
O Brasil entra em 2025 em um cenário que redefine os rumos da indústria financeira. O PIX, lançado em 2020, deixou de ser apenas um meio de transferência instantânea para se tornar uma verdadeira infraestrutura de pagamentos. Já são 160 milhões de usuários ativos — praticamente todos os adultos — e uma participação de 35% no consumo privado, como destaca Edson Santos, conselheiro, consultor e autor de obras sobre a evolução dos meios de pagamento, a consolidação do PIX é um divisor de águas.
“Nós estamos vivendo um momento de disrupção no Brasil e eu acho que 2025 é o ano da virada. O PIX já atingiu 160 milhões de brasileiros, praticamente 100% da população adulta. Ele produz uma experiência muito mais rápida, instantânea, sem intermediários. Eu, por exemplo, já não saio mais com cartão: só o celular basta“, afirmou Edson Santos durante participação no Let’s Money Podcast.
PIX desafia cartões e acelera a competição
A chegada do PIX reconfigurou o crescimento da indústria. Até poucos anos atrás, os cartões avançavam a taxas médias de 19% ao ano. Atualmente, o ritmo caiu quase pela metade: o crédito cresce cerca de 10%, enquanto o débito já apresenta retração anual. Em apenas quatro anos, o PIX conquistou uma fatia relevante e deve superar os cartões como meio de pagamento dominante até 2028.
Essa mudança é explicada pela saturação do mercado. Mais de 90% do consumo privado brasileiro já é feito por meios digitais. O crescimento, portanto, não virá mais da inclusão de novos consumidores, mas da disputa direta entre os diferentes trilhos de pagamento.
“Continuamos crescendo a dois dígitos em cartões, mas não como antes. O cartão de débito passou a recuar desde a chegada do PIX. Enquanto isso, em apenas quatro anos, o PIX alcançou 35% do consumo privado. Isso mostra a saturação e a disputa direta entre trilhos, em que o crescimento é muito mais orgânico e competitivo.”
Edson Santos
PIX parcelado e o futuro do crédito no varejo
Um dos grandes vetores de disrupção está no crédito. Se no passado o cartão de crédito foi a principal porta de entrada, agora bancos e fintechs começam a oferecer parcelamento direto no PIX. O movimento abre espaço para atender um público de mais de 100 milhões de brasileiros que foram incluídos financeiramente nos últimos anos via contas digitais.
Essa inovação permite formatos mais flexíveis, como pagamentos quinzenais ou semanais, ajustados ao fluxo real de renda do consumidor. O Banco Central já prepara a padronização das regras, incluindo registro de recebíveis, o que deve aumentar a segurança e a liquidez para operações de antecipação.
“Eu já vejo empresas oferecendo crédito diretamente no PIX, para públicos que muitas vezes não tinham acesso ao cartão. Um consumidor pode parcelar em quatro quinzenas sem juros, alinhado ao fluxo real de sua renda. Isso muda completamente a experiência, sobretudo para mais de 100 milhões de brasileiros incluídos financeiramente via conta digital e PIX.”
PIX automático e os pagamentos recorrentes
Outro pilar de transformação é o PIX automático, que deve impactar diretamente os pagamentos recorrentes, como assinaturas, academias e streamings. Hoje, esses gastos somam cerca de R$ 120 bilhões nos cartões de crédito, mas a tendência é que migrem gradualmente para o PIX.
A lógica é simples: para o lojista, a operação fica mais barata; para o cliente, mais simples e transparente. O resultado é um mercado de recorrência que pode adicionar até US$ 30 bilhões em novas transações via PIX nos próximos anos.
“Hoje temos cerca de R$ 120 bilhões em pagamentos recorrentes nos cartões de crédito. Com o PIX automático, esse volume começa a migrar rapidamente, porque é mais barato para o lojista e mais simples para o consumidor. Estimativas já falam em US$ 30 bilhões adicionais de recorrência via PIX nos próximos anos.”
Edson Santos
Inclusão financeira e democratização do crédito
Um dos aspectos mais relevantes da revolução do PIX é a inclusão financeira. Milhões de brasileiros que antes não tinham acesso a serviços bancários agora possuem uma conta digital. Esse histórico de movimentações cria novas possibilidades de concessão de crédito e traz visibilidade a uma camada da população historicamente invisível para o sistema financeiro tradicional.
Na visão de Edson Santos, esse é o verdadeiro impacto transformador: criar um ambiente em que crédito, consumo e digitalização caminham juntos.“O PIX substitui aos poucos o trilho dos cartões. Ele desmaterializou produtos, eliminou intermediários e barateou a operação. Isso é democratização: quanto mais simples e barato, mais inclusivo. Nós já não discutimos se ele é disruptivo; estamos vivendo essa disrupção. O PIX é, de fato, o divisor de águas dos meios de pagamento no Brasil.”
Impactos para bancos, adquirentes e bandeiras
A transformação em curso pressiona todos os players. Adquirentes sofrem com compressão de margens e maior concorrência na antecipação de recebíveis. Bandeiras como Visa e Mastercard já se movem em direção a modelos de pagamentos instantâneos e transações account-to-account. Bancos, por sua vez, buscam adaptar-se oferecendo crédito via PIX, mas com desafios na captura de receitas em um modelo sem intercâmbio.
O que se observa é um movimento de reinvenção: quem antes vivia apenas da intermediação de transações precisa agora agregar serviços de valor, como reconciliação, gestão financeira e soluções integradas para o varejo.
O PIX já resolveu grande parte das dores do varejo, mas o futuro ainda reserva novas camadas de transformação. Stablecoins podem ganhar espaço em transações internacionais, enquanto agentes de inteligência artificial tendem a tornar os pagamentos cada vez mais invisíveis e automáticos, embutidos na jornada de compra.
Essa perspectiva reforça que a disrupção não é um evento pontual, mas um processo contínuo. Para Edson Santos, o desafio das empresas é entender que a lógica do setor foi redesenhada e que as oportunidades estarão em novos modelos de negócio.