
Hiperativa e neurodivergente, Ingrid Barth sempre encontrou no empreendedorismo um espaço de estímulos constantes. Depois de fundar o Linker em 2018 e vendê-lo em 2021, ela decidiu voltar ao mercado com um novo desafio: criar a PilotIn, uma empresa que combina Open Finance e inteligência artificial para transformar a análise de crédito no país. A executiva bateu um papo com Gabriel Pereira no Let’s Money Podcast.
“Quando fundei o Linker, não sabia que ia gostar tanto de empreender. Foi uma jornada intensa e rápida, mas que deixou energia de sobra para seguir. Ainda no earn-out, já tinha certeza de que queria voltar a empreender e que o caminho seria o Open Finance, tema que acompanhei de perto no Conselho Deliberativo. E o boom da IA chegou exatamente nesse momento.”
Resultados concretos da PilotIn: números que impressionam
A PilotIn atua em setores não financeiros que oferecem crédito ou produtos financeiros, como varejistas com crediário e revendas de equipamentos médicos. O impacto é imediato: redução de custos, agilidade na decisão de crédito e menor risco de inadimplência.
“Nossos números são reais: reduzimos 80% do tempo do time de crédito em dois meses e meio, cortamos 25% da inadimplência e quase quadruplicamos o faturamento de revendas. Além disso, o ticket médio triplicou e praticamente eliminamos fraude com validação bancária pelo Open Finance.”
Um novo olhar sobre o crédito
Diferente dos bureaus tradicionais, que se concentram em comportamentos negativos, a PilotIn aposta em indicadores positivos, como profissão, fluxo de caixa e hábitos de consumo para ampliar o acesso ao crédito.
“O score no Brasil é muito influenciado pelo histórico negativo. O que trazemos são indicadores de comportamento positivo, que complementam essa análise e ampliam o crédito. Isso valida meu trabalho voluntário de quatro anos pelo Open Finance: bancarizar a população, democratizar o crédito e melhorar a experiência do usuário.”
Modelos de negócio
A PilotIn opera com dois modelos: o primeiro, alugando uma licença de ITP (Initiating Payment Provider) para captar consentimento e dados do Open Finance, aplicando sua IA proprietária; o segundo, oferecendo a IA como serviço para instituições que já possuem acesso aos dados.
“O PilotIn não concorre com o score de crédito. Nosso papel é complementar, ajudando empresas a entenderem seus clientes e darem crédito de forma mais justa e segura.”
Apesar do avanço do Open Finance, ainda há obstáculos. A padronização das descrições de transações varia de banco para banco, o que exige esforço extra das fintechs. Além disso, a montagem de equipes especializadas em machine learning e IA voltadas a dados financeiros é outro gargalo.
“O mais difícil não é integrar ao WhatsApp ou SMS, mas sim estruturar uma máquina inteligente para analisar dados financeiros. Criar bibliotecas de comportamento de consumo e montar times de AI é um desafio enorme, mas é também o que nos diferencia.”
Futuro: interoperabilidade e visão de longo prazo
Para Ingrid, a evolução natural será integrar o Open Finance a outros “Opens”, como os regulados pela CVM e pela Susep, permitindo experiências financeiras completas. A longo prazo, a PilotIn quer se consolidar como uma plataforma robusta de análise comportamental de consumo, com dados anonimizados sendo usados em estratégias de marketing, expansão comercial e mensuração de campanhas.
“No futuro, seremos uma grande ferramenta de análise comportamental. Vamos saber onde estão os maiores consumidores, como gastam, onde vivem e o que buscam. Isso pode guiar desde expansão de franquias até campanhas de marketing. O potencial é imenso.”
Ao olhar para trás, Ingrid deixa um recado claro: sofrer menos e valorizar o aprendizado constante.
“Se pudesse falar com a Ingrid do passado, diria para sofrer menos. Muitas preocupações se mostraram desnecessárias. O que aprendi em projetos voluntários e sem retorno financeiro imediato foi o que abriu portas e trouxe conhecimento real. Tudo que a gente aprende tem serventia — e isso faz toda a diferença.”
Com a PilotIn, Ingrid Barth reafirma sua posição como uma das principais vozes da inovação financeira no Brasil. Apostando em inteligência artificial e no Open Finance, ela mostra que é possível criar crédito mais justo, ágil e democrático e que a disrupção, mais uma vez, vem de dentro do ecossistema de fintechs.