Foto: Canva
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Nos últimos meses, tornou-se impossível participar de uma reunião estratégica sem que o tema Inteligência Artificial apareça em algum momento. Das grandes instituições às fintechs em estágio inicial, todas parecem correr contra o tempo para entender o impacto da tecnologia e, principalmente, para encontrar seu lugar nesse novo jogo.

As empresas discutem intensamente o tema: suas infinitas aplicações, os riscos regulatórios e, sobretudo, a ausência de uma governança sólida que garanta segurança e ética nas decisões automatizadas.

Ainda assim, o ritmo das inovações não diminui, pelo contrário, acelera.

E, apesar da sensação de que estamos vivendo o auge do hype, a verdade é que ele está apenas começando. Talvez esse seja o ponto mais fascinante: o sistema financeiro está aprendendo a lidar não apenas com a ferramenta, mas com a governança que precisa acompanhá-la.

Se até aqui o foco foi eficiência e automação, o próximo passo será entregar valor real ao consumidor.

E é exatamente isso que começa a acontecer.

Quando a AI explica o crédito

Um bom exemplo que me chamou atenção recentemente vem do Mercado Pago, que anunciou o uso de inteligência artificial para ajudar clientes a entenderem melhor suas notas de crédito.

O diferencial está na base dessa inovação: o Open Finance.

Em vez de depender apenas dos dados tradicionais de bureaus como Serasa ou Equifax, o modelo analisa um universo muito mais amplo o comportamento financeiro real das pessoas, como elas movimentam, investem e utilizam seus recursos.

Isso muda tudo.

A AI passa a atuar como um tradutor, mostrando de forma mais transparente e pedagógica como o mercado enxerga aquele consumidor.

É o início de uma virada de chave:

  • do dado fechado para o dado compartilhado;
  • da análise opaca para o entendimento mútuo;
  • do score ao insight.

No fim, o crédito deixa de ser apenas uma nota — e se transforma em uma conversa sobre comportamento financeiro.

AI + Open Finance: o novo ciclo de crédito

A combinação AI e Open Finance — está desenhando um novo paradigma global. No Reino Unido, nos Estados Unidos e em países asiáticos como Singapura, startups vêm aplicando modelos de Explainable AI (XAI) para aprimorar decisões de crédito de forma mais transparente.

A ideia é simples e poderosa: o consumidor não deve apenas receber uma nota de crédito, mas entender o porquê dela.

Essa explicabilidade cria um círculo virtuoso: quem compreende seus dados tende a adotar um comportamento financeiro melhor e, com isso, ganha acesso a crédito mais justo.

No fundo, é a inteligência artificial tornando o sistema mais humano.

Para quem quiser se aprofundar, vale conferir o case do governo britânico em parceria com a NVIDIA, que mostra como bancos e plataformas de crédito utilizam o framework SHAP (Shapley Values) para dar transparência às decisões automatizadas — ampliando confiança e auditabilidade no processo.

Entre o hype e a responsabilidade

É importante reconhecer que ainda estamos no início dessa jornada, como destacou Carlos Eduardo Mazzei, CTO do Itaú, durante o AWS Financial Services Symposium Brasil 2025:

“A AI precisa aprender a esquecer.”

Mais do que isso — precisa aprender a ser guiada.

O desafio das instituições será cultural, não apenas tecnológico. Não se trata de substituir decisões humanas, mas de orquestrar os milhares de agentes inteligentes que surgirão, garantindo que cada um atue de forma ética, transparente e responsável.

O hype da AI pode ser barulhento, mas o verdadeiro impacto virá do silêncio estratégico de quem souber usar a tecnologia para amplificar o humano — e não substituí-lo.

Bruno Moura

Bruno Moura possui mais de 16 anos de experiência no mercado de crédito e datatechs, atuando como estrategista em negócios, tecnologia e dados. Apaixonado por ajudar empresas a transformar dados em decisões estratégicas, atua como conselheiro de startups, alinhando visão de futuro e práticas de mercado para gerar resultados concretos e duradouros.

Bruno Moura possui mais de 16 anos de experiência no mercado de crédito e datatechs, atuando como estrategista em negócios, tecnologia e dados. Apaixonado por ajudar empresas a transformar dados em decisões estratégicas, atua como conselheiro de startups, alinhando visão de futuro e práticas de mercado para gerar resultados concretos e duradouros.