
No passado recente, os FIDCs eram vistos com desconfiança por boa parte do mercado institucional. Mas essa percepção mudou radicalmente. Atualmente se tornaram centrais na estratégia de financiamento a empresas e a sofisticação da governança, antes um ponto fraco, passou a ser um diferencial. “Era quase uma heresia sugerir FIDC em comitê de alocação de grandes investidores”, lembra Michel Rubin, sócio da M8 Partners.
No Let’s Money Podcast, Rubin compartilhou a Gabriel Pereira sua leitura sobre esse novo ciclo. Segundo ele, a evolução veio de uma combinação de fatores: crescimento do ecossistema de fintechs, apetite dos investidores por retorno descorrelacionado e, principalmente, amadurecimento da estrutura dos fundos.
“Hoje, os FIDCs mais maduros contam com um aparato robusto de monitoramento, auditoria, compliance e análise de crédito, e não devem nada a outras estruturas do mercado de capitais.”
Transição cultural e técnica
Rubin destaca que esse novo momento exigiu uma transformação profunda nas gestoras. “No início, era tudo muito artesanal. Pouca tecnologia, decisões concentradas, ausência de processos formalizados. Com o tempo, fomos migrando para um modelo mais institucional.” Essa transição cultural, segundo ele, é o que está separando os vencedores dos demais.

Para Rubin, o risco está menos na tese do crédito privado e mais na execução. “É um mercado de micro decisões. Você pode ter uma carteira de FIDC que parece ótima no PowerPoint, mas que quebra por problemas operacionais mínimos.”
A chegada dos grandes investidores trouxe exigências novas. “O investidor de hoje quer saber quem é o originador, como é feita a mensuração de risco, quais são os mecanismos de proteção da estrutura. E exige relatórios com granularidade e regularidade.” Isso elevou o patamar das gestoras que desejam captar nesse mercado.
Expansão com cautela
Apesar do crescimento, Rubin é enfático: o ciclo atual não é de euforia. “Não estamos numa fase de expansão acelerada a qualquer custo. Estamos vendo uma seleção natural. Os FIDCs que não investiram em governança e controle estão ficando pelo caminho.”
O futuro, segundo ele, pertence a quem conseguir manter a disciplina mesmo com o aumento do volume. “O desafio agora é escalar sem perder a essência do crédito bem feito.”