Foto: Abner Garcia / Let's Money
Foto: Abner Garcia / Let's Money

Formada no início dos anos 2000, a Finnet nasceu resolvendo uma dor que precede o Open Finance: a conectividade entre empresas e bancos. No Let’s Money Podcast, o CEO e cofundador Yoshimiti Matsusaki reconstrói essa trajetória e explica como a companhia evoluiu de integradora técnica a plataforma SaaS multi‑banco e multi‑empresa.

“Esse mundo de integração sempre existiu, sempre foi uma dor das empresas. A gente percebeu que esse processo ainda pecava por uma certa celeridade. O Open Finance, na verdade, só veio para organizar essa demanda, essa dor que sempre existiu.”

Conectividade antes do Open Finance

No começo, integrar significava traduzir tecnologias diferentes de transporte de dados — de Frame Relay e X25 a VPNs. A Finnet atuou como um “adaptador universal”, fazendo as informações fluírem entre bancos e ERPs corporativos.

“A forma como elas chegavam e transportavam os dados financeiros eram diferentes. A gente se conectava e pegava a informação que saía do banco num tipo de tecnologia, fazia adequação da informação e entregava na outra tecnologia.”

O prestígio com grandes instituições veio cedo. Projetos com bancos exigiram homologações longas e rigorosas, elevando o padrão de segurança e depurando o produto.

“Tem um processo de homologação natural. O nível de exigência de segurança de um grande banco é alto. A gente ficou quase um ano depurando o produto, discutindo sobre o processo financeiro.”

Mudança de modelo: do banco para a empresa

Depois de anos atendendo sobretudo a bancos, a Finnet inverteu a lógica comercial: passou a entregar diretamente para as empresas, que então escolhem com quais bancos operar.

“99% da nossa receita era oriunda de bancos. Menos contratos e muitos bancos. Chegou a conclusão: espera aí, a gente pode inverter esse caminho. Vamos oferecer o serviço para as empresas onde elas se integram aos bancos que elas quiserem.”

O efeito rede veio do “follow the money”: grandes âncoras conectadas a médias e pequenas empresas, multiplicando o alcance do ecossistema.

“Quando a gente começou a explorar o lado corporate, essa empresa também está conectada a outras empresas de porte menor, o que eu chamo de supply chain financeiro. Follow the money. Hoje, a gente tem 100 mil empresas integradas e quase 4 milhões de CNPJs dentro dessa rede.”

Do ‘adaptador’ ao SaaS multi‑banco

Com a conectividade madura, a dor migrou para o conteúdo. A Finnet passou a padronizar layouts, mapear formatos e, depois, processar dados como plataforma, dando origem ao Bank Manager.

“A gente percebeu que havia gaps de conectividade. E no final a gente percebe que existiam gaps de informação também. A gente começou a fazer essa adequação, inclusive, da informação. No passo seguinte, a gente começou a processar as informações de fato e foram nascendo soluções SaaS.”

Atualmente, o Bank Manager consolida operações de extratos, pagamentos, tributos e folha, removendo a necessidade de múltiplos logins em internet bankings.

“Basicamente, o Bank Manager é um Internet Banking em que você faz todas as operações que faria no banco. E, numa mesma interface, você escolhe o banco que vai operar. Hoje a gente tem mais de 120 bancos integrados.”

PIX como acelerador: o ‘Bolê Pix’

A cada mudança regulatória, a Finnet encurta o caminho entre novidade e operação. Com o PIX, lançou uma ponte antes do boleto híbrido dos bancos, permitindo receber via PIX com os dados do boleto.

“Logo que nasceu o PIX, o pessoal que estava recebendo por boleto também tinha uma oportunidade de receber por PIX. A gente lançou no mercado o que internamente chamamos de Bolê Pix. Conforme o pagamento era efetuado, aquele PIX pago a gente processava e informava como se o boleto tivesse pago.”

A estratégia é replicar soluções de uma dor para toda a comunidade conectada, reduzindo fricção de ERP e tempo de go‑to‑market.

“Toda vez que a gente descobre uma dor, aquele modelo, como é estritamente financeiro, a gente consegue pegar e replicar dentro da comunidade, dentro do ecossistema.”

Cash pooling e poder de negociação

Concentrar saldos de múltiplas contas no fim do dia aumenta o poder de barganha e melhora o rendimento do caixa, sobretudo em ambientes de Selic alta.

“O dinheiro acaba adormecendo em contas. Quando você traz tudo e põe numa conta, você atinge um patamar interessante para negociar investimento ou retorno com o banco. A gente desenvolveu a solução de cash pooling.”

Foto: Abner Garcia / Let’s Money

No dia a dia, a arquitetura multi‑banco facilita migrar volumes para capturar melhores tarifas, um ganho material para quem processa milhares de pagamentos.

“Se ele movimenta 10 mil pagamentos e tem uma tarifa de R$ 5, um ganho de R$ 1 já é significativo. A solução permite que ele automaticamente passe a operar no banco X, segundo a negociação.”

Antecipação de recebíveis com risco sacado

Ao dar visibilidade ao fornecedor nas cadeias de pagamento, a Finnet habilitou crédito mais barato via marketplace de antecipação, beneficiando toda a cadeia.

“Surgiu uma grande oportunidade de antecipação de recebíveis. Fizemos um marketplace de antecipação e já movimentou, no ano passado, cruzando 20 bilhões.”

ITP e ENIT: o lugar da Finnet no Open Finance

A empresa escolheu o papel de ITP — iniciar pagamentos sem reter recursos — coerente com sua história de orquestrar instruções. A atuação inclui participação ativa na ENIT e nos grupos do Bacen.

“O que nós fazemos são transações sem reter o dinheiro. As IPs ficam com o fluxo do recurso; a ITP pilota as instruções. A ITP é o que faz mais sentido.”

Ainda há desafios: qualidade de dados em alguns bancos e consentimento de PJs com múltiplas alçadas. A Finnet leva esses pontos ao regulador com propostas práticas.

“Alguns bancos, a estrutura vem falha. Esse é um trabalho que a gente faz junto à ENIT e ao Banco Central. Em PJ, a complexidade é obter consentimento quando há diversos decisores.”

Automação total e IA como ‘super automação’

O roadmap aponta para o financeiro totalmente automatizado, do PIX automático a recomendações que otimizam fluxo de caixa e tarifas entre bancos.

“A AI é uma super automação. A gente gera oportunidades de apoio a decisões, como ver que a movimentação seria melhor no banco B do que no banco A.”

O objetivo é transformar o financeiro de centro de custo em gerador de oportunidades, monetizando fluxos em vendas, marketing e estoque.

“Não é simplesmente administrativo. Que oportunidade eu tenho de colocar dispositivos financeiros no meu processo de vendas e monetizar a operação?”

A evolução das soluções acontece em cocriação com clientes, encontros que priorizam features com aderência imediata.

“O processo de evolução do produto é ditado pela comunidade. A gente chama os clientes para que se sintam pai e mãe daquele produto. Ter cliente é uma coisa, outra coisa é ter torcedor.”

Educação financeira para PMEs

Para liberar todo o potencial de Open Finance e PIX no mundo PJ, tecnologia precisa vir acompanhada de maturidade financeira, da separação PF/PJ à leitura de tarifas e juros.

“O que a gente tem que caminhar em paralelo é a maturidade financeira. Nas PMEs, os vícios da pessoa física são levados também para a pessoa jurídica.”

Na visão da Finnet, conectividade é meio; resultado, o fim. A missão agora é acelerar a automação, melhorar a competitividade e apoiar decisões com dados, do extrato em tempo real ao PIX inteligente, da negociação de tarifas à antecipação de recebíveis.

“Imagina você automaticamente receber uma oferta para reduzir custo migrando PIX e cobrança para outro banco. O empreendedor está muito ocupado para ganhar dinheiro, mas não tem tempo para cuidar do dinheiro que ganhou.”

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.