
No novo episódio do Let’s Money Podcast, Gabriel Pereira recebe Gustavo Lino, diretor executivo da INIT – Associação dos Iniciadores de Transação de Pagamentos – ITPs no Brasil – e head de policy e legal da Cumbuca, um ITP puro que atua como infraestrutura.
“Nos cinco anos de Open Finance, a gente está em menos de 1% do que o ecossistema pode entregar de valor para o mercado”, afirma Lino.
O episódio explora o papel dos ITPs dentro do Open Finance, seu potencial transformador e os desafios enfrentados na regulação e adesão de grandes instituições.
Inovação em pagamentos e papel do Banco Central
Lino conta que seu primeiro contato com o Open Banking ocorreu na Stone, em discussões com o Banco Central sobre as experiências do Reino Unido e Austrália. “Não dá pra falar que o Brasil não é um world adopter em inovação financeira. O Banco Central é técnico, rápido e pró-inovação”, diz.
Segundo ele, a LGPD foi um marco: “Com o consentimento, o usuário pode compartilhar seus dados. Isso nos deu a base jurídica para avançar no Open Finance.”
O que é um ITP?
Inspirado em modelos como PISP e AISP, o ITP é uma instituição regulada que inicia pagamentos sem deter os fundos. “A gente costuma comparar com um garçom: pega o pedido e leva até a cozinha, mas não toca na comida. O dinheiro vai direto do pagador ao recebedor”, explica.
O ITP puro, que não detém contas, promove competição por não ter interesse em reter fundos. “Ganhamos na experiência. Nosso foco é facilitar a vida do cliente”, diz Lino.
“A experiência do usuário é onde vai acontecer a disputa no mercado financeiro”.
Fluxos mais fluídos com a JSR
Um dos grandes avanços foi o desenvolvimento da JSR, que permite pagamentos sem redirecionar o usuário para o aplicativo do banco. “Antes a taxa de conversão era baixíssima. Com o uso do protocolo FIDO2, conseguimos criar um modelo que é mais seguro do que o pagamento por cartão por aproximação”, afirma.
Esse fluxo dá origem ao chamado Pix por aproximação, em que o valor aparece na tela do celular e é confirmado pelo próprio cliente. “O golpe da maquininha não existe nesse modelo”, diz.
Por que criar a INIT
A INIT nasceu para dar voz aos ITPs em um ambiente regulatório dominado por detentores de conta. “Todas as cadeiras do Open Finance representavam quem toca no dinheiro. Mas os ITPs têm prioridades diferentes, e era preciso uma representatividade específica”.
A maioria dos ITPs opera em modelo B2B, oferecendo infraestrutura para que empresas não licenciadas acessem o Open Finance. “O impacto maior vai estar fora do mercado financeiro: no varejo, telecom, streaming, facilitando pagamentos e oferta de crédito”, diz.
Ele destaca casos de uso como validação cadastral, agregador de contas, BFM para empresas e marketplace de crédito no Pix parcelado.
“A gente vai ver um novo mercado de crédito e de pagamentos surgindo em cima do Open Finance”.
Polêmicas sobre dados e aumento de capital
Entre os temas mais quentes está a possibilidade de compartilhamento de dados com empresas não reguladas. “O dado é do cliente. Com consentimento, ele pode compartilhar com quem quiser. Já temos isso em credenciadoras e banking as a service. O importante é ter transparência e controles”, defende.
O aumento do capital mínimo para ITPs, de R$ 1 milhão para entre R$ 9 e R$ 13 milhões, também preocupa. “Impacta direto os ITPs puros. Entendemos o argumento da segurança, mas precisamos discutir formas de mitigar os efeitos”.
A nova fase da Cumbuca
A Cumbuca, um dos primeiros ITPs puros do Brasil, pivotou de um modelo B2C para atuar como infraestrutura. “Queremos facilitar o acesso ao Open Finance com grau alto de customização. Empresas grandes, que ainda não têm licença, podem testar com a gente e decidir depois se vão tirar a própria”, diz Lino.
Com visão de longo prazo, ele conclui: “Ainda estamos em menos de 1% do impacto que o Open Finance pode gerar. Mas já temos tecnologia, regulação e casos de uso suficientes para transformar esse mercado.”