Foto: Abner Garcia / Let's Money
Foto: Abner Garcia / Let's Money

Open Finance deixou de ser tema de nicho para virar motor de inovação. Para Rogério Melfi, cofundador da PilotIn e referência da comunidade, a combinação com a IA cria um novo ciclo: dados viram valor para o usuário, oportunidades saem do papel e contratos inteligentes apontam para uma economia mais fluida e global, como explica no bate-papo com Gabriel Pereira no Let’s Money Podcast.

“Quando eu comecei um grupo de Open Finance, eram três pessoas. Hoje tem mil naquele grupo, mil e vinte e quatro, que é o limite. Hoje você fala ‘daqui a três anos o Banco Central vai fazer alguma coisa’ e a galera quer ouvir, quer entender o que pode ser.”

A trajetória de Melfi ajuda a entender a mudança. Dos meetups de 2016/17 às salas lotadas de hoje, ele viu o interesse por regulação e produto financeiro explodir, impulsionado por uma agenda do BC mais aberta, iterativa e conectada ao mercado.

Open Finance, IA e o próximo salto

A inteligência artificial entrou na pauta não como moda, mas como infraestrutura de produtividade e decisão. Para Melfi, o salto lembra a chegada da própria internet e, no financeiro, o casamento perfeito é IA + dados abertos.

“A gente traz o que já está estabelecido, mas o extremamente quente, o próximo, é IA. Tive uma sensação parecida quando conectei a primeira vez na internet. Quando a gente pega os dados do Open Finance e consegue, com IA, gerar insight real, muda o jogo.”

No dia a dia, o BC tem testado, ajustado e reimplantado regras em ciclos curtos (vide Pix), acelerando aprendizados. Melfi reforça que produto precisa “ler” regulação como oportunidade, não só como obrigação.
“É muito mais ‘joga no mercado, valida e ajusta’ do que esperar a regulação perfeita. Quem é de produto tem que olhar: o que mudou aqui que destrava melhoria ou novo negócio?”

Concorrência e principalidade distribuída

O mapa competitivo também se mexe. BaaS tende a consolidar com regras mais duras; bancos digitais buscam modelo de crédito mais eficiente; e o usuário já opera com múltiplas contas e ofertas.

“O mercado abre e fecha em ondas. Em Banking as a Service deve rolar um funil: alguns vão ser adquiridos, outros ficam. E a ‘principalidade’ vai ser distribuída: dia a dia num lugar, investimento noutro, crédito onde é melhor.”

Do lado do consumidor, a experiência melhorou (Pix que o diga), mas a concentração ainda empurra muita gente a produtos piores. A tarefa agora é ajudar o usuário a usar seus próprios dados para buscar a melhor oferta por necessidade.

“O usuário vai ter múltiplas contas. Vale mais brigar para ter um baita produto, crédito, conta ou investimento, do que tentar ser o melhor em tudo. Principalidade distribuída em três ou quatro relacionamentos faz sentido.”

Como a PilotIn transforma dados do Open Finance

Na PilotIn, a tese é simples: gerar valor para o usuário final fora do ecossistema financeiro tradicional, usando dados com consentimento. A startup funciona como uma “carteira de dados” que processa, enriquece e entrega insights, não extratos brutos, para quem precisa decidir.

“O propósito do PilotIn é conseguir gerar valor pro usuário no compartilhamento de dados. Em vez de papelada, ele compartilha via Open Finance e recebe benefício direto: análise melhor, crédito mais justo, decisão mais rápida.”

Tecnicamente, a PilotIn cruza e categoriza receitas e despesas, trata duplicidades e projeta fluxo de caixa com IA “clássica”; a IA generativa entra na interface: conversa no WhatsApp com o próprio dinheiro e, em breve, um plugin de Excel para puxar saldos e séries já enriquecidos.

“Hoje o usuário bate papo com os dados no WhatsApp e compartilha com parceiros. O Excel vem aí para ligar fórmula direto no back-end. Melhor baixar dado limpo e categorizado do que juntar PDF de cartão e CSV de cada banco.”

Para crédito, e para além dele, o valor está na visão de “filme completo”: recorrência de renda, padrão de gasto, pontuais versus permanentes e comportamento ao longo do tempo. Isso permite avaliar um aluguel, financiar um equipamento médico ou qualificar um inquilino com muito mais precisão.

“Open Finance conta a história inteira: quanto é renda recorrente, como o gasto se distribui, se o aluguel atual é 3 e o novo será 2,5. A alocadora olha e diz: ‘o risco é baixo’. É outra qualidade de decisão.”

No horizonte, Melfi aposta suas fichas na tokenização: dinheiro (stablecoins/CBDC) e ativos (de imóveis a serviços) rodando em smart contracts, com regras automáticas e liquidação nativa.

Quente-quente para os próximos dois a cinco anos é tokenização. Dinheiro e ativos tokenizados, contratos inteligentes executando regras, sem humano conferindo prazo de cancelamento ou multa. Transparência e eficiência embutidas.”

A integração global vem no pacote: pagar um aluguel no Brasil com euro digital convertido para real digital via corretoras, tudo orquestrado por contratos inteligentes. Se o Drex anda mais devagar, a stablecoin acelera casos de uso já hoje.

“Você pode receber em stablecoin, converter para real e deixar o contrato rodar. A economia fica mais fluida e global. O desafio é o ‘quando’: cinco, dez anos? Com ou sem Drex andando na frente, a direção está dada.”

No fim, Melfi volta ao ponto de partida: comunidade, aprendizado e prática. O que sustenta a onda não é buzzword, é gente usando tecnologia para resolver problema real, de ponta a ponta.

“IA é ferramenta, Open Finance é infraestrutura. Quando o dado vira benefício direto para a pessoa, crédito mais justo, menos atrito, decisão melhor, a inovação deixa de ser discurso e vira hábito.”

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.