Foto: Abner Garcia / Let's Money
Foto: Abner Garcia / Let's Money

O Brasil virou vitrine dos pagamentos cross-border. Tamanho de mercado, Pix como marca global e regras que destravam o câmbio criaram um corredor preferencial para marketplaces, payment providers e fintechs estrangeiras. Quem está no centro dessa conversa é o Ouribank, banco com 45 anos de história (ex-Ourinvest) que se reposicionou para oferecer rails locais — Pix, boleto, collection/payout — com cara de tecnologia e solidez de banco. O CPO Pedro Guimarães, em entrevista ao Let’s Money Podcast, resume o fenômeno de um jeito direto:

O Pix virou um grande vendedor. Eles nem sempre entendem a dinâmica da chave ou da jornada, mas o benefício é tão forte que já chegam dizendo: quero entrar e quero fazer com Pix.” — Pedro Guimarães, CPO do Ouribank

Pagamentos cross-border: rota híbrida e sem fricção

O combo brasileiro é difícil de bater: uma das maiores economias do mundo, infraestrutura bancária madura, base de usuários massiva e uma agenda regulatória que fez a ponte com o exterior. Na prática, isso abriu o país para quem deseja vender aqui e também simplificou a vida de quem precisa sair com eficiência. O próprio Pedro reforça o papel dessa base sólida para atrair gigantes internacionais.

Nossa estrutura financeira é sofisticada, melhor do que a de muitos países. A junção do EFX com o Pix viabilizou compras em marketplaces internacionais quase tão simples quanto comprar no Brasil.”

Por trás do letreiro “experiência instantânea”, há engenharia financeira e tecnológica. No exemplo que virou quase trivial para o viajante brasileiro, o “Pix em Miami” tem um core simples para o usuário e robusto para o operador: um intermediário no Brasil recebe os reais via Pix, confirma o crédito na hora e liquida dólares ao vendedor conforme o acordo na hora, D+0 ou D+1.

“Quando o QR Code aparece na tela do vendedor, um intermediário no Brasil recebe os reais via Pix e confirma o crédito instantaneamente. Depois, liquida em dólar no exterior. O IOF incide na conversão ou na saída, via EFX ou conta de não-residente.” — Pedro Guimarães

O Ouribank enxergou cedo esse movimento. A instituição se modernizou sem abrir mão da casca bancária: rebranding, internet banking que vai além do câmbio, prateleira ampliada (Pix, conta, Banking as a Service, crédito, investimentos) e uma rede com mais de 700 correspondentes cambiais.

A tese é clara: quem já tem base PJ no internacional pode aumentar penetração oferecendo mais produtos para o mesmo cliente, com CAC inferior ao de “abrir um banco do zero”. Pedro descreve a mudança de escala e de cultura que acompanha essa virada.

“A partir do rebranding, modernizamos canais, ampliamos prateleira e turbinamos parcerias. Nosso papel é entregar o Brasil (Pix, boleto, coleção/pagamento) a quem precisa operar aqui e simplificar o resto do mundo para quem está aqui.”

Stablecoins: menos intermediários, mais velocidade

Outra peça que ganhou relevância no mapa dos pagamentos cross-border são as stablecoins, ativos digitais indexados 1:1 a uma moeda fiduciária (como o dólar), com lastro em caixa e títulos públicos de curto prazo.

Elas nasceram no cripto como saída rápida da volatilidade (por exemplo, de Bitcoin para “dólar digital”), mas ganharam novo papel ao encurtar cadeias de pagamentos internacionais. Menos intermediários significa menos custo e menos tempo.

“O diferencial das stablecoins é cortar intermediários. Em alguns corredores, você chega mais direto ao destino às vezes pagando em stablecoin, às vezes convertendo no last mile com menos etapas.” — Pedro Guimarães

Se, de um lado, rails tradicionais (SWIFT, SEPA) continuam relevantes, de outro, a combinação “Pix local + stablecoin internacional” passa a resolver um conjunto crescente de casos. O usuário quer rapidez e preço; o negócio quer taxa de conversão e previsibilidade.

Em trechos onde o ecossistema bancário exige múltiplos bancos correspondentes e mensagens que atravessam camadas, a rota on-chain pode ser mais curta.

“Do ponto de vista do usuário, a régua é sempre mais rápido e mais barato. Em muitos casos, a stablecoin entrega as duas coisas.” — Pedro Guimarães

Ainda assim, três freios explicam por que a adoção massiva não aconteceu ontem: regulação, legado e privacidade. Ferramentas de compliance on-chain existem, análise de carteiras, listas de sanções, heurísticas de vínculo, mas faltam respostas oficiais para perguntas críticas (é suficiente? como aferir responsabilidade e penalidade?). Enquanto a norma não sai, grandes instituições hesitam.

“Ferramentas existem, mas a pergunta é se bastam. Sem regra clara, o risco fica com quem opera; por isso os grandes ainda evitam.” — Pedro Guimarães

No plano tecnológico, há o desafio de integrar o “novo trilho” aos mesmos níveis de controle, segurança e governança dos sistemas legados. Isso requer investimento e tempo, sobretudo para bancos incumbentes, cujas camadas de pagamentos, compliance e risco foram calibradas ao longo de décadas.

“Quem já tem infraestrutura pronta precisa incluir o novo trilho sem perder o mesmo nível de escrutínio. É investimento e é jornada.” — Pedro Guimarães

A boa notícia: a regulamentação brasileira de ativos virtuais é esperada para este ano. A partir dela, os grandes players passam a “adicionar” stablecoin ao cardápio, e o mercado sai do “experimento” para produtos escaláveis em produção.

Foto: Abner Garcia / Let’s Money

“Quando a norma sair, veremos os players consolidados adicionando stablecoin. Não é substituição, é complementaridade. Cada pagamento vai usar o rail mais eficiente.” — Pedro Guimarães

Na prática, pessoas físicas tendem a otimizar instantaneidade e preço. Grandes corporações, por sua vez, valorizam controle, garantias e até janelas de callback para valores altos — algo que conversa com contratos inteligentes (o Drex, por exemplo) e condições de liberação.

Resultado: a arquitetura vencedora será híbrida. Pix como confirmação local; stablecoin encurtando o trecho internacional quando fizer sentido; rails tradicionais quando o caso exigir documentação pesada, escrow e callbacks.

“Você não vai fazer um Pix de R$ 200 milhões sem pensar duas vezes. Empresas querem mecanismos de garantia. Em pagamentos B2B, a velocidade é ótima, mas governança pesa.” — Pedro Guimarães

Regulação, legado e privacidade: o tripé da adoção

A agenda do Ouribank conecta esses pontos com pragmatismo. Como banco de DNA empreendedor, a casa se posiciona como ponte entre quem quer vender no Brasil e quem precisa internacionalizar fluxos com eficiência. No palco das feiras globais (Money20/20, entre outras), o Pix virou vitrine, mesmo quem não domina o mecanismo das chaves já entendeu o impacto: bancarização, queda de fricção e aumento de conversão.

“O Brasil puxa a conversa. O Pix bancarizou, reduziu atrito e aumentou conversão. Lá fora, o benefício fala mais alto que a técnica.” — Pedro Guimarães

Isso não significa um “adeus” ao sistema tradicional. Ao contrário: a foto mais realista é a de um roteador de pagamentos que escolhe, transação a transação, o trilho ótimo. No varejo, tickets menores e urgência pedem instantaneidade; no B2B, tickets altos pedem garantias e etapas de conferência, inclusive porque o risco operacional de “um zero a mais” custa caro. Essa escolha dinâmica também considera o corredor (Brasil–EUA não é Brasil–Índia), a disponibilidade de parceiros e o apetite regulatório de cada jurisdição.

Separar hype de tendência ajuda a definir backlog. Tendência sólida: rails se somando. Pix segue como padrão de instantaneidade local; stablecoin entra como trilho internacional quando cortar tempo/custo; SWIFT e SEPA mantêm relevância onde governança pesa mais que velocidade. Hype com pé no chão: “stablecoins vão substituir tudo”. Não vão.

O que veremos é uma malha de rotas inteligentes. E há um vetor que acelera tudo isso: IA aplicada a compliance. Com mais trilhos, dados e jurisdições, as equipes precisarão de ferramentas automáticas para monitorar carteiras, padrões, contrapartes e cruzar sinais on-chain e off-chain.

“A próxima safra de produtos nasce da convergência: cartão + Pix + stablecoin, rails tradicionais com smart contracts para garantias e IA dando escala ao compliance.” — Pedro Guimarães

O que fazer agora

Do lado prático, o que fazer já? Testar como usuário (apps que operam stablecoins e cartões atrelados a cripto) para entender jornadas, taxas e prazos. Mapear corredores onde tempo/custo ainda doem e avaliar se a stablecoin encurta alguma perna.

Preparar o legado com APIs, camadas de orquestração e observabilidade que permitam plugar novos trilhos sem reescrever o core. E, sobretudo, investir em compliance desde o dia zero, ferramentas on-chain, regras claras e playbooks de alerta. Quando a norma sair, quem estiver pronto ganha tempo.

“Com a regulação, a indústria ganha forma e previsibilidade. A transição vai do provar conceito para produtos escaláveis.” — Pedro Guimarães

No fim, pagamentos cross-border deixam de ser um labirinto e viram roteamento inteligente. Caso de uso define o trilho; tecnologia escolhe o caminho mais curto; governança garante o pouso suave. O Brasil não só entrou na conversa global, como passou a puxá-la. O Pix virou referência, a regulação simplificou o acesso e os players querem operar aqui, não por modismo, mas por eficiência.

A foto de hoje não será a de daqui a dois anos. Com a regulação, veremos a entrada dos players consolidados e uma nova leva de produtos que combinam cartão, Pix e stablecoin.” — Pedro Guimarães

É nesse tabuleiro que o Ouribank vem construindo sua vantagem: entregar “Brasil” para quem está lá fora e “mundo” para quem está aqui dentro, alinhando rails e regras para que cada pagamento chegue mais rápido, custe menos e aconteça com a serenidade que o dinheiro exige.

Gabriel Rios

Editor-chefe

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.

Formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, também realizou o curso de Jornalismo Econômico do Estadão. Foi editor do BP Money e repórter do Bahia Notícias.