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Gamificação para engajamento: a aposta da Monaco com Claro e Vivo

Carlos Carvalho, CEO da Monaco, explica como jogos casuais e jornadas gamificadas estão aumentando retenção e tempo de tela — e já mostram tração em gigantes de telecom

“Um dado super legal: 60% é a média de desinstalação de um app nos primeiros 30 dias no Brasil. O problema é retenção, engajamento e reduzir churn. O que a gente está resolvendo é a interação com o cliente”, diz Carlos Carvalho, CEO e cofundador da Monaco, em sua participação no Let’s Money Podcast.

Foto: Abner Garcia / Let’s Money

O executivo lançou a startup em janeiro de 2024 buscando atacar uma dor que atravessa fintechs e apps de todos os setores: bases gigantes, MAU (Monthly Active User) minguado e CAC (custo de aquisição de clientes) que não se paga. “Eu sempre falo: gamificação não é só ferramenta, é comportamento humano. Todo mundo quer ganhar alguma coisa — e quer usar na hora.”

A Monaco nasceu olhando para games e ativos digitais; protótipos foram à rua, mas a equipe percebeu que abrir uma fintech nesse nicho encareceria a jornada. “A gente pivotou para gamificar a jornada do cliente e usou nossos jogos casuais como atrativo. O objetivo é entender o comportamento e gamificar as interações para melhorar retenção e engajamento.”

Numa base de 5 milhões de usuários com apenas 2% de MAU, Carvalho enxerga “dinheiro parado” — CAC sem retorno. A resposta da Monaco combina ranking (“a primeira feature”, enfatiza), sistema de pontos, badges, recompensas em formato de quebra-cabeça e notificações contextualizadas.

“Quando eu mando a mensagem no horário em que você costuma entrar, a taxa de abertura passa de 80%”, diz. O desenho das mecânicas bebe em frameworks como Octalysis, mas o mantra é simplicidade: ciclos curtos de recompensa e uso imediato (“ganhou 10 pontos? já aplica 1% de cashback agora”).

“Qual a primeira ficha para gamificar um produto? Ranking. As pessoas gostam de competir.”

Claro, Vivo e a curva de engajamento
Nos primeiros clientes enterprise — Claro (Claro Prezão) e Vivo (Vivo Free) —, a Monaco embeda quatro jogos casuais dentro do app da operadora (via WebView). O usuário joga, ganha tickets e os converte em moedas que viram pacotes de dados (10–20 MB), tudo 100% digital.

Em cerca de 45 dias na Claro, o piloto somou 30 mil usuários, 100 mil partidas e mais de 5 milhões de tickets gerados. O tempo médio de sessão no app da Monaco passa de 3 minutos — número que, em muitos apps utilitários, não aparece nem no mês inteiro.

Os dados comportamentais também contam história: mais de 60% da base acessa entre 19h e meia-noite, de quarta a sábado. “Isso ajusta a régua de comunicação e abre espaço para cross-sell dentro do app principal. Primeiro a gente prende a atenção; depois, direciona para a ação que importa”, explica.

No detalhe, as mecânicas se retroalimentam. O usuário joga 2–3 minutos, confere ranking, visita a loja para um rewarded ad e volta ao jogo com mais uma “vida”. “A gente monetiza sem quebrar a experiência. Nada de intersticial gritando; recompensa contextual e vida extra”, diz Carvalho.

O mesmo vale para jornadas de negócio: terminou uma partida? surge um pop-up oferecendo triplo de tickets se o usuário conectar o Open Finance. “É jornada gamificada de ponta a ponta.”

Como a Monaco entrega sua plataforma
A visão é B2B plug and play. A engine de gamificação roda via SDK/WebView ou fora do app do cliente, recebendo eventos por uma API simples (quem, o que, quando). “Se o backlog do cliente está cheio, começa pela Monaco. Manda os eventos — ‘fez Pix’, ‘pagou fatura’, ‘assinou produto’. A gente prova a tese com dados e, depois, integra no app principal.”

Foto: Abner Garcia / Let’s Money

A plataforma permite múltiplas jornadas simultâneas e contínuas (curtas, médias e longas), além de quebra-cabeças com peças colecionáveis que destravam badges raras. Customização visual é leve (cores, logos, mascotes); a Monaco não é estúdio: “Vamos ter até oito jogos casuais — simples, bonitos e rápidos. O jogo é o gatilho; o valor está na jornada e nos dados.”

Por trás, IA acelera. “Rodamos na AWS com Bedrock, usando um gateway que chama três LLMs (como Sonnet, Haiku e um modelo 70B) em paralelo para minerar padrão de uso e sugerir jornadas. Eu começo simples, escalo o prompt e valido precisão passo a passo.”

O resultado: insights práticos (janelas de atenção por cluster, propensão a aceitar uma oferta, momento ideal para ‘dobrar pontos’). “IA virou superpoder para MVP e para aprimorar o funil.”

O futuro da gamificação
A Monaco mira telcos, fintechs, edtechs, varejo, hotelaria, agro — qualquer operação que precise aumentar tempo de tela, recorrência e frequência transacional. O roadmap empilha features de loyalty em tempo real (sem aquela inércia do ‘pontos que só acumulam’) e insights setoriais.

“Quando cruzo jornadas de telco, fintech e educação, eu começo a desenhar a jornada quase perfeita por indústria”, projeta Carvalho. No horizonte, a própria plataforma pode virar fonte de inteligência — um “broker de insights” sobre comportamento e engajamento, sempre preservando experiência e segurança.

No fim, a régua é clara: menos CAC desperdiçado, mais LTV e menos churn. “Se você tem uma base grande e um MAU pequeno, gamifique a jornada. Capture atenção por minutos, recompense na hora e conduza o usuário para o que importa. O resto é efeito composto.”