Foto: Abner Garcia / Let's Money
Foto: Abner Garcia / Let's Money

Em um setor historicamente movido por relações pessoais e práticas informais, a transformação do fomento comercial no Brasil é uma das histórias silenciosas mais impactantes do sistema financeiro nacional. Hamilton de Brito Júnior, presidente do SINFAC-SP e da ABRAFESC, acompanhou de dentro essa evolução, da factoring tradicional à era da duplicata escritural, marcada pela digitalização, regulação mais robusta e entrada de novos players com pegada tecnológica.

“O empresário de fomento sempre teve o que chamo de ‘instinto de crédito’. Agora, ele soma a isso tecnologia, compliance e governança”, afirma Hamilton de Brito Júnior em bate-papo com Gabriel Pereira no Let’s Money Podcast.

Com décadas de atuação no setor, ele testemunhou — e ajudou a liderar — a transição de um ambiente antes marcado por informalidade e desconfiança para um mercado reconhecido por sua eficiência e solidez.

“Hoje falamos de duplicata escritural, de FIDC regulado pela CVM, de plataformas com inteligência para originar operações. O que antes era chamado de factoring raiz, agora é fomento com estratégia e governança”, resume Hamilton.

Da máquina de escrever à nuvem

O avanço tecnológico é um divisor de águas para o setor. Plataformas digitais reduziram drasticamente a burocracia e os custos operacionais, tornando as empresas de fomento mais competitivas e seguras.

“Trocamos a máquina de escrever pela nuvem. Ganhamos escala, controle e velocidade”, diz.

Esse salto de eficiência também gerou um efeito colateral positivo: o aumento da confiança de grandes empresas, investidores institucionais e do próprio sistema financeiro na indústria de fomento.

A duplicata que virou dados

Entre os marcos dessa transformação está a duplicata escritural. Obrigatória desde 2022, ela digitalizou de vez o principal ativo das operações de fomento.

“Ela profissionalizou a base do nosso mercado. Hoje sabemos exatamente quem emitiu, quem recebeu, quem endossou. E tudo isso registrado em entidades autorizadas pelo Banco Central. Isso traz segurança jurídica e liquidez”, destaca Hamilton.

A formalização e digitalização abriram espaço também para um crescimento expressivo dos FIDCs que agora conseguem acessar com mais clareza e segurança os ativos originados por empresas de fomento.

Profissionalismo e educação

Além da tecnologia, Hamilton aponta outro vetor essencial: a qualificação dos empresários do setor. Ele destaca o papel do SINFAC-SP e da ABRAFESC na capacitação e disseminação de boas práticas. “O fomento precisa ser visto como parte do mercado financeiro. Por isso, exigimos ética, compliance e atualização constante”, afirma.

Nesse cenário, a associação lançou inclusive um MBA em fomento comercial em parceria com instituições de ensino.

Integração com o sistema financeiro

A maturidade do setor também aproximou o fomento das instituições financeiras tradicionais. Bancos e fintechs passaram a ver nas empresas de fomento potenciais parceiras para a originação de crédito e pulverização de risco.

“O banco que antes torcia o nariz para a factoring, hoje quer integrar. E muitas vezes compra as carteiras originadas pelo fomento”, explica Hamilton.

Segundo ele, a sinergia é positiva para todo o ecossistema: as empresas de fomento ganham acesso a funding e os bancos conseguem alcançar um público mais pulverizado com mais eficiência.

Empreendedorismo com impacto local

Outro diferencial do fomento, segundo Hamilton, é sua capilaridade. Com milhares de empresas espalhadas pelo Brasil, o setor consegue atender pequenas e médias empresas em regiões muitas vezes desassistidas pelo sistema bancário tradicional.

“Somos agentes de crédito local. Conhecemos o cliente, o bairro, o fornecedor. Isso gera impacto real na economia da cidade”, afirma.

Próximos passos: dados, IA e regulação

Olhando para o futuro, Hamilton acredita que o setor deve aprofundar a adoção de inteligência artificial, análise de dados e integração com plataformas de registro e crédito. Mas ele destaca também a importância da regulação como aliada no processo.

“Queremos mais regras claras, mais segurança jurídica. Isso é bom para todos: para o empresário, para o investidor e para o tomador de crédito”, conclui.

A nova cara do fomento comercial brasileiro é digital, profissional e integrada ao sistema financeiro. Um setor antes marginalizado, hoje protagonista na agenda de crédito do país.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.