
Investir em startups com discurso bonito é fácil; difícil é separar quem faz de quem fala. Gilberto Albuquerque (Kadmotek) aprendeu isso construindo e vendendo. Do balcão do BCN ao comando da Função, que liderou crédito consignado, e depois na Consiga Mais virou investidor que põe a mão na massa. “Tenho investidos que deram errado; tava com red flag. Hoje eu concluí que eu quero pessoas”, crava em entrevista ao “Let’s Money Podcast”.
“O que busco é o brilho nos olhos, sangue no olho. Quem vai dar certo não pensa só em ganhar dinheiro; quer fazer algo diferente e a vontade é insana.”
Investir em startups: foco no nicho e no cliente
A primeira triagem é estratégica. Nicho claro, dor real, expansão adjacente. Sem atalho. “Um nicho dá algo importante: você foca num grupo, daí você cresce e cresce perto desse nicho.” Por isso, ele “namora” as startups antes do cheque: conversa com clientes, observa operação, mede produto e às vezes lê código.
“Startup que dá certo tem que ter sangue nos olhos. Piscina de bolinha é estratégia de P&L; o mundo real é execução.” A régua ficou mais alta com as cicatrizes. Ele investiu na Quadra.trade, de Londres, em pleno inverno cripto, depois de FTX e SVB. “Tudo conspirava contra e ouvi que eu não tinha juízo. Mas a tese fazia sentido: infraestrutura, segurança, governança.”
IA é ferramenta, não pitch
No hype de IA, Gilberto corta o ruído. O playbook: IA no fluxo do time (pesquisa, ideação, prototipagem, QA), curadoria humana e engenharia de prompt séria.
“IA é ferramenta para produto e processo. Se souber usar, vai ter uma mudança geral. Nos próximos cinco anos, a gente não tem ideia da virada.Tem muita gente no gogó. Não existe ‘startup de IA’ para todo mundo; existe usar IA a sério.”
Na Web3, o filtro é o mesmo: utilidade e simplicidade. Ele gosta de soluções que escondem a complexidade do blockchain e resolvem fricções de negócio, como pagamentos em cripto para imóveis com KYC/AML e liquidação em moeda fiduciária.
Checklist direto para founders
Para quem quer investir em startups (ou captar), a cartilha é sem espuma:
“Estude o investidor” — tese, portfólio, conteúdo. Personalize o contato.
“Não tente ser um novo Nubank” — entregue 10x em um recorte claro e escale adjacências.
“Use IA de forma séria” — “é premissa”, diz. Sirva-se dela para pesquisa, síntese, benchmark e desenho de produto, mas não terceirize pensamento.
“Ouça o cliente” — “quem tem que se apaixonar pelo produto é ele. É ele que paga a conta.”
Ambição também tem CEP e câmbio. “Pense global. Esse produto vai pra fora?” Ele compara referências sem romantizar: “O Revolut fez US$ 3 bi de receita; é outro game.” A lição: mercado grande, padrão global, disciplina e execução batem buzzword.
No fim, a tese de Gilberto cabe num quadro branco: gente obcecada + dor real + nicho + processo. Pessoas que medem, corrigem, entregam. Que tratam IA como alavanca, não como slide. Que escutam o cliente e expandem por adjacências. E que entendem que investir em startups é menos sobre palanque e mais sobre operar.
“O pitch pode ser ótimo. Eu prefiro ver o código, o funil, a ligação do cliente. A partir daí, o capital é consequência.”