador foram transformados em banco de câmbio completo em dezembro de 2023. Desde então, a Ebury Brasil articulou seu plano de expansão local, com metas ambiciosas.

“Entramos como correspondente bancário; depois de validado o modelo, adquirimos o BEX, o acesso ao banco permite pensar grande, controlar preços e investir com consistência.”

O problema que existe e o espaço que a Ebury preenche

Para muitas PMEs que operam com comércio internacional, os desafios são claros: câmbio volátil, burocracia cambial, processos árduos de hedge, demora na conversão de moedas e incerteza regulatória. Muitas empresas têm dificuldade para planejar fluxo de caixa e proteger margens em operações internacionais.

Além disso, há casos de empresas que exportam ou importam, mas não têm políticas estruturadas de hedge, o que as expõe à volatilidade cambial.

“Muitas PMEs não têm hedge. A volatilidade do câmbio pode destruir margens ou inviabilizar o negócio. A Ebury oferece câmbio spot, contratos futuros (forwards) e financiamento de capital de giro (FINIMP) de forma integrada.”

Com a estrutura da Ebury, a empresa entrega não só câmbio, mas toda uma cadeia de serviços, entre câmbio pronto, hedge, financiamento, e agora, automação de compliance e KYC, usando tecnologia para tornar o onboarding e as operações mais simples.

O que a Ebury entrega hoje às empresas

  • Câmbio spot — conversão de moedas para transações internacionais.
  • Hedge (forwards e contratos futuros) — para empresas que querem estabilizar margens e proteger receitas contra flutuações cambiais.
  • Financiamento de capital de giro (FINIMP) — útil para importadores/exportadores com gaps entre contrato e liquidação.
  • Infraestrutura de APIs / FX‑as‑a‑Service — para empresas com pagamentos internacionais automatizados, ERPs e operações recorrentes, oferecendo automação via integração direta.
  • Fluxos agregados de pagamento — para empresas com muitos clientes fora do país (ex: plataformas de streaming, SaaS, marketplaces), coletando pagamentos em moeda local e entregando um valor consolidado em dólar.

“Nosso cliente entra, diz onde os recursos estão e onde quer que cheguem, então nós cuidamos do câmbio, compliance, documentação, tudo para que ele receba onde precisa.”

Para PMEs com faturamento entre R$ 20 e 50 milhões por ano, o foco da Ebury no Brasil, essa proposta representa vantagem competitiva: agilidade, previsibilidade e mitigação de risco cambial.

Os bastidores

Trazer uma fintech global para operar no Brasil significou enfrentar desafios de governança, múltiplas jurisdições e sistemas regulatórios distintos. “Quando você combina diferentes países, com normas contábeis, fiscais e regulatórias distintas, preparar o back‑office para compliance global é como trocar o pneu com o carro andando a 200 km/h.”

Foto: Abner Garcia / Let’s Money

Foi necessário adaptar os processos globais da Ebury às particularidades brasileiras, desde requisitos regulatórios até estrutura tributária, compliance e capital requerido. Esse trabalho foi essencial para que o banco pudesse operar de forma independente, robusta e preparada para expansão.

O futuro

Para Esteban, o mercado cambial está à beira de uma nova era. Ele aponta três vetores principais:

  • Stablecoins como infraestrutura de liquidação: “Stablecoins de moedas globais, como USD, EUR, fazem sentido — reduzem intermediários, aumentam velocidade e garantem rastreabilidade via blockchain.” Com regulamentação cripto a caminho no Brasil, a Ebury monitora como isso pode revolucionar pagamentos internacionais.
  • Automação e compliance via IA e dados: A expectativa é usar inteligência artificial para automatizar a validação de documentação, análise de risco, KYC/AML e monitoramento contínuo de fraude.
  • APIs e integração direta com ERPs: O objetivo é oferecer “FX as a Service”: empresas acessarão câmbio e pagamentos internacionais diretamente pelos seus sistemas internos, sem precisar de balcão.

“Vejo um futuro onde o dólar vira token, o pagamento cruza fronteiras em segundos e o compliance é automático. Quem dominar esses motores vai dominar o câmbio global.”

Ele acredita que, com base regulatória clara, especialmente para stablecoins e criptoativos, o Brasil pode se tornar um hub relevante para pagamentos internacionais pela América Latina.

Para tesoureiros, CFOs e gestores de empresas que operam internacionalmente, a proposta da Ebury representa duas transformações decisivas:

  1. Redução de risco cambial e proteção de margens — hedge e estrutura de câmbio profissionaliza o acesso a câmbio, antes restrito a grandes corporações.
  2. Eficiência operacional e compliance robusto — com tecnologia, a burocracia e custo operacional diminuem; o compliance e a governança ganham padronização global.

Além disso, com a evolução das stablecoins e a infraestrutura digital, o câmbio pode deixar de ser uma dor operacional e se transformar em commodity de baixo custo, abrindo espaço para inovação financeira, novos modelos de negócio e maior competição.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.