
No mais novo episódio do Let’s Money Podcast, Irene Pondé Barretto, CEO e cofundadora da Limoney, bateu um papo com Gabriel Pereira e compartilhou sua trajetória de 26 anos no Itaú Unibanco e a decisão de empreender a partir de uma tese: o Open Finance pode empoderar pequenas e médias empresas a dominarem suas finanças com automação e inteligência.
Irene foi, por décadas, uma das lideranças do Itaú em projetos de varejo, segmentos de renda, fusões e expansão internacional. Atuou na consolidação da fusão com o Unibanco, na gestão do crédito consignado, e na liderança de projetos de digitalização em vários países da América Latina. Ao perceber que seu ciclo como executiva estava se encerrando, decidiu investir em tecnologia aplicada à gestão financeira para PMEs.
“Me apaixonei pelo que a tecnologia é capaz de fazer. E assistindo também o que o regulador brasileiro vem fazendo, em tentar abrir o mercado, trazer competitividade… A gente aposta que é um caminho sem volta.”
O pivô da tese original para uma nova dor
A Limoney começou com uma tese de conectar profissionais autônomos a bancos para distribuírem crédito PJ. Rapidamente, a equipe percebeu os limites do modelo: baixa remuneração, alto CAC e a perda do cliente para o banco originador.
“A gente viu que quem controla a experiência com o cliente é quem tem a jornada do fluxo de caixa. Se você não resolve o operacional, não fideliza o cliente.”

O pivô veio com uma nova proposta: usar dados do Open Finance para automatizar o fluxo de caixa, tanto no contas a pagar quanto no contas a receber, devolvendo ao empresário previsibilidade financeira e eliminação do operacional manual. A ideia era simples: “Tirar trabalho e devolver tempo para focar no negócio”.
Integração entre operação e financeiro
A solução da Limoney se posiciona entre o ERP e o banco, atendendo empresas sem sistema contábil próprio. A plataforma automatiza desde a emissão de notas e cobranças até o recebimento, a conciliação e a preparação de relatórios para o contador. Inclui, também, funcionalidades de leitura inteligente de documentos (como boletos e notas fiscais), que alimentam a previsão de caixa.
“O pequeno empresário é multitarefa. Ele não tem tempo nem especialização para ficar conciliando pagamento ou emitindo boletos manualmente. A gente resolve isso pra ele.”
A empresa não opera como conta bancária e é agnóstica quanto a bancos: pluga via API e inicia pagamentos ou cobranças diretamente do banco do cliente.
Especialização por segmento e automação fim a fim
Para entregar maior grau de automação, a Limoney tem se aprofundado por nichos dentro do setor de serviços. A empresa já atua com clínicas médicas, corretoras de seguros e empresas de mídia, cada uma com suas particularidades operacionais.
No caso de clínicas, por exemplo, a conciliação exige leitura de pagamentos agregados vindos de operadoras de saúde e posterior split para multiprofissionais. Em corretoras, o desafio está em organizar recebimentos de dezenas de seguradoras. Em todos os casos, a plataforma acopla funções operacionais para alimentar automaticamente o financeiro.
“Nosso objetivo é encaixar a ferramenta no dia a dia do cliente. Entender o fluxo da clínica, da corretora, e automatizar aquilo que tira tempo e gera erro.”
Open Finance: avanços e entraves
Apesar do entusiasmo com o potencial do Open Finance, Irene aponta dois gargalos críticos:
- Qualidade dos dados: problemas de categorização errada e informações faltantes ainda exigem “pós-processamento” dos dados coletados.
- Jornada de consentimento: considerada o maior entrave. Mesmo a “jornada simples” é quebrada e gera frustração, pois o dado muitas vezes não chega ou vem incompleto.
“O Open Finance está no caminho certo, mas ainda exige que a gente complemente com outras APIs. O desafio é não frustrar o cliente.”
Para contornar essas limitações, a Limoney pluga APIs bancárias adicionais e prepara sua plataforma para lidar com futuros cenários, como Pix Automático e Pix Parcelado, que vão exigir novos mecanismos de conciliação e gestão de inadimplência.
Visão de futuro e uso de IA
A Limoney utiliza IA para ler e extrair dados de documentos e estuda aplicar IA generativa para gerar insights e previsão de caixa.
“A IA tem que ser uma ajudante invisível. A gente está muito atento a não criar mais confusão para o cliente. Tem que simplificar.”
A empresa trata com cautela o uso de modelos sensíveis em contexto financeiro, mas aposta que a riqueza da base de dados tornará esse diferencial cada vez mais relevante.
“O grande charme da ferramenta não é entregar a automação, mas é entregar os insights e a previsibilidade de caixa.”
Liderança feminina com visão pragmática
Irene relata ter encontrado mais apoio do que barreiras por ser uma mulher fundadora. Vê um crescimento de lideranças femininas no ecossistema, mas reconhece que a base ainda é predominantemente masculina, especialmente em tecnologia. Destaca a importância de fomentar diversidade desde a formação universitária.
“Vejo mais portas se abrindo, mas ainda temos que insistir muito para ter representatividade. É um processo de geração.”