Foto: Abner Garcia / Let's Money
Foto: Abner Garcia / Let's Money

“Core caiu, tudo para.” Em um papo com Gabriel Pereira No Let’s Money Podcast, Marilyn Hahn, cofundadora da Lerian, detalha a aposta em ledger open source e em um ecossistema de plugins para tirar o core bancário da caixa-preta e devolver velocidade, transparência e margem a bancos e fintechs.

O core bancário registra cada débito, crédito, Pix, boleto e sustenta saldos, extratos, contabilidade e reporte ao regulador. Se erra ou sai do ar, o efeito dominó atinge cliente, SAC e Banco Central.

É a operação mais crítica do banco. Se o core falha ou reporta errado, estoura em cadeia: cliente reclama, compliance acende alerta e o regulatório volta com inconsistência.”

Os três pilares do core bancário (versão Lerian)

A Lerian estrutura o core em três camadas: ledger (razão performática e segura), regulatório/contábil (extração e reporte confiável a BC e Receita) e transacional (mensagerias como Pix, do KYC ao reporte diário).

Ledger é o coração. É dali que derivam saldos e conciliações; o regulatório dá legitimidade aos números; e a camada transacional orquestra a jornada, do cadastro ao Pix batendo no BACEN.”

A queixa clássica dos legados? Monólitos caros e pouco transparentes, com customização por homem-hora e prazos longos. A Lerian abriu o código do ledger para que o cliente baixe, rode e customize. “Nos legados você ‘compra a caixa’ e liga para pedir ajuste: ‘show, X horas e entrega em dois meses’. Nossa disrupção foi lançar o primeiro ledger open source da América Latina. Você baixa e sobe um core em ~30 minutos.”

Custo que fecha a conta

Modelos SaaS tradicionais cobram setup + tarifa mínima + hosting variável (por transação/conta). No fim, o core pode engolir a margem. A Lerian transfere a hospedagem para a infraestrutura do cliente e monetiza suporte e plugins (OPEX).

Estimativa global: de cada US$1 de receita bancária, US$0,65 vai para core. Ao rodar na sua nuvem, some setup e hosting variável. Fica um suporte previsível e plugins por assinatura em vez de obra sob medida.”

Para trocar o legado sem parar a operação, a Lerian propõe o shadow ledger: rodar novo e antigo em paralelo, com os mesmos dados, conciliando até ganhar confiança para o big bang.

“Com shadow ledger, você espelha os dados, concilia linha a linha e só desliga o legado quando o novo estiver 100% idêntico. Migração fica menos arriscada e sem ‘dobrar’ a fatura por um ano.”

Marketplace de plugins (e renda para o ecossistema)

Open source puxa comunidade. A Lerian publica boas práticas, valida qualidade e abre um marketplace: há plugins nativos (agnósticos de país) e regionais (ex.: emissão de boleto). Cliente e parceiro podem vender para a base.

“Um cliente criou a nossa integração de boleto via BaaS e quis listar no marketplace. Virou canal de vendas para ele e solução pronta para outros. Ganham o dev, o cliente e o ecossistema.”

A prioridade é fechar o “trio de ferro” (ledger, regulatório, transacional) com Pix direto e, em seguida, módulos de reconciliação e um workflow low-code para montar fluxos (ex.: abertura de conta com KYC).

Pix é o trilho dominante. O produto transacional vai engolindo DOC/TED e puxa padronização. Depois, vem workflow low-code para orquestrar regras complexas sem depender de squad inteiro.”

Liderança feminina: preparo como alavanca

Num setor técnico e majoritariamente masculino, Marilyn defende reduzir o “barulho” e aumentar a base técnica sem negar os obstáculos.

Eu decidi estar mais preparada do que todo mundo na mesa. Tecniquês, regulatório, produto. A estrutura ainda tem vieses? Tem. Mas conhecimento dá poder de negociação e abre portas hoje e sempre.”

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.