“Cara, eu sou o abridor de mato da Inswitch no Brasil”, brinca Michel Costa, Country Manager da empresa, em sua participação no Let’s Money Podcast. A definição bem-humorada resume o papel dele na operação local de uma companhia que nasceu com DNA global e hoje atua em mais de 30 países, ajudando fintechs a cruzar fronteiras em um dos setores mais regulados e competitivos do mundo.

Foto: Abner Garcia / Let’s Money
Fundada no Uruguai, mas com CNPJ americano desde o início, a Inswitch foi pioneira em mobile money na América Latina. O Brasil, porém, só entrou no radar em 2019, quando Costa foi convidado a estruturar a presença local. “O Brasil sempre foi visto como um mercado complexo, de outra cultura, outra língua e com barreiras regulatórias. Mas era impossível pensar em América Latina sem incluir o Brasil”, lembra.
Da Getnet à Inswitch: um histórico de disrupções
Michel Costa entrou no mercado financeiro como um dos primeiros funcionários da Getnet. “A gente rompeu o monopólio de bandeiras no Brasil. Ter um POS que aceitasse múltiplas bandeiras foi uma disrupção enorme”, recorda. Depois de empreender e vender sua startup, buscava um projeto que unisse escala global e inovação. Encontrou na Inswitch. “Era a chance de participar de um projeto disruptivo e com visão global. E logo percebi que a empresa tinha esse DNA.”
A chegada coincidiu com uma transição estratégica: entre 2019 e 2021, a Inswitch migrou todas as suas soluções para a nuvem, movimento concluído em plena pandemia. Pouco depois, veio a aquisição pela Transnetwork, uma das maiores empresas de remessas cross-border do mundo, responsável por 60% do fluxo EUA-México. O movimento ampliou a infraestrutura da companhia para atuar em serviços monetários globais.
Uma plataforma modular para crescer sem fronteiras
Atualmente, a Inswitch processa US$ 10 bilhões anuais, com escritórios em 11 países. A proposta é simples e ambiciosa: oferecer a fintechs e empresas tradicionais um único contrato e uma única integração para atuar em múltiplos mercados. “Se eu vou para o México, habilito os métodos locais. No Brasil, adiciono Pix, cartões e débito. É o mesmo contrato, a mesma API. Isso reduz custos, tempo e complexidade”, explica Costa.
O portfólio se divide em quatro blocos principais: pagamentos locais em 37 países; core bancário com wallets multimoeda e até cripto; emissão e processamento de cartões Visa e Mastercard; e serviços financeiros transfronteiriços. A modularidade permite que clientes usem a infraestrutura de forma completa ou parcial, ajustando conforme a necessidade.
Casos como Uber, Binance, Bybit, NVIDIA e Itaú exemplificam esse modelo. No México, a Inswitch viabilizou a carteira de motoristas da Uber. Com a Binance, estruturou cash-in e cash-out no norte da África e o Binance Pay em e-commerces. Já com o Itaú, desenvolveu o Pix no Mundo, que permite a turistas pagarem em reais fora do país.
O diferencial está também na consultoria. “Estamos numa fase de evangelização. Muitas empresas nos procuram sem saber ainda qual país ou qual produto lançar. A gente ajuda a validar o business plan, calcula custo de entrada, analisa concorrência, desenha MVP e coloca no ar em 60 a 90 dias. O cliente testa rápido, gasta pouco e decide se escala ou pivota”, explica.
Os desafios da internacionalização
Operar globalmente exige navegar regulações distintas. “No Brasil, com uma licença você cobre 27 estados. Nos EUA, são 50 licenças só para transmissão de dinheiro, sem contar licenças bancárias. É um processo caro e complexo de manter”, comenta. Por isso, a Inswitch mantém uma equipe de 72 pessoas dedicadas a compliance regulatório global, funcionando como um “tradutor” das legislações locais.
A lógica é simples: a Inswitch cuida da infraestrutura, regulação e tecnologia, enquanto o cliente foca em marketing e aquisição de usuários. “Não adianta ter a melhor rodovia se ninguém trafega nela. Nosso papel é pavimentar a estrada, mas quem traz os carros é o cliente”, resume Costa.
Próximos passos
Para Michel, a onda de pagamentos instantâneos e o crescimento do cross-border commerce vão abrir novas frentes. “Vai chegar o momento em que QR Codes serão interoperáveis globalmente. Bancos brasileiros vão precisar virtualizar o Pix para pagamentos internacionais. Esse é um movimento inevitável”, projeta.
Olhando para o mapa, ele destaca EUA, México, Colômbia, Equador e Argentina como os mercados mais quentes para brasileiros. “O custo continua em reais, mas a receita vem em dólar. Essa equação é irresistível para quem quer crescer”, afirma.
Com humor, Costa volta ao início da conversa: “Ser o abridor de mato da Inswitch no Brasil é lidar com o desconhecido todo dia. Mas é também abrir caminhos para que as fintechs brasileiras e estrangeiras cresçam sem fronteiras.”