
Direto de Las Vegas, durante a edição 2025 da Money 20/20, o Let’s Money Podcast reuniu três representantes-chave do ecossistema financeiro brasileiro para discutir os avanços e perspectivas do Open Finance no País: Natacha Litvinov (Google), Luciana Kairalla (Nubank) e Gustavo Bresler (Iniciador).
O bate-papo, conduzido por Gabriel Pereira, fundador da Let’s Money, revelou como o Brasil está se consolidando como referência global na integração de dados, pagamentos e experiência do usuário.
“Estamos falando de uma infraestrutura enorme que já conecta mais de 100 milhões de contas e movimenta bilhões de reais. Mas o mais importante é entender o que está sendo construído em cima dessa base”, explicou Gabriel na abertura.

Para Natacha, que lidera o Google Pay na América Latina, o Open Finance foi determinante para o lançamento da função de pagamentos com Pix dentro da Google Wallet.
“Queríamos oferecer uma carteira adequada ao consumidor brasileiro, e isso exigia integração com o Pix. Mas sem participar do Open Finance, isso não seria possível”, afirmou.
Ela ressaltou ainda o desafio de alinhar times globais e locais em torno de uma experiência de usuário fluida. “Foi um esforço multidisciplinar. Produto, compliance, parcerias – todos envolvidos para chegar a uma solução segura e viável para o Brasil.”

Dados que revelam o consumidor
Luciana Kairalla, gerente de plataformas de crescimento e Open Finance do Nubank, destacou a centralidade dos dados no modelo de negócios da instituição.
“Open Finance não é um projeto no Nubank. É um componente de transformação do nosso modelo de negócio baseado em dados.” Segundo ela, mais de 15 milhões de clientes já compartilharam dados externos com o banco, e o Nubank também lidera como principal fornecedor de dados no ecossistema.
Um dos destaques são os insights gerados com IA a partir desses dados. Luciana cita como exemplo um alerta que informa o cliente quando ele está utilizando o cheque especial mesmo tendo saldo positivo em outra conta.
“Conseguimos reduzir o tempo médio de permanência no cheque especial em três dias para milhões de clientes”, explicou. Outro caso é quando avisa usuários que estão pagando taxas em outros bancos por serviços que poderiam ter gratuitamente no Nubank. “Mais de 2 milhões de pessoas foram impactadas por esse alerta”, completou.

A nova primazia: da custódia ao canal
Para Gustavo Bresler, cofundador da Iniciador, o Open Finance está redefinindo a primazia bancária. “Antes, a vantagem era ter a custódia dos fundos. Agora, quem controla o canal, ou seja, a interface usada pelo cliente, é quem dita as regras”, afirmou.
A Iniciador fornece infraestrutura para instituições financeiras e fintechs, e tem atuado diretamente na evolução técnica do sistema, como a criação de APIs de pagamento, transferências inteligentes e o futuro Pix com parcelamento.
Ele destaca o surgimento de novas interfaces de gestão financeira, como os assistentes Maggie e Jota, que operam dentro do WhatsApp.
“É possível orquestrar fundos de múltiplas contas em um só pagamento, tudo dentro de um chatbot. Isso muda completamente o jogo”, disse.
O consenso entre os convidados é que o Open Finance deve ser percebido como uma camada subterrânea, não como um produto.
“O desafio não é explicar o que é Open Finance, mas mostrar o valor direto para o cliente final”, defendeu Luciana.
“A mágica acontece quando você conecta a conta e vê que pagar com Pix ficou tão fácil quanto com cartão”, reforçou Natacha.
O que vem por aí
Os três entrevistados estão otimistas com os próximos passos da agenda regulatória. Luciana cita com entusiasmo a portabilidade de crédito, prevista para o início de 2026, e o fortalecimento da iniciação de pagamentos.
Natacha enfatiza a importância de participar ativamente das discussões técnicas para aproveitar as oportunidades futuras.
Gustavo menciona o Pix com parcelamento e a consolidação do canal como principal ponto de oferta de produtos financeiros.
“Estamos vendo o Brasil se tornar um benchmark mundial em Open Finance”, concluiu Gabriel Pereira. “E essa revolução, embora invisível para muitos, já está transformando profundamente o jeito como lidamos com dinheiro.”