
A promessa era simples: proteger quem caiu em golpe no Pix, mas quase quatro anos após a criação do Mecanismo Especial de Devolução (MED), o resultado ainda é frustrante. Dos R$ 17,6 bilhões pedidos de volta pelas vítimas, apenas 8,2% foram efetivamente recuperados, segundo dados obtidos pelo jornal “O Globo”.
Criado em 2021, o MED permite que o cliente conteste uma transação suspeita de fraude no Pix em até 80 dias. Se o banco entender que o caso se encaixa nas regras, o valor é bloqueado na conta do recebedor. A devolução só acontece se as duas instituições envolvidas reconhecerem a fraude. Mesmo assim, a transferência de volta depende de haver saldo disponível na conta.
Entre janeiro de 2022 e junho de 2025, dos 27 milhões de pedidos de investigação, apenas 11,4 milhões foram considerados procedentes. Ou seja: mais da metade foi descartada pelos próprios bancos.
Por que a recuperação é tão baixa nas fraudes com Pix
A primeira barreira é o desconhecimento. Muitos clientes nem sabem que podem acionar o MED. Outros enfrentam canais pouco claros nos apps dos bancos para iniciar o processo. E, quando conseguem, se deparam com uma análise rápida demais: há casos em que a negativa chega em minutos.
A velocidade do Pix também joga contra. Em segundos, o dinheiro pode ser pulverizado em dezenas de contas. Como o MED só rastreia a primeira conta, recuperar valores é uma corrida contra o tempo.
O que muda para combater fraudes no Pix
A partir de 23 de novembro, o Banco Central vai ampliar o alcance do MED. O mecanismo poderá seguir o “caminho do dinheiro” e atingir contas subsequentes, mesmo após a primeira transferência. Já em outubro, os apps precisarão incluir um botão visível para contestação de transações.
Há ainda discussão sobre ampliar o prazo de liquidação em casos suspeitos. A ideia é criar um freio técnico: por exemplo, limitar a movimentação por 30 minutos. Pode parecer pouco, mas é tempo suficiente para frear o golpe.
Em 2025, a média de fraudes no Pix caiu para 5 casos a cada 100 mil transações. Mas enquanto os bancos não agirem com mais rigor, esse número continua sendo pequeno demais para quem já perdeu dinheiro.